Morte Cor Ferrugem

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Me perdoe.
 
Quando estávamos juntos, antes de tudo acontecer, eu só sabia sorrir, verdade. Mas também é verdade que eu sabia, bem lá no fundo eu sabia que não poderia sorrir pra sempre. Sabia que iria te magoar, mesmo assim escolhi não dizer nada. Até hoje não tenho certeza se fiz isso para poupar você ou para poupar a mim mesma.
Eu sei que oque aconteceu não foi culpa sua, e mesmo assim… por que eu não fui capaz de dizer nada? Você pegou o que sobrou de mim nos braços, o seu choro… ele foi tão alto, tão agonizante… não tinha como continuar a sorrir depois daquilo, verdade? Um corpo sem vida não sorri, uma alma sem corpo também não. Então eu escolhi me afastar, e me tornei tão fria com você… mais fria que o metal que viria a me tornar. Parte de mim ficou aliviada quando você começou a me ignorar, pois sabia que não iria mais sofrer por minha causa, e tinha certeza que havia seguido em frente. Mas nada é feito de apenas uma parte, você sabe melhor que ninguém, dualidade sempre foi a sua coisa de qualquer maneira. A outra parte de mim, sentiu dor, uma dor pior que a da própria morte, pois sabia que você estava se afastando de mim e que iria me esquecer, e que dessa vez, eu estaria realmente morta para você, essa parte de mim, a mesma que gritava “Eu quero viver!” com todas as forças que tinha… eu a calei. Deixei ela em um arquivo esquecido de meu banco de dados assim que minha alma se fundiu com parafusos e circuitos. Eu não estava viva.
Eu só estava tentando ajudar. A morte é algo que ninguém merece passar, nem mesmo ela que tirou meu sorriso, ou ele que forçou algo que eu não queria em meu coração. Meu coração de fios e engrenagens. Então apenas fiz o que um bom robô faria e fui útil, tentei com todo meu conhecimento e poder nos salvar da destruição, e eu consegui… ou ao menos pensei ter conseguido. Antes que me desse conta estávamos em um pedaço de rocha flutuante pagando por um erro meu. E eu me senti tão horrível… por que estava feliz. Feliz por ter uma chance de viver de novo, uma chance de sentir. Então quando vi que minha hora estava chegando, fui honesta com você. É engraçado, porque mesmo com o corpo gelado e incapaz, eu por um instante podia jurar que te senti, acho que é porque estava tão frio quanto eu, desculpe, isso também é culpa minha.
Quando acordei, a primeira coisa que fiz foi rir, estava transbordando de alegria, tanto que minhas bochechas passaram a doer, mas apenas ampliei o sorriso, pois a muito tempo não sentia nada. Articulações, ossos, meu sangue fluindo, coração pulsando, sentimentos próprios e pensamentos. Tudo de volta. Eu já não era mais feita de morte, não podia me sentir mais cheia de vida. E após tanto tempo, eu pude vê-lo de novo por meus verdadeiros olhos, queria poder dizer o mesmo e você. Queria que me visse, então saberia que não precisa mais se culpar, mas não aconteceu, e mesmo assim, mesmo estando apenas meio vivo, você quis vir comigo, e aqui estamos nós, indo atrás de bolhas enquanto te guio pela mão, ao menos dessa vez, você tem algo real para se apoiar.
 
Me perdoe por ser fria.
 
Me perdoe por ser uma assombração.
 
Me perdoe por ser o fantasma do seu passado.

 
Me perdoe, Sollux.
 

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