Quando chegamos ao restaurante, nos sentamos e pedimos nossos pratos. O lugar era bonito, nada muito sofisticado. Nós estávamos na janela, olhei para o lado de fora e depois voltei a fita-lo.
– Ahn, posso ter um nome falso? – Perguntei, receosa.
– Como quiser.
– É que nem todo mundo sabe sobre esse meu lado, quero que continue assim.
– Se não quer que ninguém saiba por que quis trabalhar nesta área?
– É sufocante mentir para todo mundo o tempo todo. – Suspiro.
– Entendo.
– Mesmo? – Ironizei.
– Não julgue as pessoas assim.
– Desculpe. – Dei de ombros.
– Sem problemas.
O garçon trouxe nossos pratos e os colocou sobre a mesa, nós agradecemos e ele saiu.
– Gosta do que faz?
– Do que? – Tomei um gole do suco.
– Seu talento.
– Não chamaria de talento, e sim de maldição. – Sorri triste.
– Por que?
– Não quero falar sobre isso agora, tudo bem para você?
– Tudo bem. – Falou, calmo.
Assenti, comecei a comer meu almoço. Seu telefone tocou e ele pediu licença, indo para o lado de fora. Não que isso me impedisse de ouvir. Era seu irmão, Lucky. Ele estava a caminho, vinha passar um tempo com o irmão. Adam disse que não, que era para ele ficar onde estava, mas Lucky insistiu e acabou vencendo. Disse que chegaria amanhã. Adam se despediu e desligou. Paro de fita-lo imediatamente.
Ele entrou e sentou-se novamente.
– Acho que não preciso dizer quem era, já que prestou atenção em toda a conversa. – Falou normalmente. Tossi, o que? Que droga. – Não é a única que tem habilidades aqui. – Falou sem fitar-me.
– Sinto muito. – Murmurei envergonhada.
– Não é educado, espero que não aconteça de novo.
– Não vai. – Garanti.
– Amanhã vou apresentar-lhe o Lucky. Ele pode não ser muito agradável, devo avisar
– Sem problemas.
– Não vão se ver muito. – Afirmou.
Ele diz tudo de uma forma tão autoritária, tão convicta, como se ele soubesse o que vai acontecer.
– Preciso ir pada casa. – Falei.
– Tudo bem. Nos vemos amanhã.
– Certo.
Sem comprimentos, sem toques, apenas um balançar de cabeça foi o suficiente para eu me virar e ir embora. Ele não fazia o tipo simpático.
Caminhei ate o ponto de ônibus e sentei-me no banco, esperando.
Assim que cheguei, abri a porta. Joguei a bolsa no chão, entrei em meu quarto e joguei-me na cama.
Acho que Adam é frio demais para ser chefe de alguém, duro de mais. Parece páranoico, certinho de mais. Uma pessoa intimidadora, que quer estar sempre no controle de tudo.
Deve estar se perguntando por que eu vou trabalhar com o que eu julgo ser uma maldição. Simples, eu tenho habilidades, e preciso usa-las em algum lugar, tenho que começar a aceitar como eu sou agora, preciso gastar energia. E o outro motivo é que fui despedida do último emprego por quase agredir um cliente chato, quase.
Levantei-me e fui até a varanda. Acendi um cigarro e levei-o ate os lábios. Decidi que vou aprimorar minhas habilidades, praticar mais. Desenvolver alguma coisa, não sei.
DIA SEGUINTE
Abri meus olhos lentamente para poder me acostumar com a claridade, pisquei mais vezes e suspirei. Rolei na cama e um cinco minutos depois levantei. Fui até o banheiro, e fiz minha higiene matinal. Voltei para o quarto e caminhei até o closet, escolhi uma roupa normal, mas apresentável para o primeiro dia de trabalho, e arrumei o cabelo. Peguei um bolsa e joguei tudo o que precisava dentro.
Fui até a cozinha, abri a geladeira a procura de algo para comer. Acabei optando por fazer torradas. Peguei o necessário e preparei, coloquei na torradeira e esperei.
Megan saiu do quarto coçando os olhos e fui ate mim.
– Bom dia, Aly.
– Bom dia, Meg. – Sorri.
– Estou tao acostumada a acordar primeiro que ver você aqui é estranho. – Riu.
– Verdade. – Apoiei os braços no balcão.
– Qual o motivo para a donzela acordar tao cedo? – O que e bom dura pouco. Meg pegou um copo e despejou o suco.
– Vou começar a trabalhar.
– Hum... – Tomou um gole do suco.
– Não sei que horas eu volto, não me espere.
– Não vou. – Sorriu maliciosa.
– Qual é o cara dessa vez?
– Sabe o Rick?
– Qual deles? – Perguntei, retirando as torradas da torradeira.
– Aquele cara gato que trabalha no starbucks aqui da rua.
– Ele é bonito. – Dei de ombros.
– Eu sei, só volto amanhã, ta?
– Ta. – Balancei a cabeça em negação, sorrindo.
– Eu vou tomar banho. – Assenti, enfiando um pedaço da torrada na boca.
– Eu vou comer. – Falei de boca cheia.
– Que nojo! – Ri.
Terminei de comer, guardei as coisas, escovei os dentes e fui. Passei na cafeteria, comprei um capuccino e peguei o ônibus. Desci um tempo depois e caminhei até a porta da loja, li a placa "fechado" e bufei, como ele é pontual. Sentei em um dos bancos que tinham ali, e esperei.
Isso me fez lembrar de ontem, no ônibus. A forma com que ele mudou de tarado maníaco para totalmente correto e sério. As pessoas mudam, mas não achei que mudassem em um período de cinco minutos. Ele era estranho. Por dentro estou torcendo para que o irmão dele seja mais legal que ele.
Foi o tempo de eu pensar nele para ele aparecer. Seria estranho, se minha vida toda já não fosse estranha.
Observei Adam sair do carro, acompanhado de um cara, bonito. Tinha cabelos negros, batiam um pouco abaixo das orelhas, pele bem branquinha, de estatura alta, olhos de um verde hipnotizante, dentes tão brancos que quase dava para ver seu reflexo.
Caminharam até mim, ou ate a loja, e pararam.
– Lucky, esta é Alyssa. – Adam apresentou. Uau, esse é o Lucky que Adam não queria que viesse? O mesmo Lucky que não vou ver muito, de acordo com as palavras de Adam?
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A Bruxa
RandomO que faria se tivesse uma vida cheia de julgamentos, cheia de duvidas e incertezas? Com várias pessoas em cima de você. Em um mundo em que a maioria das pessoas te chamam de "bruxa" sem provas? Se eu sou grossa, ignorante, fumo, bebo e faço todo o...