Capítulo Nove - Layla

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Eu não conseguia sentir os dedos dos pés

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Eu não conseguia sentir os dedos dos pés. Na verdade, nem os das mãos. Se parasse para pensar - coisa que eu definitivamente não conseguia fazer naquele momento - perceberia que nenhuma das extremidades do meu corpo estava sensível.

Mas aquilo não me assustou. Não dei a mínima para o frio que congelava meus ossos ou para o fato de que poderia ficar de cama por dias se não me aquecesse o mais rapidamente possível. O que me assustou quando recobrei a consciência de mim mesma, de verdade, foi o fato de não estar sozinha. Foi o fato de alguém além de Alexia e da minha família ter me visto em meu estado mais frágil, assustado e patético.

Aquilo me aterrorizou, pois eu não era do tipo que deixava as emoções virem à superfície, a não ser, é claro, quando não podia evitar.

Mas agora já era tarde demais para pensar naquilo, era tarde demais para me sentir envergonhada ou com raiva de mim mesma. Cada parte do meu cérebro estava voltada para a única e específica tarefa de abafar os sons da tempestade do lado de fora, se concentrando em qualquer outra coisa para que aquele medo aterrorizante não me tirasse do controle.

Mas era tão difícil...

A cada raio que cruzava o céu, a cada trovão com seu barulho de chacoalhar os ossos, meu corpo se encolhia e as lembranças que eu lutava tanto para evitar voltavam a minha mente com uma clareza surreal, como se eu estivesse lá de novo: na sala da minha antiga casinha em Kingsbarns ou no chão do meu apartamento em St. Andrews, assustada e ensanguentada.

Eu simplesmente não conseguia evitar, e, enquanto o príncipe me levava para algum lugar, eu não consegui conter aquelas lágrimas vergonhosas e acusadoras, que agora não eram mais de desespero, mas de uma tristeza profunda que parecia ter o poder de rasgar a minha alma e despedaçar meu coração.

"Aguente firme, certo?", uma voz disse ao meu lado, grave e carregada de preocupação. Olhei para Steven, que estava completamente encharcado, a roupa grudada no corpo e os cabelos colados na testa, lutando para enxergar a estrada à sua frente ao mesmo tempo em que segurava minha mão na sua com firmeza.

Deus, eu sentia tanto...

Queria me afastar dele, não só por remorso de tudo o que eu estava causando e pela apreensão que sua presença me causava, que era tão mais alto e mais forte do que eu, mas também porque não queria que ele pensasse que eu estava tão vulnerável.

Bem, mas àquela altura isso já não era mais tão importante, não é? Eu não tinha mais orgulho para engolir.

"Onde estamos indo?", perguntei quando percebi que tínhamos feito uma curva em uma estrada estreita, ao leste, bem perto do castelo. Minha voz estava rouca e fraca, mas eu estava cansada demais para tentar soar mais firme. Finalmente me dava conta do frio que invadia meu corpo, não sendo muito aplacado pelo aquecedor do carro.

"O meu trisavô mandou construir uma casa na colina em que se encontra o Palácio Real", Steven contou, parecendo satisfeito por ter algo para falar comigo, levando em conta como seus ombros relaxaram um pouco e sua expressão se suavizou. "Ele... Bem, ele não era muito conhecido por sua paciência, entende? E quando os netos vinham visitá-lo no palácio, ele simplesmente não suportava a barulheira. Então mandou construir uma casa próxima para onde poderia mandar os netos e os sobrinhos quando decidissem visitar Arthenia."

Um Amor Para o Príncipe Herdeiro, livro 1 - Casa ArtheniaOnde histórias criam vida. Descubra agora