O garoto não dormiu de verdade, apenas fingiu. Ele sabia que ela cederia em menos de vinte minutos. Assim que ela dormiu, ele ficou de guarda.
A garota acordou assustada logo cedo, não viu o garoto por perto. Tentou se levantar, mas era inútil ela não estava em condições. O garoto retorna alguns minutos depois com o que parecia ser frutas.
- Bom dia! Pensei que fosse ficar acordada e cobrir a sua parte da vigília. Se dependesse de você estávamos mortos. - Debochou William.
- Eu... É... Cala a boca! - Falou Viollet corando.
- Trouxe comida. - Disse o garoto estendendo a mão cheia de frutas para Viollet.
- Eu não vou comer isso. Como você sabe se não é venenosa?
- Vi os animais daqui comerem, eles não comeriam veneno, certo?
- Sim, mas eu não sou tão burra quanto pareço.
- Ah, você admite que parece?
- Idiota! Eu ia falar que os bichos que vivem aqui são diferentes do mundo real, então as coisas que eles comem podem ser danosas ao nosso organismo.
- Nossa! Estou impressionado. Devia tentar isso mais vezes, fica bonitinha.
- Para com isso! Eu estou falando sério. - Falou a garota, que ficou com as bochechas coradas mais uma vez.
- Isso é verdade. Mas a melhor teoria de onde estamos é que é no inferno, ou seja, estamos mortos, logo não podemos morrer de novo, eu acho. E estou com fome, então avaliar dessa maneira é a única coisa que nos resta se quisermos sobreviver, caso estejamos vivos. E por fim, a ciência é baseada na observação, então vamos experimentar e observar o que acontece, depois vamos escrever isso para futuros aventureiros, como nós.
- Que seja. Eu não vou comer.
- Estava errado.
- Errado sobre o quê?
- Não é essa sua perna que vai te matar, é sua teimosia.
Duas horas depois a garota cede à fome e resolve comer uma das frutas.
- Eca! Que gosto ruim! - Gritou a garota cuspindo o pedaço que colocou na boca.
- Desculpe-me, da próxima vez compre sua passagem na primeira classe com direito a comida japonesa.
- Comida o quê?
- Japonesa. Típica do Japão. É... Nada?
- Não. Você não fala coisa com coisa.
- Você que parece de outro planeta.
- Isso, planeta. De que planeta você é?
- Que pergunta esquisita.
- Responde.
- Sou do planeta Terra.
- Mentira!
- O quê? Você não é da Terra?
- É claro que sou, mas você não é, não pode ser.
- Por que não?
- Porque a Terra não se parece com isso que você disse. Ou pelo menos não mais.
- Isso. Acho que descobri o mistério.
- Ah é? E qual é?
- Eu sou do passado.
- Isso faz sentindo. Assim o vulcão ainda não entrou em erupção, nem teve o meteorito.
- Meteorito? Bom, quase fui atingido em cheio por um fragmento disso.
- Um destruiu tudo que eu tinha por lar e família. Só eu sobrevivi.
- Nossa! Eu sinto muito.
- Também sinto. Eu posso te pedir uma coisa?
- Se eu puder fazer. Me de diga o que é?
- Se... Tipo. Vai parecer loucura, mas se por um a caso a gente voltar, você poderia impedir que errem com o vulcão. Tipo, você pode avisar a NASA que o plano não vai dá certo. Ou se não conseguir, poderia avisar do meteorito. Acho que eles podem não acreditar em você na primeira vez, mas com certeza acreditaram na segunda. Eu agradeceria muito se você fizesse isso por mim. - A garota estava com os olhos cheios d’água.
- Olha, eu gostaria muito de ajudar, eu posso até tentar. Mas ninguém liga para alguém de baixa renda como eu, muito menos a NASA. Então as chances de fracasso nas duas tentativas são altas.
- Mesmo que não dê certo, você tentou.
- Mas afinal, de qual ano você veio?
- 2145.
- Impossível!
- O que foi?
- Eu também.
- Droga! E que bruxaria é essa?
- Também gostaria de saber.
- Ei?
- Sim?
- Se aqui é mesmo o inferno, onde está o demônio?
- Eu não sei.
-Meu Deus Viollet! Será que ele é o demônio? E está fazendo tudo isso para te confundir e machucar. Seria o tipo de coisa que aconteceria no inferno, não? - Pensou a garota.
- Por que está me olhando assim? Não acha que sou o demônio, não é?
- Claro que não, tenho motivos para acreditar que seja?
- Não, acho que para você estou mais para um anjo.
- Lúcifer era um anjo.
- Para com isso ou vamos acabar loucos.
O garoto saiu sozinho mais uma vez, para explorar um pouco mais o lugar em busca de uma saída. Horas mais tarde ele volta e ver Viollet sentada no canto.
- Você está muito no canto e pensativa, espero que ainda não ache que sou o demônio e sim que está, assim como eu, pensando em um jeito de sair daqui. - Falou o garoto, sentando ao lado da garota.
- É claro. - Respondeu Viollet.
- Bom, está escurecendo, precisamos achar outro lugar para passar a noite. Dê-me o isqueiro, caso haja alguma emergência eu vou precisar. - Pediu William, se levantando e limpando o fundo da calça.
- Espera aí, que isqueiro? - Se assustou Viollet, se levantando e fazendo o mesmo que o garoto.
- Como que isqueiro, o que eu usei para acender o fogo ontem.
- E está comigo?
- Eu acredito que sim, já que não está comigo e eu deixei aqui quando fui pegar o que comer pela manhã.
- Eu não peguei.
- E quem pegou?
- Eu não sei!
- Se aquele cachorro do inferno voltar, não vamos ter como nos defender.
- Vamos procurar então.
A noite escura e sombria tomou o lugar e eles não acharam o isqueiro.
- Vamos subir naquela árvore. Rápido! - Disse William, apontando para uma árvore alta.
- É... Eu não consigo. - Disse Viollet, fazendo uma expressão de pavor.
- Como não consegue?
- Eu tenho medo.
- Devia ter mais medo de ficar aí embaixo.
- Olha...
- Shhh...
- Você fez “Shh...” para mim?
- Cala a boca!
- É o quê?
- Você não está ouvindo?
O lugar era tomado por uivos que iam se intensificando.
- Meu Deus! São lobos?
- Eu não sei, mas me diga você. Quer ficar aí embaixo para descobrir?
- Não, mas eu não consigo subir.
- Droga! Vai ficar me devendo mais essa.
O garoto desceu, se agachou, mostrou o ombro para a garota e disse:
- Eu quero que você suba aqui.
- Onde?
- Aqui. - Falou o garoto mostrando mais uma vez o ombro.
- Ai me Deus, cuidado! - Gritou a garota se assustando com um vulto.
O lobo de chifres voltou com reforços e um deles agarrou o garoto pelo ombro e o levou para a parte mais escura.
- Ei? EU VOU MORRER! - A menina se desesperou.
- Se quiser pode morrer, mas você vai sozinha. - Disse o garoto, acedendo uma tocha e golpeando o lobo.
Mas eram muitos para ele lutar, então ele recua para próximo da árvore e da garota.
- Que tipo de coisa você é?
- Como assim?
- Como se salvou?
- Eu achei o isqueiro e estou apenas sobrevivendo.
- Seu ombro... - A garota notou o ombro do garoto sangrando.
- Não fique constatando o óbvio, suba logo aqui.
- Eu não vou pisar no seu ombro machucado.
- Droga! Só está machucado porque você não consegue subir nessa porra de árvore.
- Eu só quero...
- E eu quero viver, você não está ouvindo esses uivos sedentos de sangue?
- Está bem.
- Rápido!
A garota sobe na árvore com muita dificuldade e levando um pouco de tempo o que preocupava e irritava mais o garoto.
- Agora é sua vez sobe.
- Eu já estou... AI!
Um lobo morde a perna do garoto, porém não com tanta precisão e desliza por ela até ficar pendurado mordendo a barra de sua calça. Ele chuta sem cessar a cabeça do lobo, que reluta em soltar.
- Vai mais para cima, rápido!
- Está bem... Não me deixe aqui sozinha.
O garoto sorriu e sumiu na escuridão.
Se passou um bom tempo desde que ela subiu e o barulho de animais lá embaixo continuava constante.
- Será que ele morreu? E agora está sendo devorado por aquelas criaturas infernais. - Se desesperou Viollet.
- Eu já disse que se quiser morrer, vai morrer sozinha. - Respondeu William após alguns segundos de silêncio.
- Seu desgraçado! - Disse a garota dando um abraço apertado no garoto.
- Ai! Tenha cuidado. Espera, você estava chorando?
- Não, óbvio que não, eu nem te conheço direito, nem ao menos sei o seu nome.
- William, não é um prazer, nem uma satisfação te conhecer. E a vossa senhoria, como se chama?
- Viollet, seu idiota.
- Você não estava preocupada?
- Não mesmo.
- Cuidado!
A menina deslizou e ia cair se o garoto não fosse ágil e a segurasse trazendo ela para junto de seu corpo. A respiração da garota era ofegante, ela estava assustada, mas foi se acalmando conforme eles se entreolhavam. Os movimentos se tornavam sincronizados e o rosto deles foram se aproximando cada vez mais...
- O que diabos você está fazendo? - Perguntou Viollet desconfiada.
- Eu? Você que veio... - Tentou argumentar William.
- Cala a boca!
- Não só a minha, mas a sua também.
O garoto deu um beijo doce e lento na garota.
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Entre Dois Mundos
Khoa học viễn tưởngEntre Dois Mundos é um pequeno livro/conto de ficção científica, romance e fantasia. Ele narra a história de dois jovens de mundos e realidades diferentes que se encontram por um acaso e precisam ficar juntos, mesmo inicialmente não se dando bem, pa...