Um lugar, nem um lugar no mundo

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- O quê? Cadê... Não... Estava ali... Bem ali! Que lugar é esse? Fica calma Viollet, deve ter alguma explicação lógica para isso. Claro que tem. Você está sonhando ou talvez esteja em coma. É, talvez aquele militar te acertou com alguma coisa e você veio parar em Nárnia. É, foi isso. Ou será que devo chamar isso aqui de país das maravilhas? - Murmurava a garota que estava visivelmente assustada.

A garota resolve explorar o local.  Ela fica perplexa ao ver um rio vermelho como sangue, um pequeno lagarto com asas que parecia de borboleta e no céu o que parecia vários planetas próximos no horizonte, sendo possível os verem girar, mesmo a luz do dia. O sol era na verdade dois, que giravam em sentidos opostos. Mas o que mais encantava era a fauna e a flora jamais vista por ela.

Ela tinha certeza que estava maluca. Porém gostava daquilo, aquele mundo mágico, totalmente improvável que surgiu ao seu redor. Ela se assustou ao ver que sua sombra sumiu e que não havia sombras por ali, tinha certeza que a física não poderia explicar aquilo. Como ela não sentia um calor intenso de dois sóis, ainda mais, como estava viva? É claro, aquilo não é real. Não poderia ser.

Algo começou a ficar estranho quando a noite em fim chegou o mundo se transformou. Não havia mais luz, por sorte ela levou uma lanterna em suas coisas.  No céu não tinha estrelas, a alegria presente com a luz do dia, se transformou em medo. Ela ouviu um barulho.

- Quem está aí? Não se mova! Eu tenho uma arma! - Gritou a garota. - Qual é o seu problema Viollet? É óbvio que não tem ninguém com você em sua cabeça. - Pensou ela.

De repente algo parece passar por ela em alta velocidade, ela não consegue o acompanhar com a lanterna. Então ela desesperada decide começar a correr, mas era difícil enxergar para onde ir com pouca luz.

- Droga! Onde você se meteu Viollet. Não é real, não pode ser! Você não vai querer pagar para ver vai? Então corra... Corra! - Pensou a garota.

A garota corria entre trancos e barrancos, quando de repente algo agarra sua perna e a puxa com violência, ela deixa a lanterna cair e sente uma dor imensa enquanto é arrastada.

- ME LARGA DESGRAÇADO! SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDE, POR FAVOR!

Ela se via em uma situação difícil, não sabia se era real, mas sabia que a dor que ela sentia era bem real. Não parecia haver mais ninguém ali, ela não tinha nem uma chance de sobreviver.

- Será que é mesmo real? Droga você vai morrer Viollet! - Pensou a garota.

- Ei! Larga ela! - Falou uma voz grave e misteriosa.

- Quem? Aí meu Deus! Obrigado...

Um garoto com uma tocha aparece e corre em sua direção, ele luta com o que parecia ser um lobo com chifres. Por um momento ela achou que ele fosse perder, mas ele consegue o golpear com a tocha. O animal ganiu e fugiu.

- Meu Deus, você está bem? - Perguntou o jovem.

- Sim estou, obrigada!

- Não, fique aí! Você está com um machucado feio na perna, não sabemos que tipo de bactérias tem nesse lugar, é melhor cuidar disso logo antes que possa infeccionar. - Disse o jovem misterioso indo em direção a garota.

- Não, eu estou bem!

- Deixa de ser teimosa, me deixa dá uma olhada nisso.

- Sai fora! Não é porque você me salvou que vou deixar tocar em mim. Eu continuo sem saber quem é você, não sei quais as suas intenções em ser tão gentil assim... E afinal, você é médico por um caso?

- Alguém que se arriscou para te salvar já é o suficiente, não? E sim sou médico...  Bem, quase.

A garota após tentar se levantar se desequilibra e cai com muita dor. O garoto então resolve ajudar contra a vontade dela. Com muita relutância e alguns tapas ela o deixa fazer um curativo, cujas coisas necessárias estavam estranhamente nos bolsos do jovem. No momento em que o garoto cuidava de seu ferimento a garota passou a observá-lo.

- Ele até que é bonitinho. Tirando essas roupas estranhas e essa postura.

O garoto usava uma roupa nunca vista pela menina, ela notou uma marca que tinha desaparecido há muito tempo, a marca era: Coca-Cola.

- Ele tem cabelos castanhos e encaracolados, lembrando o cabelo dos anjos. Será que estou no céu? Deixe de ser boba Viollet. No céu não teria cachorros com chifres. Nossa! Ele é alto, deve está na faixa dos 1,80 eu acho. - Pensou a garota.  - Os olhos parecem com os meus. - Ela acabou por pensar em voz alta.

- Olhos de quem?

- Am? É, nada. Me deixa quieta!

- Você tem algum problema comigo?

- Não, te acho bem fofo. - Pensou a garota. - Claro que tenho. Você está fazendo isso contra a minha vontade.

- Estou te ajudando e por sinal nem deveria, já que você não queria e também nem considera o fato de eu ter te salvado.

- Não pedi para você me salvar.

- Quer saber, eu já tenho problemas de mais em minha vida para aturar uma menina mimada e ingrata como você. O curativo está pronto, tchau!

- Ei, para onde você vai? E se o cachorro voltar?

- Você se vira, não é mesmo?

- Eu também tive um dia cheio, me desculpe.

- Por que será que isso me parece interesse?

- Interesse? Olha, eu só acho que fui rude com você e estou me desculpando, se você quiser ir pode ir. De qualquer forma obrigado pelo que você fez por mim.

- Agora sim você me parece alguém que vale a pena ajudar.

- Não vá se acostumar.

- Não vamos passar tanto tempo juntos assim, relaxa.

- Relaxa?

- Sim.

- O que quer dizer com isso?

- Quero dizer relaxa.

- De onde você tirou isso?

- Como assim tirei isso? Todo mundo fala isso.

- Fala não.

- Tá bem então.

Os dois ficaram em silêncio enquanto o garoto pega o que se parecia galhos e faz uma fogueira.

- Como você conseguiu fogo?

- Eu tenho um isqueiro em meus bolsos. Não, eu não fumo.

- Ah, falando em bolsos como você achou essas coisas aqui?

- O quê?

- Não seja idiota! Essas coisas de médico e o isqueiro.

- Isso não é daqui. É meu.

- Então você não é desse lugar?

- Não, você é?

- Eu pareço com alguma dessas criaturas que você viu por aqui?

- Talvez não por fora, mais por dentro...

- O que você disse?

- Ah, nada.

- Então... De que distrito você é?

- Distrito?

- Sim!

- Não conheço nem um “distrito”. Ah você está falando do Distrito Federal?

- Não conheço esse, mas talvez exista.

- Claro que existe! É a capital.

- Capital?

- Sim a capital do Brasil. Você não é do Brasil?

- Brasil? Olha aqui, se você estiver fazendo isso de propósito você vai se ver comigo!

- Fazendo o quê?

- Me confundindo.

- Não estou te confundindo, você que veio com perguntas estranhas sobre distrito.

- Sim, é onde moramos.

- Não onde eu moro.

- Ah é? Então onde você mora?

- Moro em São Paulo capital, no Brasil. E Faço faculdade de medicina na USP.

- Não sei de que buraco você está falando... Não espera... Isso é sério?

- Por que não seria?

- Porque não se chama assim desde a catastrófica erupção do super vulcão em Yellowstone.

- Super o quê?

- Para com isso!

- Com o quê?

- Isso!

- Você é maluca.

- Maluca? Maluca é a sua avó.
O garoto sorriu.

- Que foi?

- Você.

- Rum! Não mude de assunto. Como você não sabe do super vulcão, as pessoas mortas, o mundo às escuras, a falta de comida... Em que mundo você vive para não se lembrar disso?

- Não sei, só sei que não é esse aí não.

- Pensei que você tinha dito que não era daqui.

- Sim, eu não sou.

- Então como você explica isso?

- Explicar o quê? Olha, eu tive um desentendimento com meus pais, saí para tomar um ar e vi alguém ser assaltado. Tentei ajudar, mas eu meio que piorei as coisas para o meu lado. Fui perseguido e o cara acabou com uma arma apontada para minha cabeça, quando de repente vim parar aqui. Eu sou um cara da ciência e não quero aceitar, mas eu acho que ou estamos no céu ou no inferno. E olha, acho que é o inferno.

- Pensei nisso também, mas não quero acreditar.

- Então você estava perto de morrer também?

- Eu não sei, pode ser que sim.

- Como assim?

- Você é muito curioso, sabia?

- Ah, eu que sou? Eu te contei a minha história, por que não poderia me contar a sua?

- Porque eu não estou com vontade.

- Vamos dormir, mas um de cada vez. Como você está machucada e necessita de descanso você dorme por mais tempo, para se recuperar logo.

- Não!

- Não o quê?

- Vamos dormir o mesmo tanto.

- Não seja idiota. Aqui não tem um hospital para caso isso piore. E eu sou o que chega mais perto de um médico e como seu médico te mando descansar.

- Corta essa!

- Então está bem. Eu durmo primeiro.

Entre Dois MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora