Já fazem três dias que estou no hospital, Harry não fala comigo, não me vê desde aquele dia, o médico disse que está tudo bem, são só medidas preventivas, todos os dias meus pais vem me visitar e Lucy veio ontem, vou ter alta hoje.
Meus pais entraram sorrindo, como sempre , mas dessa vez, não estavam sozinhos ou com Lucy, Harry vinha atrás deles, com a cabeça baixa e as mãos nos bolsos mas estava lá, e só isso já foi suficiente para me fazer sorrir.
- Finalmente! Este lugar é entediante, exceto pelo cara do quarto do lado, ele é um gato.
Eles ficaram meio chocados e me olharam com uma cara de "WTF!? " e eu ri.
- Brincadeira!
- Ainda bem cara, você quase me mata de susto, já penso, meu irmão GAY?! Ia ser péssimo.
Fiquei triste com essa reação do meu irmão, será que ele é homofóbico?
- Cara, mas eu sou Gay.
- Sem brincadeiras mais vai.
- Não é brincadeira Harry.
Ele somente ficou calado.
- Por que acha que me chamavam de Fag? Fag , fagot , bicha em inglês. - disse me levantando e pegando minhas coisas .
Fomos caminhando até o carro em silêncio, quando entramos, também ficamos em silêncio até que eu o quebrei.
- Você é homofóbico Harry?
Ele não respondeu, já sabia a resposta.
- Seus pais são homossexuais, como pode ser homofóbico!
- Somos bissexuais, ele aprendeu a lidar com isso, mas não consegue nos ver juntos.
- Eu estou aqui, ok! E não aprendi a lidar com isso, não aprendi a lidar com o fato de que meu irmão é um idiota, gayzinho, bicha, desperdício de ar e espaço, e eu não sei como vocês suportam isso! Não é natural, não é -
- Abra a porta.
- Art!
- Abra a porta cazzo!
Ele parou, e abriu a porta, Jason e Paul com os olhos marejados, e eu sai, correndo sem olhar para trás.
Fui para o único lugar que me trazia paz, um parque abandonado com um lago, a única coisa que me lembro de meus pais, é uma memória dentro daquele lugar, em um piquenique quando eu era bem pequeno, me sentei na beira do lago, meus pés tocando a água, e só deixei as emoções me tomarem, e as lágrimas rolarem pelo meu rosto. Passei horas naquele lugar, chorando, pensando, e me lembrando de tudo. Acho que é por isso que quem tenta se suicidar uma vez, não tenta mais, quando você está triste e pensa em tentar suicídio, está sozinho, mas depois que você tenta as pessoas te notam, e cuidam de você, te amam. Esse é meu problema, mesmo depois de tantas tentativas, ninguém nunca me notou, ninguém nunca olhou em meus olhos da forma que Harry olhou, ninguém nunca notou o vazio de meus olhos, o mar de mágoas que carrego nas costas desde que me entendo por gente. É isso que me mata, primeiro a solidão, depois a tristeza por estar sozinho, a raiva por estar triste, e por não conseguir mais mudar as coisas, o isolamento e por fim, o pior, os cortes , e o suicídio. É uma bola de neve, se você segurar quando ainda é pequena você consegue, mas depois ela aumenta e aumenta, e não é possível parar, é como uma avalanche, que você pode parar aos poucos, mas provavelmente quando parar já será tarde demais.
Comecei a caminhar em direção a saída, já havia anoitecido, eu estava com meu celular, e quando vi, eram 8 horas, sendo que havia saído as 8 da manhã. Havia mesmo passado tanto tempo assim? Também tinha 200 chamadas perdidas de casa, Jason, Paul, Lucy e Harry, 1000 mensagens de todos também. Resolvi ligar para Jason, ele era bem mais calmo.