"Mara"

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Inspirado no filme de terror "Mara".


— Eu a vi, bem alí, sua silhueta no canto do quarto escuro.

— Quem você viu, Taehyung?

— Mara.

— Quem é Mara?

— O demônio do sono. Ela é alta, deve ter uns dois metros, apenas pele e osso, ela anda enquanto seu corpo se contorce. Sua face é absurdamente assustadora.

Os olhos de Taehyung estavam vermelhos e lacrimejando por conta das noites mal dormidas. Seu amigo estava morto e ele era o principal suspeito do assassinato. Eu tentava entender o que se passava com ele, apenas nós dois na sala de interrogações da delegacia, mas estava difícil pois o mesmo dizia que estava sendo perseguido por um demônio, que o fazia ter paralisia do sono e o atacava enquanto estava nesse estado.

— Você precisa acreditar, doutor Namjoon, ela vai me matar e eu não posso fazer nada para escapar, já estou marcado! — com o dedo, Taehyung abriu bem seu olho para me mostrar uma marca vermelha na parte branca de seu olho direito — Essa é a marca dela, estou marcado para morrer.

— Você precisa descansar, Taehyung.

— Eu já disse que não posso dormir profundamente, senão ela me pega! — seus olhos tremiam de medo, enquanto uma lágrima escorregava. — Se você carrega alguma culpa que te consome, provavelmente ela aparecerá para você também.

— Como assim "alguma culpa"?

— Eu já estudei sobre isso, não sou a primeira e nem serei o última vítima de Mara. Houveram inúmeros casos de pessoas que relataram passar pelo mesmo, e todas estão mortas! Mortas, doutor! — Taehyung se alterou, aumentando o tom de voz — Pessoas que carregam a culpa pela morte de outra e ainda não receberam o perdão, serão mortas por esse demônio!

— Você... foi o culpado pela morte de alguém, Taehyung? — perguntei com delicadeza.

Ele respirou fundo, levando um tempo para responder.

— Não era para as coisas terem saído do controle. — Taehyung começou a chorar — Estávamos bêbados e parecíamos invencíveis. Gilbert pulou da ponte e sumiu nas profundezas do rio, esperamos ele voltar para a superfície mas ele... ele não voltou. Eu também incentivei, doutor, eu sou tão estúpido.

Taehyung soluçava em meio ao choro.

— E a morte do seu amigo no quarto? O que mais tem a dizer?

— Ele estava lá e se sentia tão culpado pela morte de Gilbert quanto eu. A Mara o pegou, e agora veio me pegar também.

— Entendo. — olhei para os papéis em minhas mãos, um pouco sem saída — Vá comer algo, enquanto eu vejo umas coisas.

...

— Eu já disse, esse cara é maluco! — dizia o detetive Min Yoongi, que investigava o caso, enquanto andávamos pelo corredor da delegacia — Ele estava lá no quarto na hora que o amigo dele foi morto, ele matou o próprio amigo e agora está colocando a culpa em um demônio. — o detetive riu — É cada coisa.

— Nem sei o que pensar — suspirei.

— Você é o psicólogo aqui, Namjoon, ache alguma coisa. Faça-o confessar. Vai indo pelas brechas até pegar ele de uma vez.

— Ir pelas brechas? — ri.

— Você entendeu.

— Certo.

O assunto era bastante delicado, eu era profissional e sabia como lidar com muitas situações, e eu estava pronto para o que quer que estivesse acontecendo com Kim Taehyung. Eu tinha que ajudá-lo, e o primeiro passo era fazer ele dormir sem se preocupar com nada, o que ele mais estava precisando era de uma noite de sono para colocar a cabeça em ordem.

...

— Estarei aqui com você todo o tempo, ok? Bem aqui nesta poltrona. Tem uma câmera aqui no quarto também. Não precisa ter medo, vou acordá-lo na hora certa, ninguém vai... matar você.

— Você me promete, doutor Namjoon?

— Eu prometo.

Levei Taehyung para o quarto de hóspedes da minha casa para que ele dormisse mais tranquilo, e pedi que a delegacia instalasse uma câmera no quarto para nos monitorar a noite inteira e garantir nossa segurança.

Taehyung assentiu com a cabeça, ainda meio receoso. Pegou a pílula para dormir e a tomou, em seguida deitou-se na cama e, após um longo suspiro, fechou os olhos lentamente. Me acomodei na poltrona ao lado da cama e me embrulhei com o cobertor, peguei o celular e fiquei nas redes sociais.

Quatro horas já haviam se passado e eu estava com os olhos pesados de sono. Eram 10 horas da noite, e eu assistia vídeos aleatórios no Youtube para tentar não dormir. Fui tomar mais um gole de café e então percebi que a caneca já estava vazia, me levantei da poltrona e fui para a cozinha pegar mais café, e na hora em que me virei para voltar para o quarto eu a vi, bem alí, seu corpo esquelético e contorcido de quase 2 metros, sua face assustadoramente deformada. Tentei gritar mas a minha voz não saía, foi então que os meus olhos se abriram abruptamente e percebi que foi apenas um pesadelo, e eu estava agora em meio a uma paralisia do sono sentado na poltrona, eu dormi enquanto vigiava Taehyung e estava desesperado.

Eu prometi à ele que não deixaria nada acontecer. Eu prometi.

Ainda paralisado na poltrona, vi o cobertor branco que cobria Taehyung ser puxado rapidamente por algo invisível, ele continuava em sono profundo. Mara estava alí, e eu não podia fazer nada para pará-la. Observei enquanto ela caminhava até Taehyung e subia em cima de seu corpo, levando suas mãos até o pescoço do mesmo, e apertava com força. As lágrimas escorriam pelos meus olhos, eu estava em pânico sem conseguir me mexer, assistindo tudo.

Não, não, não, não... eu gritava em meus pensamentos. Isso não podia estar acontecendo. Taehyung, também paralisado, parou de tentar respirar e eu pudi ouvir o estalo de seu pescoço caindo para o lado.

Mara começou a andar em minha direção, lentamente, parou com seu rosto perto do meu e soltou um grito assombroso, que me fez acordar e dar um salto da poltrona. Olhei para a cama e lá estava o corpo de Taehyung, e eu não pudi fazer nada para protegê-lo, não cumpri com a minha promessa e sabia que iria me culpar para sempre por isso.

Uma semana depois...

— Há quanto tempo você não tem uma boa noite de sono, Namjoon? — perguntou o detetive Yoongi, enquanto estávamos no banheiro da delegacia.

— Não posso, você sabe.

— Ainda com isso do demônio do sono? — ele riu — Pode dormir em paz, nada vai te acontecer.

— Você viu as gravações, Yoongi! Viu o que aconteceu à Taehyung naquela noite, eu prometi protegê-lo e agora vou morrer igual a ele!

— Aquilo foi realmente bizarro e inexplicável, mas não significa que vai acontecer com você também.

— Taehyung não me desculpou e não quer, eu não tenho o seu perdão. Eu posso ouvir a voz dele na minha cabeça dizendo que eu o deixei morrer — uma lágrima escorreu pelo meu rosto.

— Olha, vai tomar um café, ok? Está precisando.

Yoongi deixou tapinhas em meu ombro antes de sair do banheiro.

Me escarei no espelho, eu estava suado. Meus olhos lacrimejavam e minhas olheiras estavam extremamente aparentes. Levei meu dedo até o meu olho direito e o abri, a marca vermelha estava alí.

Eu estava marcado. E seria a próxima vítima de Mara.

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⏰ Última atualização: Aug 04, 2019 ⏰

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