APENAS ALGUNS CAPÍTULOS DISPONÍVEIS PARA DEGUSTAÇÃO.
Cheguei em casa molhada e espirrando. Por culpa daquele maldito! Se eu descobrisse quem ele era juro que arrancaria seus olhos com flechas! Marlee nem fez perguntas ao me ver chegar com um blusão e toda molhada, mandou que eu me trocasse rápido e fosse servir o jantar. Acho que não falei sobre a minha vida, aí vai. Meu nome é Elise, tenho vinte anos, não conheci minha mãe, mas tive um pai que amei muito.Um dia meu pai se casou com a Bárbara, e junto com ela vieram suas filhas, Clarisse, a insuportável. E Carmine, a menos insuportável. Poucos anos depois de se casar, meu pai desapareceu e foi dado como morto. Deixou um testamento deixando a casa e uma boa grana para Bárbara e suas filhas. E para mim, deixou o que eu mais queria: as terras de Barselhes. Essas terras pertenceram a minha mãe, são a única herança deixada por ela, a única parte dela que conheci. São enormes, possuem árvores de todos os tipos, a melhores maçãs do mundo, de uma única macieira, e uma cachoeira em que praticamente cresci. Há os arrendatários das terras, homens que plantam, cuidam do cultivo e vivem dele. Eles pagam aluguel por morarem nas terras, e esse dinheiro deveria ser meu até eu completar vinte e um anos e assumir as terras, mas claro que minha madrasta não me dava um centavo. Ao invés disso, ficava ali passando, servindo e limpando,como se fosse uma empregada dela, . Mas isso estava acabando, só faltava um ano e eu seria livre.
Naquela noite, Bárbara estava mais agitada que o normal. Ela e Clarisse discutiam, enquanto Carmine só comia, que era o que ela mais fazia.
— Estou dizendo, Clarisse, você precisa de vestidos novos. Haverá um baile onde o príncipe Bernardo vai escolher uma esposa, você tem que ser a princesa do reino!
Os olhos da minha meia-irmã bruxa brilharam.
— Isso seria esplêndido! — respondeu cantarolando desafinada e recebeu uma reprimenda da mãe por isso.
As duas continuaram conversando e eu calada, enquanto retirava o jantar, ouvi tudo o que falavam, sobre o baile de máscaras, que vestidos estavam na moda, como ela deveria se portar diante do príncipe. Não aguentava mais aquelas baboseiras. Eu não iria querer me casar com um príncipe tão sem personalidade, que escolhe uma princesa em um baile à fantasia, só porque a tradição dita assim. E se a mulher for uma maluca? E se ela for chata? Cheia de manias? Se for uma Clarisse, por exemplo? Deus me livre passar o resto da vida sendo marido de alguém como Clarisse. Só mesmo um homem muito sem noção se casaria com uma completa estranha encontrada em um reino atrasado como esse. É sério, eu soube pelas cartas da minha amiga Patricie, que nos outros reinos existe uma coisa chamada internet, que através de algo chamado computador, liga todo mundo em todos os lugares a todas as coisas. Ela disse que até faz compras por essa tal internet. E nós aqui do reino sequer sabemos o que é um computador. E o príncipe era viajado, conhecia outros países, outras culturas e vinha procurar uma esposa justo aqui? Para mim era claro que ele queria uma mulher simples e bobinha que aceitasse ser subordinada, ele queria uma criada. Não sei para o que, se já tinha tantas.
Quando estava deixando a sala de jantar, com tudo empilhado na bandeja, como só eu sabia fazer, espirrei e derrubei tudo. Foi prataria para um lado, taças para o outro e o barulho de vidro se quebrando em mil pedacinhos só foi superado pelo grito da minha madrasta. Bárbara levantou-se imediatamente e a passos largos se aproximou de mim aos gritos:
— Sua estúpida! Veja o que fez! Saiba que cada pedacinho de vidro quebrado vai ser descontado do seu salário!
— Eu não tenho salário.
— Vai pagar do mesmo jeito!
Eu queria mandá-la para diversos lugares, mas me contive. Abaixada enquanto catava os cacos, fiquei ouvindo seus resmungos constantes, até que ela disse:
— Se não tem salário para pagar por isso, irei descontar em suas terras. Vou transferir um pedaço de terra para o meu nome.
Larguei os cacos todos de volta no chão e me levantei imediatamente.
— A senhora não pode fazer isso!
— Claro que posso! Eu sou a tutora legal dos seus bens, Elise, e posso fazer o que eu quiser com aquelas malditas terras. Pise na bola mais uma vez e quando completar vinte e um anos não restará terra para você herdar.
Bruxa! Bruxa! Bruxa! Por que um raio não caía na cabeça dela e a partia em duas? Não ia fazer falta nenhuma! Me abaixei e voltei a juntar os cacos, quando Bárbara se abaixou ao meu lado e segurou minha mão, apertando-a em punho com os cacos de vidro dentro.
— Nunca mais levante a voz para mim, mocinha. E se eu ouvir você espirrando de novo, irei trancá-la no porão. Minha filha não vai ficar gripada duas semanas antes do baile. Entendeu?
Assenti tentando controlar as lágrimas que escorriam pela dor, e quando ela soltou minha mão, sangue pingava no tapete.
— Limpe tudo. Amanhã quando eu acordar não quero ver sequer a sombra de sangue nesse chão.
Ela chamou as filhas e Carmine até queria me ajudar, mas ela arrastou a menina pela orelha escada acima. Marlee e as outras criadas vieram então ajudar-me a recolher os cacos.
— Pobrezinha! Aquela bruxa! Não chore, Elise, vamos cuidar de tudo — disse Marlee.
Ela me arrastou até a cozinha enquanto as meninas limpavam a sala de jantar. Eu queria voltar e fazer meu serviço, mas ela não permitiu e foi então cuidar dos novos cortes que eu tinha conseguido naquela noite.
Nos dias que se seguiram tive problemas, porque eu havia mesmo pegado um resfriado e espirrava o dia todo. Três dias depois do acontecido, minha mão quase não doía, mas eu ainda estava muito gripada. Foi quando Bárbara recebeu um recado e ficou radiante. Ela saiu aos berros pela cozinha procurando todos os criados existentes naquela casa.
— Vocês todos, quero essa casa um brinco, pois hoje o Príncipe Bernardo vem para jantar!
Era só o que me faltava! Ela não pegou leve com ninguém, queria as coisas mais limpas do que estavam, o que era impossível. Deu ordens o dia todo na cozinha e quando a noite caiu, foi se emperiquitar. Eu não sabia o que o príncipe ia fazer ali, jantando na casa de uma mulher simples, mas ela estava crente que ele havia se interessado por Clarisse. Bem que podia ser mesmo verdade assim se casaria com ela e a levaria para longe desta casa, mas em contrapartida, Deus que nos livrasse ter Clarisse como princesa.
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Desencantados - COMPLETO ATÉ 11/01/23
RomancePLÁGIO É CRIME! OBRA REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL. É PROIBIDA A DISTRIBUIÇÃO OU CÓPIA DE QUALQUER PARTE DESSA OBRA SEM O CONSENTIMENTO DO AUTOR! Conheça um príncipe nada honesto e uma princesa nada delicada. A jovem Elise é feita escrava de sua...