Capítulo 15

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No próximo dia de manhã, antes de Daniel acordar, Laura saiu da redoma. Os acontecimentos do dia passado voltaram a sua mente com mais força do que antes, fazendo ela ficar extremamente confusa. Será que era realmente a Vicky? Ou era apenas uma ilusão? E, se fosse, o que aconteceu com ela? O que houve com ela durante esses anos, onde ela estava? Laura sentiu raiva, odiava pensar que alguém machucou-a e apagou as suas memórias.

Como em reflexo, tocou ligeiramente a sua bochecha, a mesma que Vicky havia beijado há apenas algumas horas antes. Tinha certeza que ela não era outra pessoa. Laura reconheceria ela há quilômetros de distância, não havia a confundido. Tentou não pensar tanto sobre isso, focando mais na viagem até o seu apartamento, o mesmo de antes, que morava com Charles.

Ao entrar pela porta do apartamento, mal teve tempo de fazer alguma coisa antes de ser recebida com um abraço apertado de Charles, que sorria muito. Eles haviam se tornado amigos por agora, mesmo Laura ficando a maior parte do tempo no experimento. Ela também se sentiu feliz por estar de volta, mas tinha coisas mais importantes para resolver. Em primeiro lugar, contá-lo a verdade.

Separando-os após alguns momentos do abraço, Laura abriu ligeiramente a sua boca, tentando falar. As palavras pareciam ter sumido, escapado de sua língua. Olhava para Charles desesperada, tentando articular os seus pensamentos, mas em vão. Sentiu lágrimas descerem pelas suas bochechas, lágrimas que nem havia percebido antes. Ele a puxou para outro abraço, sabendo que algo estava errado. Não sabia o que não estava certo, ficou pensando em diversas alternativas, preocupado com o que Laura queria dizer. Com uma voz baixa, ela apenas disse:

- Ela não está morta.

- Ela? Ela quem? – disse Charles, confuso.

- Vicky.

Apenas aquelas palavras fizeram ele estremecer. Em pouco tempo, Laura contou o seu encontro com Vicky. No final, os dois se abraçaram, apenas deixando as lágrimas descerem pelos seus rostos. Não estavam tristes, estavam alegres e também chocados com essa revelação.

O resto do dia passou rapidamente, os dois conversando e pensando sobre como Vicky sobrevivera a facada, sobre como ela não se lembrava de nada, e como ela apenas reapareceu depois de anos. Talvez o laboratório a usou como aliada, apagando a sua memória. Ou era apenas um clone dela, controlado para desmascaram Laura. Ela e Charles tentaram esquecer essa última opção, achando-a uma realidade difícil de acontecer. Mas os dois sabiam que, depois de tudo que impossível que já haviam visto em suas vidas, poderia ser real.

À noite, cansados após discutirem sobre todas as possibilidades do passado de Vicky, os dois foram dormir com a promessa de que conversariam mais amanhã. Por enquanto, descanso.

Após deitar em sua cama, contudo, Laura não conseguia fechar seus olhos. Estava, de fato, cansada, mas sua mente não aparentava buscar descanso. Tentou desviar seus pensamentos de Vicky, pensando sobre o experimento. Quando ela primeiramente fugiu de sua redoma, Laura não entendia completamente o propósito de todos aqueles testes. Por que fazer tudo isso para apenas algumas crianças crescerem dentro de uma bolha, sendo privadas da realidade? Qual era o objetivo do laboratório?

Agora, porém, Laura sabia que não era apenas isso. Com o tempo, descobriu que as crianças que eram usadas nesses experimentos tinham como objetivo mostrar que seres humanos, criados em uma sociedade onde todos são iguais, onde não há muita diversidade, não apresentam sinais violentos, mantendo tudo ao seu redor pacífico. Basicamente, para ela, era o modo de tentar mostrar, por meio de testes e experimentos com pessoas, que no mundo ideal, todos seriam iguais. Para Laura, tudo aquilo era um tremendo erro. Após conhecer o mundo real, ela achou estranho as pessoas serem tão diferentes umas das outras, mas logo se acostumou. Ela achou particularmente interessante aprender sobre novas culturas e tradições. Esse mundo novo que havia em sua frente era como uma folha em branco, pronta para ser completa com experiências e conhecimento.

Também, durante o tempo, Laura descobriu que não poderia enfrentar o laboratório frente a frente. Ela sabia que havia a possibilidade de após Daniel fugir, haveria mais testes e experimentos. Ainda assim, ela tentaria impedi-los, fazendo de tudo para que mais ninguém sofra como eles sofreram.

A cada minuto, seus olhos ficavam mais e mais pesados, fechando para descansar finalmente. O sono lhe tomou conta.

A Grande FugaWhere stories live. Discover now