Bernardo

10.3K 784 39
                                    

APENAS ALGUNS CAPÍTULOS DISPONÍVEIS PARA DEGUSTAÇÃO.

Havia um roxo na minha testa e minha mão sangrava. Quando cheguei ao castelo todos se assustaram e tive que explicar que fui assaltado. Não foi uma mentira, já que basicamente era o que havia acontecido. Todos estavam perplexos que alguém houvesse tido a audácia de assaltar o príncipe, mas eu apenas sorria. Nunca tinha visto tanta valentia, nem mesmo nos soldados do meu pai. Vindo de uma mulher e ainda por cima tão jovem, eu não me decidia entre achá-la tola ou muito corajosa. Deixei que cuidassem dos meus ferimentos e mandei chamar Gordon.

Ele adentrou meu quarto já com um sorriso maroto no rosto.

— Assaltado, Alteza? Sequer consigo imaginar isso.

Sorri de volta.

— Nem queira. Mas não quero falar sobre isso, quero que descubra tudo sobre as terras de Barselhes. Estive lá hoje e me parece muito com a descrição feita pelo Rato, nosso ouro pode estar lá.

Vi o brilho que tomou seus olhos e seu sorriso se alargou ainda mais.

— Com certeza, irei começar a investigação ainda hoje.

Mal dormi naquela noite, a imagem da longa trança dourada e daqueles olhos tão verdes ficavam voltando à minha mente. Quem seria aquela tola corajosa que não sabia quem eu era e que me enfrentara? Logo afastei esses pensamentos, eu não tinha tempo para pensar em mulheres perigosas, tinha um casamento para impedir e uma mina de ouro para encontrar.


Na manhã seguinte, mamãe falava animada sobre o baile de máscaras que em breve seria anunciado ao reino. Nesse baile, eu teria que escolher uma esposa, a futura princesa, a jovem sortuda que entraria para a realeza e seria amada e admirada por todas as demais e todo esse conto de fadas, porém eu não queria me casar. Tinha apenas vinte e três anos, beleza e dinheiro para gastar, muitas mulheres para conhecer e muitas coisas para aprender. Não queria me casar naquele momento, talvez não quisesse me casar nunca. Se eu encontrasse o ouro do Rato, daria uma parte a Gordon e sumiria no mundo com o resto. Talvez fosse para o Brasil, praia, carnaval, futebol. Ou talvez para o Havaí, surfe, belas ondas. Qualquer lugar longe desse vilarejo parado no tempo e, principalmente, de uma esposa.


À tarde dispensei os guardas e fui buscar meu cavalo. Entrei tranquilamente em Barselhes, era fácil entrar pela vila dos arrendatários se estivesse vestido como um deles. Subi as colinas até alcançar a macieira. Ela brilhava em seu tamanho e seus frutos verdes e frescos. Olhei em volta e não avistei a garota do dia anterior, nem seu cavalo negro. Apenas Trovão estava ali, pastando tranquilamente. Esperei por meia hora, comendo as melhores maçãs que já havia experimentado, nem as maçãs importadas do reino eram tão boas, e nem sinal da garota. Eu não estava ali para encontrar mulheres, estava ali para achar a tal gruta. Montei em Trovão e fui galopando à procura da gruta. A terra era muito grande e o sol estava a pino de forma que tinha a impressão que não avançava em nada em minha procura.

Quando estava prestes a desistir, ouvi o barulho de água. Morrendo de sede, aproximei-me e desci do cavalo, avistei então uma cachoeira, mas o que prendeu minha atenção foi o que estava dentro dela. Flutuando apenas com roupas íntimas, ela era a coisa mais linda que eu já havia visto. Seu cabelo louro estava em volta de sua cabeça como uma coroa, seu corpo tinhas curvas perfeitas, os seios arredondados, nem grandes, nem pequenos, mas do tamanho perfeito. Ela cantava e sua voz fez tudo em meu corpo ganhar vida. Aproximei-me mais um pouco para enxergar com mais clareza, com uma mulher assim, eu não me importaria em arrumar uma princesa. Se ela estivesse no baile, eu a escolheria e me casaria com ela sem pensar duas vezes. Em busca de identificá-la, peguei as roupas espalhadas pela grama e, quando avistei uma calça, um colete e uma blusa larga demais para aquele corpo delgado, soube imediatamente quem era a beleza na água. Rapidamente juntei todas as roupas e me posicionei longe o bastante para ela não acertar água em mim, e perto o bastante para que ela me ouvisse, pigarreei e disse:

— Então você é uma menina, afinal.

Ela se assustou com minha voz, afogando-se. Pouco depois emergiu na água tossindo e limpou os olhos, fixou os grandes olhos verdes em mim e sua expressão fechou totalmente.

— Ora, seu imbecil! O que quer aqui?

— Não precisa ser tão agressiva. — Estiquei as roupas para que ela as visse. — Só vim te entregar isso.

Seu olhar passeou pela grama e ao ver que suas roupas não estavam mais lá, xingou um palavrão que me assustou. As damas dessa vila esquecida pelo mundo ainda eram tratadas como se vivêssemos séculos atrás. Eram tantas regras e decoro, que uma jovem de boca tão suja era uma deliciosa surpresa.

— Devolva a porcaria das minhas roupas! — ordenou irritada.

— Claro, querida, venha pegar.

Estiquei novamente as roupas em sua direção, como se fosse devolvê-las. Ela fez menção de sair da água, mas se lembrou que estava seminua e se abaixou na água de novo, escondendo o corpo.

— Jogue as roupas para mim — pediu baixinho.

— Como? Não ouvi direito.

— As roupas! Jogue-as para mim!

Tombei a cabeça de lado com uma careta que a fez revirar os olhos.

— Por favor, — falou mais alto — jogue as roupas que você nem devia ter pego para mim.

— Educada, é assim que eu gosto. — Fingi jogar as roupas, ela levantou os braços para recebê-las, então fingi mudar de ideia. — Nada disso, você tem que vir pegá-las.

— Seu pervertido! Safado! Pilantra!

— Por que está com raiva? Estou disposto a entregar a você as roupas se vier até aqui para pegá-las. Se está com pudor por estar seminua, não se preocupe, eu fiquei um bom tempo admirando cada curva do seu corpo enquanto flutuava pela água. Já vi tudo, tudo mesmo. Bem, menos o que está escondido por baixo da sua roupa íntima, é claro, mas se quiser me mostrar isso saiba que não vou me opor.

Percebi que seu rosto ficou vermelho e ela xingou mais três palavrões. Tive que dar uma gargalhada, ela se vestia como homem, xingava como homem, mas era a mulher mais linda daquele reino sem graça.

— Eu não vou sair da água enquanto você não jogar minhas roupas — respondeu decidida.

— Que pena! Porque eu estou de partida — expliquei jogando as roupas sobre os ombros, deixando claro que as levaria comigo.

— Você não se atreveria!

— Vou te dar uma última chance. Venha aqui pegar suas roupas.

— Qual é o seu problema? Nunca viu uma mulher seminua antes?

— Linda como você, não.

Até eu me assustei com minha sinceridade e ela ficou desconsertada, mostrando que não estava acostumada a receber elogios. Negou com a cabeça e respondeu firmemente:

— Pois eu prefiro ir embora nua do que me mostrar para você.

— Seja feita a sua vontade — respondi.

E por mais que eu quisesse ficar ali, observando-a por um bom tempo, tinha um encontro com Gordon e precisava ir. Subi no cavalo com as roupas em mãos e cavalguei para um pouco mais longe. Então desci do cavalo e me escondi, esperando o momento em que ela sairia da água para que eu pudesse admirar seu corpo. Ela ficou na água ainda por mais alguns minutos olhando para todos os lados. Depois fez um barulho estranho com a boca, como um pássaro grasnando. Pouco depois, ouvi o barulho de um cavalo e o mesmo homem que a levou no dia anterior, aproximou-se da cachoeira. Ao vê-la seminua, ele corou, e eu podia ver o desejo em sua expressão. A garota valente tinha um admirador. Ele tirou a camisa puída que usava e jogou para ela. Ela saiu da água e vestiu rapidamente a camisa, mas deu tempo de seu admirador e eu admirarmos seu corpo. Depois ela subiu no cavalo dele, e ele a levou dali. E então eu xinguei um milhão de palavrões, quem era aquele cara em quem ela confiava tanto?

Desencantados - COMPLETO ATÉ 11/01/23Onde histórias criam vida. Descubra agora