9. Amizade

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Sentimentos. Ok. Ela só precisava ter sentimentos.

Mas como?

Não é que realmente não tivesse. Ela não era um robô. Porém não eram tão extremos ao ponto de desencadear seu potencial bruto.

Será que ela sofria de distúrbios mentais? Psicopatia, talvez?

Era a única explicação para não conseguir com emoção nenhuma. Quer dizer, não devia ser tão difícil dar uma gargalhada ou explodir de raiva.
Devia...?

  Suspirou pesadamente, e franziu a testa para seu armário. Ela definitivamente precisava limpar aquela porcaria. Havia todo tipo de papel amassado e jogado, provas já corrigidas bem lá no fundo, cadernos desorganizados, canetas jogadas.
Deus, aquilo estava imundo.

  Pegou o livro de história, tendo certeza absoluta de que poderia repor o sono perdido na noite passada naquela aula tediosa em que o professor Skelton a odiava. Não conseguiu ao menos pregar o olho pensando em tudo aquilo que ocorreu antes do treinamento.

  Isaac era um inferno mesmo. Porque tinha que ser tão duro?

  Bufou, irritada, e rumou para a sala onde teria uma das matérias mais chatas do mundo. Não que tivesse alguma coisa que realmente a interessasse naquela escola.
MBI era um colégio tóxico, mesquinho e nojento. O único motivo para os pais ricos colocarem seus filhos naquela maldita instituição de ensino era por sua alta aprovação no ducado de Lawdale.

Esbarrou em alguém.

— Desculpe, fantasminha. — Não fazia a menor ideia de quem a garota era. Tinha os olhos azuis e os cabelos cortados estilo joãozinho. Encarou a menina indo embora com um olhar entediado.
Todo mundo a chamava daquele jeito. Já era normal. Provavelmente não sabiam que seu nome era Isobel Coltsdam. Sabiam apenas que era ela a fantasminha.

O mascote do colégio era um fantasma boxeador. Muito idiota, é verdade. Porém os estudantes pareciam adorar aquilo. Não faziam a menor ideia do porquê a coisa que representava a escola era o Gasparzinho, mas todo mundo gostava.
Conclusão: a vida de Izzie havia virado um completo inferno quando Edwin Lünnel, algum popular imbecil do time de basquete, a chamou de fantasminha na frente da escola inteira, bem no refeitório.

" — Foi mal, fantasminha. — Ouviu a risada dele, acompanhada das de outras pessoas também. — É que eu não te vi. Você é tão invisível. — Debochou. As íris azuis gelo em constraste com a pele morena.

O suco de laranja pingava por entre seus cabelos negros, e o ovo finalmente descolou de seu casaco. Ela parecia um banquete prestes a ser servido. A bandeja dele tinha que ter ido parar logo na garota.
Havia sido proposital, ninguém duvida disso, mas tudo o que a pequena fez foi realmente fingir ser um fantasma.

Os olhos opacos lhe deram uma breve encarada, e em seguida saiu andando quieta até a saída do refeitório. A tamanha indiferença dela perante a situação havia feito todos se calarem.
Ela devia ser um robô."

Balançou a cabeça, tentando se esquecer dos anos anteriores ao popular. Para toda a escola, os anos se dividiam entre A.R e D.R - antes de Ryan e depois de Ryan -. Quando o rapaz chegou no primeiro ano do ensino médio e com seu carisma e popularidade implantou a proibição do bullying, tudo era quase uma paz.
Quase. Isso mesmo. Pois haviam criaturas tão ordinariamente patéticas naquele lugar que os populares simplesmente não conseguiam se conter.

Izzie era uma delas.

Entrou na sala praticamente rastejando. As costas corcundas, o cabelo no rosto e as olheiras deixavam medo em alguns adolescentes, que tentavam entender que tipo de aberrarão era aquela.
"Ah, é apenas a fantasminha" Risos e depois conversa normal. Sim, era bem comum a ver que nem um zumbi pelo colégio.

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⏰ Última atualização: Aug 07, 2019 ⏰

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