Transbordar em todos os sentidos

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Uau. 

O beijo continuou intenso. Mas estávamos em público. Era hora de parar, respirar e tomar cuidado. Tanto em relação a nós mesmos, porque o desejo consumia a gente - e isso ficava provado pelo volume em nossas sungas - quanto pelas pessoas a nossa volta. Eram poucas, mas sabe-se lá o que pensavam sobre aquilo. 

Quando finalizamos o beijo, ficamos nos encarando por um tempo. Sentia um pouco de timidez no olhar de Hugo, e de certa forma eu também me sentia da mesma maneira. Não esperava. Talvez nem ele. Sentamos e passamos a olhar para o mar. 

— O que foi isso? - Perguntei e rompi com o silêncio.

— Eu não sei... 

— Eu não imaginava que você fosse... 

— Eu não sou. 

— Ih, nem terminei a frase. 

— Eu não sou gay, Rafael.

— Tá, não precisa ficar na defensiva de novo. Você nunca...?

— Não, eu nunca beijei nenhum cara. E eu tô tão intrigado quanto você agora. 

— Fica tranquilo. Se quiser, a gente finge que nunca aconteceu.

— Não quero isso, mano.

— Não? 

— Não. 

Ficamos em silêncio por um tempo.

— Você curtiu? — Ele perguntou sem me olhar. 

— Demais. E você?

— Até que foi OK... — Ele riu debochado.

— Que abusado. Meu beijo não é OK. Boatos que quem beija, sempre quer mais...

— Boatos confirmados. — Ele respondeu olhando para a minha boca. 

E nos beijamos de novo. 

— Quais seus planos pra jantar hoje? — Ele perguntou empolgado.

— Ué... Nada por enquanto. Por quê?

— A gente vai lá em casa e eu vou fazer a minha lasanha pra você.

— Olha lá, hein. Lasanha é minha comida preferida. Vai ser difícil me surpreender, já comi várias...

— Eu confio no meu taco.

— É bom confiar mesmo... - Nós rimos. 


A tarde chegou depressa. 

— Acho que tá ficando tarde. Bora? — Ele disse enquanto pegava a mochila.

— Vamos. A gente pode passar na pousada antes? Pra eu tomar um banho e tal.

— Beleza. De lá, dá pra ir a pé lá pra casa. Já devolvo o carro então e a gente vai.


A casa de Hugo era muito humilde. Um muro baixinho, com a pintura bem descascada e um portãozinho que rangia demais. No quintal, havia uma bicicleta enferrujada, uma outra um pouco mais nova, algumas pranchas encostadas na parede. Um gatinho se escondia atrás de uma das bicicletas. Lá dentro, a casa estava abafada e era muito pequena, mas aconchegante. Havia vários porta-retratos na sala, e uma foto na parede chamou minha atenção. Nela, havia um homem, uma mulher, uma criança e uma adolescente. 

— É sua família? — Perguntei olhando a foto. 

— Sim. Esse é meu pai. Essa, minha mãe. Essa aqui é minha irmã e esse sou eu. 

Amor de Areia (Romance LGBT)Onde histórias criam vida. Descubra agora