O Deus Dos Vivos

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  O som do vento era extasiante. Tão pacífico, tão calmo, a tranquilidade do silêncio e o conforto da grama macia, era abençoada. Aquela grama era estranha, diferente das habituais duras e engasturadas essas eram confortáveis e excepcionalmente relaxantes.

  Rachel abriu os olhos e respirou fundo.

  Espere.... Respirou fundo? Exato, ela mesma havia estranhado aquele momento, sentir o cheiro suave de rosas em suas narinas e o oxigênio entrando pelos seus pulmões não era de fato o que ela esperava.

  Rachel se sentou e olhou ao redor. Onde ela estava? Encarou a água do rio ao seu lado e franziu o cenho da testa, pode ver-se no reflexo da água, estava bela, usando uma maquiagem suave e um vestido negro e longo, que cobria suas pernas por inteiro.

— Não sabia se preferiria preto ou vermelho, chutei arriscar no preto já que na maioria das vezes você vestia essa cor. — Disse uma voz despertando Rachel de seus devaneios que encarou aquele ser. Era um...

— Leão branco... — Respondeu a vampira.

— Perdão aparecer tão tarde, mas eu precisava falar com você Rachel.

  Aquilo tinha de ser brincadeira.

  Tanto que Rachel sorriu. Gargalhou em uma crise interminável de risos, e logo mediante aos risos veio as lágrimas, e então Rachel escondeu seu rosto entre as mãos chorando sem conseguir parar para buscar fôlego.

  O leão não se moveu, deu o momento da vampira de crises e assim que ela se recompôs, Rachel encarou o leão albino.

— Implorei por você durante séculos da minha vida. E somente agora resolve atender o meu chamado? Oh poderoso Deus dos vivos! — Ironizou rindo como se aquela situação fosse uma piada. — Talvez meu pai tenha razão! Sabe, você adora brincar de ser o poderoso chefão quando na verdade não é nada! Não passamos de marionetes plantadas para o divertir! Eu chamei por você! — Gritou apontando o dedo no rosto do leão. — Nunca veio, NUNCA! Ele matou uma criança! E depois que ela morre você aparece? Mas que tipo de Deus é esse que permite tamanha crueldade e não faz nada! — O leão prosseguiu calado e apenas escutando o desabafo da vampira. — Eu era uma boa menina! Eu era feliz embora tivesse uma vida miserável! E hoje? O que eu sou? Sou a porra de um demônio que substituiu Lúcifer! O SEU FILHO! O FILHO QUE A GAROTA QUE VOCÊ ABENÇOOU MATOU! Cadê o grande pai agora!

— JÁ CHEGA! — gritou ecoando aquele lugar e assustando a vampira. O leão tomou agora a forma de um senhor negro de cabelos grisalhos e barba bem feita. Ele se aproximou de Rachel até certo ponto. — Lúcifer, é e sempre será meu filho e eu não o sacrifiquei, eu tentei converte-lo de volta! E Rachel... Eu ouvia você! Sempre! Mas você nunca de fato me deixou entrar no seu coração! Eu segurava seus fardos para que não desabasse! Estava do seu lado o tempo todo!

— Então por que permitiu essa maldição sobre mim?

— Por que... Por que se você não tivesse aqui, Belzebu nunca teria tido iniciativa de caçar os renegados do inferno, e hoje o mundo estaria parcialmente destruído, e Lúcifer estaria reinando! Pois ainda haveria renegados do inferno por aqui! Outra pessoa seria vítima de Elizabeth Bathory e as bruxas entrariam em guerra contra Lúcifer em busca do trono! Você estaria morta e Macayla? Ela não teria nascido. Por que Blake teria se juntado a Lúcifer, já que Lilith não possuiria seu corpo, e Rebecca não teria sido influenciada a descobrir mais sobre o sobrenatural! Você sempre foi a base de tudo nunca percebeu isso? A caça as bruxas somente parou por sua causa! A escola só permaneceu de pé nas mãos de Belzebu, por que ele sabia que você defenderia a filha dele! Rachel Você é a salvação do mundo e não Rebecca! O mundo definitivamente gira em torno de suas escolhas!

  O silêncio pairou. 

— Então... Tudo o que passei desde que fui transformada, foi para que a terra fosse salva?

— Não. Você passou por tudo isso por que eu sei que somente você seria capaz de conter toda as trevas que percorrem nas suas costas. O seu poder é valioso Rachel. Assim como suas escolhas, e eu estou aqui, sempre junto a você, você só precisa me deixar entrar!

  Ela engoliu em seco.

— Não... Não é só isso, tem mais coisas não tem? O que eu faço? Como salvo Macayla? Como salvo Bloodville de um apocalipse vampírico? O que eu faço agora? DIZ PRA MIM!

— Controle-se garota. — Disse ele dessa vez com os olhos brancos e repletos de símbolos impossíveis de serem decifrados por dentro de seu globo ocular, ele estava sério e dessa vez se aproximou de Rachel com o rosto rígido. — Você não está falando com sua amiga. Está ofendendo uma divindade.

— Bom... Pro inferno já estou condenada, então não vejo por que motivo controlar a minha boca.

  Deus estava sorrindo da ousadia de Rachel.

— Deixe-me entrar filha. — Disse ele. — E só então você entenderá o que é de fato estar no meu lugar. — Rachel franziu o cenho e ele abriu os braços em sinal de um abraço sincero.

— Irei conseguir salvar Macayla? — Ele não respondeu, simplesmente prosseguiu com os braços abertos e então sorriu ao tocar seus dedos na região da têmpora de Rachel.

  Naquela mesma hora os olhos da vampira ficaram brancos e repleto de símbolos estranhos cobrindo seu globo ocular. O mundo passou diante dos olhos de Rachel. Tudo de destruição que o livre arbítrio havia causado e o que o não-livre arbítrio também causou.

  Ela viu o mundo como seria se ela não estivesse chegado aonde chegou, pôde ver como seria se Rebecca não tivesse feito o que fez, cada ponto, cada traço do destino se ele tivesse sido desviado.

  Rachel viu como é o sofrimento daquele ser.

  Seus olhos voltaram aos castanhos vibrantes e ela então viu-se diante dele.

— Preciso voltar. Tenho uma luta para terminar...

— Eu sei. — Ele respondeu e ela se aproximou dele tocando levemente em seu rosto, e então o abraçando ainda de testa franzida sem entender o que estava fazendo.

— Eu te aceito, se me aceitar.

  Deus havia sussurrado algo nos ouvidos de Rachel que a fez arregalar os olhos.

— Então eu permito. Deixo você entrar. — Disse ela a ele se acostando nos ombros de Deus que sorriu em retorno.

  Porém os olhos de Rachel, havia voltado a ficar vermelhos.

  E tudo se tornou preto novamente.

  Ela havia voltado, deixando Deus sozinho com sua aparência de um senhor. Ele sorriu ao acariciar a área que Rachel havia se encostado.

— Garota extremamente ousada. — Respondeu ainda sorrindo e tirando sua mão do ombro, mostrando o ferimento das presas da Rainha Alucard que havia drenado o sangue de um ser divino.

  Rachel bebeu do sangue do Deus dos vivos.

  Rachel havia aberto os olhos.

Alucard: O Retorno - Vol 3 - Uma História Renegados Do Inferno Onde histórias criam vida. Descubra agora