❝ Será que o novo é superior ao antigo? O Atual conquistou mais privilégios que o antepassado? Vale a pena estar vivendo o hoje? Talvez só o nosso passado possa nos dar esta resposta. ❞
Um ano atrás, Verônica nunca pensou sair por aí atirando com Blusts por todo o santo lado. Na verdade, seus dias andavam tão reflexivos e à procura de uma verdade a que pudesse se agarrar.
Mal conseguia se imaginar naquele dia. O ano era 2317, e as inseguranças do mundo a faziam extrair os maiores sorvos de drinks que pudesse, estava entretida ao motivo interessante de estar ali, a publicação do seu primeiro livro gerou toda essa festa programada pela editora. O piso parecia sutilmente declarado àquele dia, pois estava desenhado por diversas pinturas artísticas que ressaltavam a cor vermelha, seriam hologramas? Teria sido uma opção mais econômica, mas os quadros elegantes presos às paredes pareciam transmitir a possibilidade de que tudo aquilo era real. As bandeirinhas no teto estavam escritas por "O Fatídico Mundo de Bob", e davam a constante impressão de vibrar em comemoratividade. Haviam muitas pessoas transitando por ali, a maioria formava um seleto grupo de gente que mal conhecia, e ela poderia supôr que eram de uma enorme influência, pois os trajes que usavam eram talvez até mais caros e ricos em detalhes que seu longo vestido social preto. A bebida nas mãos era chamada de "O Coro dos Deuses". Prazeroso nome, não?
Sendo o coro dos deuses ou não, adocicava seus lábios e seu desespero, descia traquéia abaixo com um gosto suave e ardente ao mesmo tempo. De fato, ela precisava da ajuda dos deuses, para tomar coragem e transmitir todas as palavras que transformariam aquele salão em agitações e aplausos.
Subiu o palco, encaixou o microfone para perto de sí, à moda antiga. Seu livro era um dos poucos a ser lançado em papel vivo, raro e palpável por isso, porque sua proposta principal era debater o mundo atual com uma perspectiva antiga.
— Quero agradecer a presença de todos. E com algum prazer, lhes apresentar a história do Fatídico Mundo de Bob — sorriu ela, vendo as pessoas parecerem encantadas com a rusticidade que aquele lugar transpassava, relembrando o século vinte e um. — Acho que este livro tem muito a dizer sobre a fama. Bob sempre quer ela a todo custo, e não liga para o quão se perde em um mundo onde tudo é movido à intelectualidade dos seres humanos, que, embora pareça ser de muito valor, na verdade é vencida repetitivamente pela preguiça, ambição e a fila de prazeres que se apresente.
— Mas, o que se pode dizer sobre a fama? Ela carrega os males do excesso. Traz aos despreparados, um jato de ambição e luxúria. Na verdade, é o que mais estamos acostumados a ter neste mundo. Pessoas ostentam seus celulares de última geração, que com um simples toque, se tornam câmeras potentes ou lanternas que iluminariam o planeta inteiro. Temo, que um dia, não sejam tão limitados e se transformem em pentes para cabelos, as mulheres, principalmente, adorariam, pois possivelmente seria tão melhor ou igual aos outros dois itens. Mas poderia arriscar que o mais engraçado e inconveniente de um aparelho celular, é que, quando desligado, ele reflete a nossa imagem, reflete a nós mesmos, reflete nossas preguiças, defeitos, esses que não podem ser apagados por um programa de design, refletem toda a banalização que o mundo tecnológico nos trouxe. E provavelmente, este fato seja tão aterrorizante e gritante, que fique difícil assumir que o fazemos, e tomamos todas estas atitudes. E vem a fama. A vontade de se mostrar ao mundo, de provar que se há um diferencial para sobressair-se à frente dos demais. Esta é a fama, e instintivamente, ela se diz muito sobre o que somos, e também o que temos. Pois, aquilo que não é da melhor e mais tenra qualidade, jamais será o que chamará a atenção em uma ponte de seres alienados com o próximo robô que irão comprar na liquidação, esquecendo-se do que são, para responder a um motivo sólido e fixado em seus cérebros: a fama.
O longo discurso foi respondido por uma série de aplausos e assobios. O salão se tornou um estardalhaço assim que a mulher desceu do palco, sorridente, se dirigiu ao bar. Sentou-se na cadeira alta e tamborilou os dedinhos no balcão, sua felicidade podia ser sentida de longe, em gratidão ao drink que tomou, pediu um semelhante. Ao erguer a taça banhada pelo Coro dos Deuses, fora interrompida.
— Foi um bom discurso — comentou a voz ao seu lado.
Se tratava de um homem alto e bonito, sentado à outra cadeira, sua taça estava repousada ao colo, e a bebida ao fim. Era moreno, parecia tão vaidoso, a ponto dela ter a impressão dos fios de seu cabelo preto estarem reluzentes. O homem ajustou a gravata, estendeu a mão em direção à dama e tornou a dizer:
— Prazer, Jon.
Ela o cumprimentou e se apresentou, a primeira troca de olhares foi peculiar.
— Agora, tenho noção das razões para ter discursado tão bem — sorriu ele, desviando os olhares à taça.
Ela retribuiu o sorriso. Era verdade.
— Vejo que você compartilha o mesmo bom gosto em sua taça.Com uma risadinha abafada, Jon ergueu a mão com um breve aceno e o garçom serviu-o o mesmo drinque.
— Certamente, isso merece um brinde — sugeriu ele, movendo o tronco para a direção da senhorita.
Verônica abanou a cabeça, com uma risadinha.
— Ao Coro dos Deuses — bradou ele, erguendo o braço.
— Ah! — interrompeu a mulher, sem tomar a mesma ação. — Anseava por um pedido mais criativo.
— Compreendo — respondeu o homem, com uma seriedade cômica. — Aos novos tempos!
Desta vez, a aprovação foi rápida, as taças se colidiram ao ar e seus olhares se encontraram.
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Jon Greeves - A História de um Babaca do Século 23
FantasyO brasileiro Jon é o homem mais rico do mundo. Surpreendentemente é bilionário em ignorância e nasceu com o poder da sorte. Por conta de um infortúnio, a máfia virá atrás dele para vingar um velho amigo. Os únicos parceiros com que Jon poderá cont...