Bernardo

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Quando voltei para a sala de jantar, tudo o que queria era mandar aquela mulher horrível para a forca. Quem tratava assim os empregados? As mãos da garota estavam machucadas e ela estava doente por minha causa. E aquela velha ainda a castigou por isso. Mas eu não podia fazer minha vontade naquele momento. Estava ali com um objetivo e iria até o final por ele. Com o melhor sorriso que pude voltei à mesa e retomei o jantar, deixando claro que a situação com a sopa não tinha sido nada. Não queria que ela fizesse mais nada contra a garota, e nem que a atirasse em um poço. Olhei novamente em volta da mesa, onde apenas as filhas dela estavam sentadas. Nem sinal da tal Elise. Primeiro, eu tinha que garantir que a garota não sofresse mais castigos. 

Vou mandar hoje mesmo o médico do castelo para examiná-la.

Ela arregalou os olhos e seu rosto assumiu um tom vermelho.

— Não é necessário, Alteza, ainda mais depois do que ela lhe fez. Ela está bem.

— Não, não está. Um médico virá examiná-la e não se fala mais nisso! Também percebi que as mãos dela estão muito machucadas, sabe me dizer o que aconteceu?

Ela gaguejou, mas disse:

— Ela é uma desastrada. Na certa, cortou as mãos enquanto fazia uma de suas tolices.

Concordei. E acrescentei para deixar claro que ela não poderia castigar a criada.

— Os criados em meu castelo são muito bem tratados, como membros da família. E me alegra ver o mesmo tratamento nas casas em que frequento.

— Claro, com certeza. Os criados em minha casa também são muito bem tratados, não tenha dúvidas! — ela garantiu imediatamente, caindo em meu plano.

— Ótimo!

Depois da tensão que se seguiu, sorri e isso pareceu acalmá-la. Então perguntei:

— Soube que tem uma enteada, senhora. Elise. Não a vi aqui esta noite.

Ela pareceu em choque e as filhas a encararam temerosas, então sua expressão tornou-se triste e disse em tom choroso:

— A pequena Elise morreu pouco depois do pai. Não aguentou a tristeza, sabe?

— Entendo. Meus sentimentos.

Alguma coisa não se encaixava, Gordon teria descoberto a morte da menina em suas investigações, ela não podia estar morta. O olhar de assombro que as filhas lançaram para a mãe me ajudaram a confirmar isso. Ela estava mentindo. Devia manter a enteada escondida em algum lugar para usufruir de suas terras. E eu precisava descobrir onde ela estava escondida.

Assim que o interminável jantar acabou, esperei que a garota viesse retirar a mesa, para vê-la mais um pouco, mas ela não apareceu. Quando fomos para a sala de estar uma das filhas dela, uma jovem bonita, se pendurou em meu braço e continuou falando futilidades. Assim que me acomodei na exagerada poltrona laranja, fui o mais direto possível.

— Perdoe minha indelicadeza, senhora, mas será que poderíamos falar a sós?

Lancei meu melhor olhar para ela, que corou imediatamente e ordenou que as filhas subissem. Uma aborrecida Clarisse se despediu de mim com uma careta e uma curiosa Carmine também. Percebi que das duas ela era a mais esperta. Assim que as meninas se retiraram, rapidamente me sentei perto de Bárbara, fugindo da poltrona de abóbora. Ela pareceu surpresa com meu gesto, mas não relutante, e não perdi tempo.

— O motivo da minha visita é que não consigo tirar a senhora da cabeça, madame.

Ela corou mais ainda e arquejou.

— E quando o senhor me viu, Alteza?

Droga.

— Na vila. E desde então não tiro a senhora da cabeça.

Ela pareceu confusa e percebi que cometi um erro. Ela não devia ser o tipo e mulher que ia até a vila. Mas, como esperei, ela deixou isso para lá e voltou sua atenção toda para mim.

— A senhora sabe que estou para me casar, mas não me interesso por essas meninas do reino. Gosto de mulheres maduras, experientes.

A mulher já gemia sem eu estar nem mesmo tocando-a. Ela seria uma presa fácil. Aproveitando a deixa aproximei-me mais um pouco e a beijei. Ela se assustou de início, mas logo correspondeu. Agarrou meus cabelos e praticamente me puxou para cima de seu corpo. Sim, essa estava há muito tempo sem um homem. Quando eu estava ficando sem ar, me afastei.

— Então — disse enquanto mordiscava seu pescoço. — Conte sobre as terras de Barselhes.

Ela gemeu de novo.

— Eram do meu falecido marido.

— Eram?

— Agora são minhas. Me foram deixadas em testamento.

Ela estava mentindo. Mas eu teria tempo para descobrir mais sobre elas, no momento queria apenas tirar o atraso da viúva fogosa.

Desencantados - COMPLETO ATÉ 11/01/23Onde histórias criam vida. Descubra agora