Palestra

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Depois de alguns minutos, que foram divididos pelos jovens entre milkshakes e conversas, Noah estava inquieto em seu banco.

—Que foi, Noah? Tem formiga na bunda? — Sina pergunta, fazendo Urrea revirar os olhos e os outros dois jovens rirem.

—Eu tenho que ir encontrar meu pai na igreja agora. — O moreno fez um bico.

—Então vai, ué.

—Mas eu não quero, aqui 'tá tão legal.

—A gente pode ir com você, se quiser. — Josh dá a ideia, que não foi recebida muito bem pelas garotas.

—Daquela igreja eu passo longe! — Sina fala e Heyoon concorda, enquanto Josh franze a testa, desentendido.

—O pai do Noah, ele é, digamos... — Heyoon tenta achar as palavras certas, mas é interrompida pela namorada.

—Um homofóbico de merda! Mas você pode ir, se quiser. Eu e Heyoon temos que ir para casa mesmo.

—Bom, por mim tudo bem. Pode ser, Noah? — Josh encara o moreno por alguns segundos, até ouvir sua resposta.

—Tudo bem.

Os jovens se despedem e cada dupla segue seu caminho. Durante todo o trajeto, que não era muito grande, Noah foi explicando para Josh como era a vida em Orange County. O canadense se encantou por tudo que estava sendo dito, estava feliz por ter feito amigos tão atenciosos. Mas ele não aguentou a curiosidade e teve que perguntar:

—Noah. — Chamou a atenção do moreno, que logo se virou para ele. — Sobre o seu pai... você é como ele?

—Como assim?

—Você sabe, conservador.

—Não, claro que não! — O garoto ri, fazendo Josh acompanhá-lo.— Eu sou evangélico, assim como toda a minha família, mas eu não acredito em tudo que a nossa religião prega. E eu também acho muita coisa que meu pai faz e fala, errado.

Aquilo fez um alívio percorrer pelo corpo de Josh. Um dos seus maiores medos em se mudar para um lugar novo era como as pessoas iriam reagir em relação a sua sexualidade. Desde que Beauchamp descobriu ser bissexual, ele nunca escondeu isso dos amigos e da família, mas agora tudo era diferente.

—Que bom, fico aliviado.

—Nossa, também não é como se eu fosse um monstro. — Noah se finge de ofendido, o que faz Josh rir.

—Na verdade, eu tenho medo. — O loiro afirma sério, fazendo Noah se preocupar.

—Medo de que?

—De como as pessoas irão reagir quando eu contar que...

—Noah! — Uma voz masculina interrompeu a fala de Josh, fazendo os dois jovens se virarem em direção à ela. — Que bom que você veio, e vejo que trouxe um amigo!

—Oi pai. — Noah fala, um pouco incomodado. — Esse é o Joshua, ele é novo na cidade. Na verdade, ele é do Canadá. — Josh sorri, tímido, apertando a mão do Sr. Urrea.

—Do Canadá? Eu ouvi falar que lá é um país muito liberal, você não é um desses viadinhos que fuma, né?

—Uh, não. — Josh fala, abaixando a cabeça, enquanto Noah geme em desaprovação.

—Pai, por favor, a gente já conversou sobre isso.

—Ora Noah, eu sei que você é um bom menino que gosta de protejer à todos, mas você tem que começar a entender o que é certo e errado. Mas por favor, entrem que a palestra vai começar.

O homem se virou, entrando na igreja e deixando os dois garotos sozinhos.

—Eu vou entender se você quiser voltar para casa agora.

—E te deixar aqui sozinho ouvindo essas merdas? Não, obrigado. Eu fico.

Noah sorri, abraçando Josh de lado, e assim os dois entram na igreja.

Após meia hora ouvindo as bobagens que Mark Urrea proferia, Noah pôde perceber que Josh estava desconfortável. Ele sabia que não podia sair no meio das palestras do seu pai, mas ele não deixaria seu novo amigo ouvindo aquelas coisas

—Vamos. — Noah sussurrou no ouvido do loiro, pegando em sua mão e o arrastando para fora da igreja.

—O que foi isso? — Josh fala afobado, já que os garotos haviam corrido dois quarteirões.

—Eu percebi que você não estava confortável com a situação. Ninguém é obrigado a ouvir aquilo.

—Nem você, sabia? — Beauchamp acaricia a bochecha do garoto à sua frente, mas Noah logo quebra o contato.

—Eu sei. Olha, sobre o que você estava me dizendo antes do meu pai nos interromper, está tudo bem você ser gay.

—O que? Eu não sou gay, o que eu queria dizer era que... — Josh olha para os dois lados e logo sussurra. — ... eu matei alguém.

Urrea arregalou os olhos e deu um passo para trás. Ele estava assustado e não sabia como reagir. Como assim um garoto meigo e gentil como Josh havia matado alguém? Noah realmente deveria rever suas concepções sobre fazer amigos no meio da rua.

—Meu Deus, Noah! — Josh começa a rir da reação do garoto. — Eu 'tava brincando, tonto. Eu sou bissexual.

Noah coloca sua mão sob seu tórax e respira profundamente.

—Você quase me matou do coração, sabia? Nunca mais faça isso!

Josh continuava rindo do moreno, que o abraçou de lado.

—Vamos, eu vou te levar para casa.

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