Preparativos

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Meu aniversário estava chegando. Bruna me convenceu de que a gente deveria fazer alguma coisa e aproveitar a oportunidade pra ter a turma toda unida de novo. Uma parte de mim achava uma boa ideia, mas a outra tinha medo do que poderia acontecer se todos estivessem juntos novamente.

Na sexta a noite que antecedeu o sábado em que seria a festa, Nico foi até meu apartamento me ajudar a organizar algumas coisas pro dia seguinte. Quando terminamos, pedimos comida japonesa e ficamos no quarto assistindo American Horror Story. Hugo estava na cozinha preparando o leite do Arthur.

Quando a comida chegou, precisei descer porque o horário permitido pra entrada dos entregadores tinha terminado. Antes de sair, Hugo me chamou. 

— Rafa, olha o que eu achei no meu celular.

Era uma foto nossa na praia, no ano passado. 

— Nossa, eu tava bem mais magro... — Falei rindo, enquanto seguia em direção a porta de entrada do apartamento.

— Também, fica me pedindo pra fazer lasanha todo dia...

— Que todo dia o quê, garoto. Tá louco? Deixa eu ir pegar minha comida japonesa que ganho mais. 

Hugo riu e eu deixei o apartamento. 

Quando voltei, abri a porta e escutei a voz de Nico e Hugo vindo da cozinha. Sem fazer muito barulho, continuei escondido. Não me orgulho disso, mas queria saber do que eles falavam.

— Mano, eu só tô preparando o leite do Arthur aqui, tô quieto na minha.

— Não, quieto você não tá. Se não, não tinha mostrado foto nenhuma pra ele. 

— É só uma foto. Não tem nada demais, passou. 

— Você não tá respeitando nosso relacionamento.

— Você que não tá respeitando o seu relacionamento. O cara te ama, se liga. Para de agir igual criança por uma coisa boba!

— Ah vai se fuder...

Nesse instante corri até a cozinha. Nico se aproximou de Hugo e deu um soco em sua cara. Hugo não demorou em devolver o soco e ambos começaram a tentar se defender. Nico jogou Hugo contra a pia, e ele esbarrou no porta-louças, que caiu no chão com todas as louças que estavam ali. Hugo pegou Nico pelos braços e o empurrou contra a mesa, tentando afastá-lo. Nico, sem se dar por satisfeito, avançou novamente sobre Hugo enquanto eu, sem sucesso, tentava apartar. Eu fui totalmente ignorado por uns bons segundos, até que os dois bonitinhos cederam. 

— Vocês tão loucos?! — Gritei. 

— Ele que veio me encher. Eu tava quieto aqui na cozinha. — Hugo disse enquanto limpava o sangue escorrendo do nariz.

— Foda-se quem começou! Vocês tão numa casa com uma criança que tá no quarto aqui do lado. Qual o problema de vocês? 

Ninguém disse nada. Hugo passou por mim e saiu da cozinha. Nico não conseguia me olhar.

— Hugo, volta aqui. 

— Eu vou cuidar do meu filho.

— Igual tava cuidando agora? — Nico provocou.

— Nicolas! Para! — Repreendi.

Hugo não hesitou em tentar avançar em Nico. Tentei segurá-lo pelo braço, mas foi sem sucesso. Ele empurrou Nico, que caiu no chão. Puxei Hugo para fora da cozinha.

— Vai tomar um ar lá fora, agora!

— Não vou deixar meu filho aqui. 

— Você não vai acordar ele, deixa ele aqui e vai lá tomar um ar agora. Eu não tô pedindo!

— Esse seu namorado é um maluco, mano.

— Hugo, vai. Eu não vou pedir de novo.

Hugo se dirigiu até a porta e saiu. Nico apareceu do meu lado.

— O que aconteceu aqui, Nicolas? — Perguntei, provavelmente com a pressão altíssima.

— Cadê a comida? — Ele disse, como se eu não tivesse perguntado nada. 

— Você pode me responder primeiro?

Nico respirou fundo.

— Esse cara que você colocou dentro de casa é o que aconteceu, Rafael. 

— Isso de novo?

— Você acha certo ele ficar te mostrando foto de quando vocês se conheceram na praia?

— Qual o problema nisso, pelo amor de Deus? Vai mudar alguma coisa? 

— Ele tá me provocando, você sabe!

— Eu não sei de nada! Eu só sei que existe uma pessoa que eu amo, e essa pessoa é você. Não tem foto, não tem passado que vai mudar isso. Para, Nico, por favor. Eu tô te pedindo. Você chegou num ponto muito extremo e isso me deixa preocupado. Por favor, para antes que você faça uma besteira maior que vá prejudicar a gente. Você precisa confiar em mim. Cadê aquela pessoa que confiava em mim pra caramba? Nosso relacionamento era muito seguro, tinha tanta confiança. A gente pode voltar a ser assim, meu amor. Mas eu preciso da sua ajuda.

— Me desculpa... Eu nem sei o que falar.

— Não precisa falar nada. 

Hugo entrou no apartamento novamente depois de alguns minutos.

— Hugo, vem aqui. — Chamei e ele apareceu na cozinha. — Aviso pros dois. Eu tô indo dormir na Bruna, amanhã quando eu voltar, quero a cozinha do jeito que vocês encontraram antes de começar essa palhaçada. E vocês quebraram pelo menos uns três pratos e dois copos, então quero outros. E aquela caneca ali custou caro, então boa sorte achando outra igual. Beijo, boa noite pra vocês.

Fui até meu quarto, peguei minha carteira e saí. Minha mão tremia, mas senti que precisava ser firme com eles. Afinal, ninguém quebra minha caneca preferida e sai impune. 

Quem dera o problema fosse a caneca.

Amor de Areia (Romance LGBT)Onde histórias criam vida. Descubra agora