sixty three

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A mensagem que havia recebido na noite anterior martelou em minha cabeça pelo dia seguinte inteiro. Na verdade, durante uns bons dias. Nunca havia recebido ameaças, apenas de garotas frustradas pela minha falta de interesse durante a graduação. Independente do que eu fizesse, aquelas palavras continuaram ecoando, até mesmo enquanto conferia os parâmetros de Park Changji.

— Está cada dia mais saudável, senhor Park. A viagem lhe fez bem. — Comentei com um sorriso sincero nos lábios enquanto guardava meu estetoscópio. 

— Tenha certeza que você tem grande parte nisso, doutor Byun. 

Pra mim, ainda era estranho ouvir alguém mais velho me tratar com tanto respeito.

— De qualquer forma, soube que você e meu filho saíram juntos enquanto estive fora... Estão se tornando amigos? Eu já sabia que haviam estudado na mesma faculdade há uns anos.

— Oh, isso... — Senti minhas bochechas queimando. Não é todo dia que o pai do cara que você beijou vem te perguntar sobre o relacionamento de vocês. — Ele me levou para a boate do primo dele, nos divertimos e eu voltei pra casa. Aos poucos, estamos nos dando bem.

— Entendo, mas Baekhyun, quero que tome cuidado, hm? Não sei se já sabe que meu filho gosta de meninos, então se ele fizer algo que te deixe desconfortável, você pode me dizer. Eu sei o mulherengo que tenho em casa, quer dizer... homemrengo

Apesar da pitada de culpa no coração, não consegui prender o riso. O Park mais velho estava coberto de razão. Assim que a checagem pós viagem acabou, peguei minhas coisas e desci as escadas, meu quarto naquela casa era no térreo, não queria ficar tão próximo dos quartos daquela família. Foi minha primeira vez ali depois de dias sem olhar na cara de Chanyeol e muito menos responder suas mensagens. 

Guardei minhas roupas no closet e joguei meu corpo na cama macia, acabando por pegar no sono sem nem perceber em plenas cinco da tarde.


Aparentemente, dormi muito mais do que pretendia. Bem mais, pois o relógio marcava onze da noite, ou seja, o casal Park provavelmente estaria no milésimo sono. Certo, até aí não tinha problema nenhum. Até minha barriga roncar.

Não importa quantas vezes a senhora Park diga para eu me sentir em casa, você nunca vai estar confortável o suficiente para levantar na calada da noite e ir assaltar a geladeira depois de todo mundo ter jantado. 

Tentando me distrair da fome, tomei um banho quente e vesti minha roupa de dormir - um short no estilo samba-canção e uma blusa simples. Mexi no celular e até pensei em comprar alguma besteira por delivery, mas era uma burocracia para entrar naquela mansão cheia de seguranças. Era pouco mais de meia noite quando me rendi à fome e saí de fininho do quarto. 

Caminhando em passos lentos, cheguei na cozinha e, sem mesmo acender a luz, abri a geladeira e passei os olhos pelas coisas. Peito de peru, queijo, alface, tomate... É, dava um sanduíche interessante. Peguei as coisas e as coloquei no balcão.

Indo pegar o pão, por pura distração, olhei para a parede de vidro que separava a cozinha da área externa, percebendo certa movimentação na borda da piscina. Os cabelos ruivos denunciavam Chanyeol sem dificuldade, mas havia outra pessoa. Praguejei quando percebi que não iria conseguir enxergar porque estava sem meus óculos, então discretamente me aproximei da parede.

Mais um pouquinho.

Mais.

Mais um pouco e eu iria conseguir enxergar aquele rosto.

Mas como nem tudo são flores, acabei sendo visto quando tombei com a testa no vidro. Chamando a atenção de ambos. Merda.

— Baekhyun? 

Suspirei. Fechei os olhos. Sorri.

— Ah, oi! — Respondi com um sorriso torto, acenando para Chanyeol. 

Ia virar meu corpinho, fazer o sanduíche rápido e voltar para meu quarto, como se nada tivesse acontecido. Porém, nada é assim tão fácil quando Chanyeol está por perto.

— Vem aqui, dê um oi para a visita.

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