Isao abriu os olhos devagar.
A luz que entrava pelas frestas da janela era difusa e confortável. O reflexo da água no balde ao lado do tatame, tremeluzindo no teto, tomou sua atenção. Ficou a observá-lo por um tempo. Sentia um cansaço infinito, uma dormência teimosa em seus pensamentos, mas não quis se render ao sono novamente.
Do brilho na madeira, surgiu um lago de águas tranquilas, cintilando seus cristais criados pelo Sol. Mergulharia nele se pudesse e aceitaria o embalo suave de suas ondulações até que estivesse limpo, livre de todas as crostas pegajosas que maculavam seu espírito.
Soou em seus ouvidos uma melodia que trouxe a memória da mãe. A sensação reconfortante dela cantarolando e acariciando a própria barriga enquanto aguardava seu nascimento. Por tão pouco não a encontrara.
Por tão pouco...
Tinha sido apenas um sonho, sabia, mas havia sido tão real, tão melhor do que as memórias que guardava dela... Quis chorar e sentiu-se um idiota por estar frustrado por conta de um sonho ordinário. Um tolo por agarrar-se a algo tão frágil.
Tentou se levantar. Não conseguiu. Sua cabeça girou açoitada pela dor. Preferiu então se sentar e, ao se ajeitar para buscar um pouco de água, levou a mão ao cotovelo. Sentiu um caroço incômodo, um zumbido também. Havia um inseto preso em suas roupas. Aflito, sacudiu o quimono e, sem perceber, já estava de pé se debatendo e implorando para que as picadas parassem.
Ouviu um estrondo.
A porta, aberta com violência, trouxera a escuridão.
A noite e seu hálito azedo.
'Isao?', ouviu de uma voz pesada como asas revirando o vento.
Alguém o segurou pelos ombros, com força. A dor o fez lembrar dos galhos em seus pulsos, da floresta, de Mamuro jogando-o contra a parede.
'Maldito!', murmurou.
'Isao!', continuaram a gritar. Sobre a sombra que o sacudia, viu a abelha esperta escapar pela abertura da porta.
Enfim, estava livre dela.
Das picadas.
Enfim, reconhecera a sombra.
Shimada.
– Me solte! – gritou Isao, se desvencilhando do tio com violência.
– Você está enlouquecido, garoto! – Shimada se afastou. Seus olhos eram de desprezo. – Deve ser a Febre. Pelo Olho de Shigaro, vá se deitar!
– É isso que você quer, não é? Que eu morra pela Febre! Pois vá e me deixe aqui para morrer!
As náuseas fizeram-no apertar os olhos, os pulsos doloridos. Da escuridão, estralaram as chamas. Homens desconhecidos, assustadores, conversavam ao redor de uma fogueira. Gargalhavam. Tinham armas, também. Muitas. Uma voz soou mais forte, agressiva.
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O Dragão de Uruma
FantasiUruma estava no extremo sul do continente. Um distrito célebre apenas por margear a implacável Floresta Sagrada, túmulo da outrora civilização dos nascidos de Galo, tão distante e modesto que seus habitantes alimentavam a esperança de que a mais dev...