Um Plano

13 6 5
                                    

❝ A coragem é a raridade do homem, e por isso a covardia é seu manto mais sagrado. ❞

Duas horas após a apresentação acabar, Jon surgiu às pressas.

— Demorou, hein — debochou Beagle. — Normalmente você não se atrasa.

— Eu vi sua apresentação —  ignorou Jon, retirando do bolso, um celular que abruptamente se transformou em uma espécie de tablet e projetou as imagens do discurso de Beagle. — Belas palavras, só esqueceu que nestas "estações espaciais" da UANAEA, habitam pessoas com um nível de pobreza extremo, que sequer foram trazidas a um Continente.

— Se recriei as minhas falas, é porque alguém fugiu do roteiro — retorquiu Beagle, cruzando os braços. — Jon, se quisesse mesmo se importar com essas pessoas, você mesmo teria ajudado elas.

— Tentei ajudá-las, você sabe, Beagle. E todas foram enviadas para a parte mais pobre de Nova York. Mesmo depois de abrir abrigos nos melhores locais, elas tinham algo em comum. Sempre respondiam a isso dizendo que a culpa de precisarem disso, era da tecnolgia, da El Patron, e se negavam a receber auxílio.

— Bom, não se esqueça de que seu público não se encaixa nos povos baixos. Você se comporta como eles, vive fugindo da modernidade e dos próprios benefícios que sua empresa criou, e por quê? — perguntou-o, os olhos pretos demonstrando insatisfação.

— São pessoas, pobres. Não deveriam ser conhecidos por "povos baixos". Você se parece mais com um pato do que com um humano, dado este fato, é aceitável que pense como a maioria — riu Jon, quebrando o clima de seriedade. — Não tenho tempo para discussões. Aconteceu algo grave e o fato de eu não estar sempre rodeado por tecnologia é que talvez, só talvez, ela não seja tão necessária.

— Comentários bem-vindos de um humano que mal conhece a sí mesmo e não admite essa trágica realidade — criticou Beagle em resposta. — E eu sou uma gaivota, seu merda!

— Com essa cara de Pato Donalds você não engana a ninguém — caçoou Jon. — Escute, tenho algo urgente a dizer, antes que fique retrucando "quaquaqua" para todo canto.

Beagle fez uma expressão de convencimento e soltou da mão uma miniatura de sofá no tapete. A miniatura tomou vida e virou um sofá de verdade no qual o homem-gaivota se sentou e falou:
— Diga, "chefe".

— Se eu soubesse que águias eram tão rebeldes, teria mandado recriarem um cachorro para ser meu braço direito... — resmungou Greeves, o tablet voltando definitivamente a ser um celular que foi guardado no bolso. — Fui atacado pela máfia.

— Bom, é sério que a máfia quer assunto com o homem mais rico do mundo? — indagou Beagle com um tom cético seguido de risadinhas. — Suponho que essa pessoa deve ser bem poderosa para isso.

Greeves o encarou e abriu um sorriso torto.
— Finalmente alguém que me entende.

Mas Beagle o olhou com uma cara que expressava "isso é sério?".

— É verdade — confirmou Jon, suspirando, enquanto observava um robô da Geração 2.0 aspirar o tapete com uma abertura da mão metálica. — Preciso que fique no controle por um tempo. Vou viajar para a lua assim que der. Acredito que eles não me seguirão para lá, pois, bem, os mafiosos que quase me mataram, utilizavam armas velhas e datadas do século 21.

— Você também faz isso, esses brinquedos são mais baratos do que um robô da Geração 1.0 — riu Beagle, apontando para o revolver escondido na cintura de Jon. — Estar no controle? Vou gostar. Se vai viajar para a lua, é porque tem um plano em mente, certo?

Os droids da Geração 1.0 são sempre um alvo de piadas por se tratarem da versão mais frágil e falha que a raça humana já produziu, eles são limitados a alguma função específica e geralmente tem falas repetidas. São o estereótipo de lata-velha, até por serem literalmente só de metal e terem tamanhos de máquinas.

— Particularmente, são bem mais estilosas que essas clasteres que atiram de um lado para o outro com aqueles feixes, que ardem para cacete! — retrucou Jon, andando até a entrada do salão, onde o céu mostrava resquícios de um entardecer. — Eu não vou fugir desta guerra. Apenas reconhecerei o inimigo e o matarei. Eles jamais serão perdoados por insultar Jon Greeves.

Beagle levantou-se do sofá e ele voltou a ser uma miniatura. Apertou a mão de Greeves e disse:
— Se queria que eu me assegurasse de deixar tudo em ordem, conseguiu, vou garantir que não existam problemas nesta ausência.

— É temporário, mas se quiser sair por aí com um óculos escuro e uma imponência de patrão, vou permitir — alertou Greeves, indo até onde dois carros espaciais estavam estacionados, tinham um formato achatado e eram quase lisos por baixo, contando com "pés" para pouso e ambos possuiam espécies de rodas nas laterais da parte superior que pareciam ter "ventiladores" no centro, e espécies de turbinas nas costas.

— É temporário, mas se quiser sair por aí com um óculos escuro e uma imponência de patrão, vou permitir — alertou Greeves, indo até onde dois carros espaciais estavam estacionados, tinham um formato achatado e eram quase lisos por baixo, contando ...

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Jon enfiou o dedo anelar em uma cavidade que ficava próxima à porta do carro, e em reconhecimento a suas digitais, a porta do volante abriu e dobrou para o alto. Ele olhou para trás, onde Beagle estava, e anunciou, prestes a adentrar o carro:
— Se esses italianos querem um tiro na bunda, é o que terão.

O carro espacial irrompeu os céus em alta velocidade e se tornou um pequeno feixe de luz nos olhos negros de Beagle.

Jon Greeves - A História de um Babaca do Século 23Onde histórias criam vida. Descubra agora