A primeira semana naquele local carregava a tremenda má sorte que me cercava todos os dias. A chuva começou por volta das 17h da tarde do mesmo dia que cheguei, logo após eu criar coragem de desarrumar minhas malas depois de um longo dia enfiado no quarto. A noite foi repleta de ansiedades e horas até pegar no sono e assim sucederam todas as demais. A chuva enfim parou sete dias após minha chegada. A casa em si já não era digna de expectativas ao primeiro olhar, então ao entrar não esperava menos do que eu vi. Uma sala de estar pouco preenchida e úmida, com estofados brancos já amarelados, uma lareira média e um carpete cinza segurando a umidade de percorrer as madeiras barulhentas do chão. O ambiente era organizado e limpo, mas era notável a ausência de pessoas habitando constantemente naquele lugar. Eu conhecia bem um ambiente vazio, pois via muitos quartos desocupados em meu hotel. Claro que eles eram de última geração, lindos e na moda. Podia dizer através de suficientes evidências que aquela casa não possuía mais de um morador. Durante aquela primeira semana, ninguém se fez presente. Apenas eu em minha própria companhia tentando escapar do barulho dos cortadores de grama e dos tratores circulando ao lado de fora. Para minha surpresa, o primeiro andar não era apenas um sótão. Lá havia também um pequeno quarto inabitado e uma sala de leitura bastante humilde com alguns livros organizados em uma estante de metal. A porta do quarto estava trancada, então não pude visualizar o que poderia conter na peça, mas a “biblioteca” era bastante limpa, e talvez o local mais claro da casa. Recebia luz externa diretamente, pela abertura da janela e também por uma pequena abertura de vidro no teto do imóvel, já criado com este intuito eu supunha. Meu quarto era no térreo, logo á esquerda da sala de estar, e logo atrás tinhamos a cozinha. A geladeira estava devidamente preenchida com diversos alimentos orgânicos que precisei me empenhar para ingerir. Felizmente o morador que cuidava da casa e cozinhava chegaria dentro de dez dias. O único banheiro surpreendentemente ficava em um canto reservado fora da casa, então era preciso sair pelos fundos e dar cinco passos na escuridão para poder usá-lo. Posteriormente descobri que era o mesmo banheiro utilizado pelos trabalhadores do lote. Apesar dessas desavenças, a casa era bastante limpa e organizada. Cheirava a grama cortada e, após uma semana, ao repentino perfume de flores, algo muito bem recebido pelos meus sentidos que imaginavam o odor de fezes de cavalos e vacas, mas não tão bem apreciado pelas minhas doenças respiratórias.Como meus primeiros seis dias haviam sido um desastre, resolvi me permitir pisar no lado de fora novamente, dessa vez não para ir ao banheiro. Ao sair pela porta da frente, foquei meus olhos em uma figura borrada e escura que vinha em minha direção contra o sol. Espremi os olhos para adivinhar qual dos fazendeiros se aproximava naquela manhã ensolarada, quando o sujeito se encontrava já em pé há dois passos de mim.
– Bom dia pra ti! – Ele estendia a mão à frente do seu peito e sorria atrevido. Era difícil estar presente de corpo e alma naquele momento de sonolência após uma noite mal dormida, mas o sotaque era a principal característica do jovem.
– O que? Desculpa, não entendi. – Falei focando pela primeira vez em seu rosto. Havia ali um jovem meio palmo mais baixo, com um sorriso seguro estampado e cheirando a suor.
– Eu disse BOM. DIA.! – Ele repetiu freneticamente cutucando meu ombro ao ritmo de cada palavra que expelia. Sorria ainda cada vez mais convencido e comecei a sentir-me incomodado com tamanha exuberância.
– Ah sim, bom dia. Você trabalha aqui? – O sorriso amigável do garoto contracenava com meu semblante emburrado e me inferiorizava aos poucos. Quem me dera sorrir tão convincente, preferia nem tentar para não pôr pra fora um sorriso forçado de desenhos animados.
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Into the Woods
FanfictionHyukjae vive cercado com a incansável movimentação da cidade e conforme passam-se os dias, nada novo acontece para fazê-lo esquecer sua pacata vida de aconchego. Ao receber como herança uma viagem misteriosa para uma pequena vila florestal, Hyukjae...