Festa na Vila Mada

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— Ana...? — Meu pai tentava entender o que minha mãe acabava de dizer.

— Responde, Rafael!

Eu não conseguia entender. De onde ela tinha tirado isso? Era verdade? Era. Mas do nada assim? Como...? Precisei de alguns segundos a mais para, então, entender de onde vinha aquilo tudo.

Sempre fui uma pessoa um tanto distraída em alguns momentos. Não que eu não fosse focado, mas eu tinha meus momentos. E aquele foi mais um deles. Conversei com Felipe no telefone naturalmente, sem ao menos perceber que falava da minha sexualidade em alto e bom som para que qualquer um no corredor ouvisse. E o mais curioso é: em 8 longos anos me relacionando com garotos, já havia sido cuidadoso em relação ao que falava aos meus pais, em situações muito mais delicadas e arriscadas. E agora eu estava ali, diante dos meus pais, sendo questionado pela minha sexualidade por conta de um papo de 2 minutos no celular que poderia ter sido totalmente neutro. Como consegui ser tão idiota? Idiota ou não, eu precisava sair daquela situação.

Mas o que significava sair daquela situação? Inventar outra mentira ridícula? Ou encarar a verdade?

Eu estava inclinado a pensar numa mentira e fugir logo daquele rolê inesperado. Mas minha mãe continuou.

— Já desconfiava, não vou mentir. Essa tua amizade com aquele Marco é muito estranha. Você se acha muito esperto, mas já vem dando sinal faz tempo.

— Gente, vocês poderiam me explicar o que que tá acontecendo aqui? — Meu pai sempre foi um pouco perdido. Mas nossa, ele estava se superando.

— Walter, teu filho é gay. É isso que tá acontecendo. — Uma lágrima escorria pelo rosto da minha mãe. — Ouvi ele mesmo dizer isso pelo telefone. Provavelmente com o namoradinho dele. Que nojo.

— Rafael, isso é sério?

Toda a mentira tosca que eu tentava montar na minha cabeça se desfez. De nada adiantava mais tentar mentir. Lembra a história de que os pais, no fundo, desconfiam e alguns vivem em negação? Pois é, realmente era o caso dos meus pais. E alimentar mais essa mentira não melhoraria as coisas, apenas empurraria o problema pra frente.

— Sim, é verdade. Eu sou gay.

A reação da minha mãe foi fechar os olhos e deixar as lágrimas escorrerem. A expressão embasbacada do meu pai se transformou em um misto de raiva e decepção. Minha mãe foi a primeira a deixar o corredor, e seguiu em direção ao quarto dela. Dei dois passos para trás, entrei em meu quarto e peguei o celular, que vibrava com a chegada de novas mensagens.

Brubs: Rafs, tá em casa? Vamos juntos pro Felipe?

Felipe: tô esperando vcs, kd??

Marco: tua mãe tá me mandando msg aqui no wpp, me xingando pra crl, desde quando ela tem meu contato?? Q q tá pegando?

Não sabia o que responder primeiro. Respirei fundo, joguei mais roupas na mochila, peguei algumas coisas importantes e saí do quarto. Fui em direção ao quarto dos meus pais e lá encontrei minha mãe sentada na cama, com o celular na mão.

— Por que você foi atrás dele? — Perguntei.

— Não te interessa. Esse... garoto acabou com a sua vida. Você sempre foi influenciável.

— Mãe, não! Ele não fez nada! Você não tá entendendo. Eu sou assim desde sempre.

— Não fala isso perto de mim! Eu não quero saber de nada dessa sua vida nojenta! Fizeram sua cabeça, Rafael! Olha aí no que deu!

— Mãe, por favor, para de enviar mensagem pro Marco. A gente nem tá junto mais. Ele não tem nada a ver com essa história. Por favor, eu tô te implorando.

Amor de Areia (Romance LGBT)Onde histórias criam vida. Descubra agora