Todos temos um passado.

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O barulho das cavalgadas se alongou por um bom tempo, João Head ainda portava um semblante sério, mas aparentava estar mais calmo. Pararam perto de um pequeno córrego e se sentaram na grama verde.

-Desculpa- disse João Head com um olhar vazio, como se falasse ao vento e até mesmo assustou Natalie que achou que o silêncio ainda iria se prolongar. Ela se levantou e tirou da pequena bolsa que carregava pequenos e finos tecidos.

-Você sabe que não me deve desculpas e eu preciso cuidar das suas mãos.

-Não está doendo mais.

-Não te perguntei se estava, prometo que não irei te machucar- falou a moça com um claro deboche a ele.

João Head apenas respirou fundo, assim como ele, ela era muito teimosa e decidiu apenas aceitar a ajuda. Ela era delicada cuidando de suas feridas e extremamente ágil, fazendo apenas com que João Head se lembrasse ainda mais de seu passado e da mulher mais importante da sua vida.

-Você não vai me perguntar o porquê de eu ter agido tão violentosamente contra aquele cara?

-Eu sei que todos nós temos um passado, e pelo que eu pude ver isso envolve o seu. Não sou sua confidente ou uma amiga, nos conhecemos a pouco tempo e eu não quero te forçar a me falar sobre as coisas que te machucam. Mais saiba que eu estou aqui neste exato momento e se você precisar eu o apoiarei no que for necessário, não se sinta obrigado a me dizer seu passado, apenas fale quando sentir vontade de assim fazer.

-Obrigada Natalie, mas eu lhe devo explicações e só superamos os medos do nosso passado quando paramos de teme-los e seguimos em frente.

Ela sorriu gentilmente a ele, ela guardava dentro de si coisas ruins também e sabia da dificuldade de dizê-las, de certa forma ela se colocava no lugar do ladrão e sabia que a história que ele a contaria uniria ainda mais os dois.

-Eu sei que foi assustador me ver furioso daquele jeito e realmente estava cego com a minha ira. Pelo porte dele notei que era algum senhor feudal e consequentemente também possuía alguma linhagem com os reis, pois nenhum idiota sairia aquela hora sem algum guarda, e essa característica esnobe só demonstrava que ele confiava em seus poderes.- Respirou fundo, tinha que ir até o fim e desabafar aquilo tudo.

-Você sabe que eu odeio todos que estão no poder, mas não é apenas um ódio comum. Eu tinha uma mãe Natalie, gentil e carinhosa, que me ensinou a ser uma boa pessoa, ela tinha um cuidado enorme por mim e vivia me dizendo o quão especial eu era para ela.

João Head observou ao redor e até deu um sorriso bobo ao vento, mesmos sendo poucas as memórias de sua mãe, ainda sim eram especiais. Ajeitou a postura e ficou mais tenso, algo ruim sairia de sua boca e Natalie percebeu.

-Um dia meu pai chegou apressado em casa, disse que minha mãe tinha que arrumar suas coisas pois ele a apresentaria a um homem importante, ela não entendeu nada e o obedeceu, meus pais haviam se casado apenas por interesses e não tinha nenhum sentimento um pelo outro. Ela arrumou tudo e deu um beijo em minha testa, eu não queria que ela fosse, de certa forma algo em meu subconsciente me avisava que tinha algo errado. Ela se ajoelhou e disse para mim que tudo ficaria bem, que voltaria o mais rápido e não iria mais sair do meu lado.

O coração dos dois estavam apertados, de João pelas memórias do dia e de Natalie pelo o que estava por vir. Ele até mesmo abaixou a cabeça e rapidamente limpou uma pequena lágrima sem que Natalie pudesse perceber e continuou:

-Depois daquele dia eu nunca mais a vi e passei minha adolescência inteira sem entender o motivo dela nunca mais voltar, meu pai não me disse nada e depois de um ano arrumou outra mulher que já tinha uma filha. As duas eram aproveitadoras e esnobes, odiava-às e pensava o quão triste minha mãe ficaria se retornasse e as encontrasse ali. Até que quando fiz 20 anos meu pai adoeceu e resolveu se redimir pelos seus malditos pecados. Ele havia vendido minha mãe a um babaca de senhor feudal que gastava seu dinheiro comprando mulheres para tortura-las e descarta-las como lixo, e aquele maldito sabia muito bem disso e a vendeu mesmo assim.

João fechou seus punhos, aquilo o revoltava internamente, tinha passado 12 anos sem notícias de sua mãe apenas para descobrir que ela havia passado por diversas coisas ruins, tudo por culpa de seu pai.

- Depois disso resolvi sair daquele lugar e me aventurar pelo mundo, ainda volto à aquele inferno apenas para pagar um amigo meu que cuida de meu pai.

-Você o perdoou?

-Nunca. Mais eu não conseguiria viver minha vida por aí sabendo que posso ajudar ele, mesmo que ele não mereça nada. Agora ele está pagando por tudo que fez e nem sua nova mulher ou filha cuidam dele, é até pouco mais não vou descontar minha dor ou de minha mãe nele.

-Obrigada por confiar em mim, sei o quão difícil foi para você me dizer tudo isso.

-Eu não sou mais um garoto assustado, passei por várias coisas que me tornaram quem eu sou hoje e sei que não vale a pena olhar para o meu passado e revive-lo, ele não me trará mais nada e tudo que eu tinha que aprender, foi aprendido.

-Poético.

-Sim as poesias saem ainda melhor com a sua mão sobre a minha.

Natalie corou e tirou rapidamente suas mãos da dele, ele era idiota e isso só se confirmava, mas a garota agora tinha uma nova visão dele, ele era realmente gentil com ela e agora ela sabia seus motivos. Naquela noite estrelada os dois aumentaram seu nível de confiança um no outro e singelamente algo em seus corações florescia. Mesmo sendo algo difícil de ser dito, temos que ser fortes para aguentar as dificuldades e depois conversar sobre elas, porque sempre teremos pessoas especiais que nos escute e ajudem a carregar nossas dores.

Oi desculpa o assunto triste, mas esse é o passado do nosso Joãozinho, em breve teremos mais. Espero que entendam o quão importante foi essa abertura do João Head com a Natalie, eles vão ficar ainda mais ligados ;)

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