Razões

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❝ Cara ou coroa? De qual lado a moeda cairá? ❞

O dia seguinte foi mais calmo. À companhia de Verônica, Jon se sentiu triste, finalmente tudo que a disse, havia se concretizado. O mundo já o cobrava muito, mas, agora, a máfia era outro fator que pesava com força na balança. Estar com ela, poderia representar perigo para o futuro dela. Naquela noite, eles dormiram agarrados, ao conforto do próprio calor. Quando ela conseguiu tranquilizar a consciência, o disse então:

— Você não pode fazer essa escolha por mim. Eu que decido a minha própria vida e quero estar ao seu lado.

Isso o fez ter um sono demorado e mais reflexivo. Aquelas palavras o surpreenderam. É verdade, ele não tinha o direito de afastar ela por conta dos seus problemas, já fazia tanto tempo que viviam dessa forma. No entanto, aceitar o que ela disse, era considerar que ela poderia morrer ao seu lado se nada saísse como o planejado. Será que essa era a escolha real dela? Estar com ele, mesmo se ela morrer? Jon não conseguia considerar isso, não queria colocá-la em risco, e se aceitasse o que ela disse, se tudo saísse errado, ele poderia ter um arrependimento maior do que todos os outros que carrega em sua vida. O que faria? Ele preferiu não ter respostas para isso, mas, como um dos capangas a viu, deveria levá-la com ele para a lua, até as coisas esfriarem, mesmo que isso pudesse comprometer seu plano. Ao menos, ele podia contar com uma coisa, Verônica sabia atirar e usar um blust — é uma arma que costuma ser cinzenta, fina e longa, com o benefício de uma mira capaz de sensoriar movimentos, apesar dessa vantagem, o tiro depende da pontaria do dono e demora a carregar, porque se trata de um feixe vermelho e largo mortal. —, nem mesmo Jon manejava um blust tão bem quanto ela, pois ela sabia utilizar a arma de forma estratégica, pelo menos no Guerra Simulator, jogo em que os dois eram viciados e era baseado em confrontos bélicos.

Os pássaros pipilaram e o sol surgiu anunciando o começo de um novo dia. Para Jon, significava o início das suas preocupações e motivo de sua ansiedade latejar por todo o corpo. Viajar para lua, sempre o fazia se sentir em uma gaiola gigante, mas o maior problema era o medo do que aconteceria antes de pousarem lá.

Abraçados e vigiados por Astro, eles irromperam a Mini 800, sentaram-se nos assentos e com o encaixe dos cintos, a nave engrenou e invadiu os céus à toda velocidade. Astro adicionou um comando de voz que transformou-a em invisível, este era mais um truque das máquinas da El Patron.

A viagem seguiu um percurso ameno, e talvez Greeves estivesse se sentindo preso por não ter tempo para aprontar alguma piadinha de mal gosto com alguém. O homem estava calado por uma das poucas vezes na vida, sua mente deveria realmente estar em um turbilhão.

Dez minutos depois chegaram à uma estação espacial da UANAEA em Nova York, dentre o catálogo de viagens, as mais famosas eram para Marte, Kepler-1638b — do qual Jon, pouco gostava por conta das diversas horas até chegar ao planeta. — e para a Lua. Uma espaçonave isolada de negócios para a El Patron Tecnology estava disponível e a tripulação foi meticulosamente selecionada para o dia.

A espaçonave que iria transportá-los era a B-17800, conhecida mundialmente pela estética e tamanho, além da facilidade em ser pilotada, era uma nave larga e ladeada por vidros blindados da coloração castor, possuía um sistema de vôo rápido e um reconhecimento de voz diferente dos demais modelos do mercado, já que a máquina poderia ser senciente em quesitos básicos e alarmantes. Entretanto, a opção mais tradicional era a C-900, um modelo mais antigo, que poupava conceitos complexos e focava na confortabilidade e velocidade.

Enfim, se depararam diante à enorme B-17800, uma rampa se esticou e ao subirem ela, estavam direto na nave, o clima parecia suave e bem refrigerado, havia uma extensa fileira de assentos, que seguiam pelo corredor branco da nave.
 
Greeves estalou os dedos três vezes e as cores se reverteram do branco para o vermelho e preto, o vidro blindado os dava a visão de toda a estação, as pessoas se moviam com malas, de formas aceleradas, outros andavam com seus robôs de Geração 3.0, que auxiliavam na condução de malas e caminhos  —, estes, tinham o corpo humano metalizado e podiam ser utilizados para serviços domésticos e armazenamentos de dados. Greeves se deu conta de que muitos astronautas transitavam por lá, e outras raças estavam presentes nas plataformas. A mais recente a fazer contato com a humanidade, foi a Centaurian, seres esverdeados de médio porte, com uma estrutura corporal parecida à humana, porém, as fendas dos olhos pretas e a capacidade intelectual maior, assim, como o poder de comunicação mental. A aliança deu certo, e o maior choque social para a humanidade foi que os boatos diziam que a líder Centaurian, Yabsik, possa ser a mulher mais inteligente de todo o mundo. Bom, certamente, os garotões da NASA devem ter se apaixonado, e nutrido gratidão por cuidarem dos relacionamentos inter galácticos.

Jon Greeves - A História de um Babaca do Século 23Onde histórias criam vida. Descubra agora