8- Cerveja, Whisky e Tequila.

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INADEQUADAMENTE EXCEPCIONAL

Por Gabriela Vidor

Capítulo oito.

O cômodo escuro era sombreado conforme a dança das labaredas. Cada nuance suave da sala, projetava penumbras duvidosas ao tempo em que o estalar da lareira quebrava o silêncio. Uma silhueta escura se escondia pelas sombras, se amoendo pelo canto com um copo de Whisky em mãos. Dedos giraram o vidro, produzindo o irritadiço barulho do gelo que tilintava. O líquido âmbar foi rapidamente entornado pelos lábios, e assim que ingerido, um rugido selvagem se iniciou. Os guardas do lado de fora se entreolharam e então um vidro foi espatifado. Mais um momento de fúria, ou talvez um momento de euforia, pensaram. Nunca conseguiam prever o humor estanho que o chefe se encontrava. De vez em quando, o viam fazer coisas contraditórias para expressar uma possível alegria, assim como havia sido há algumas semanas atrás, com o menino que fora queimado vivo.

Mais uma olhada de rabo de olho e então os pelos dos dois uniformizados se arrepiaram. A risada fina, entrecortada e doentia, se iniciou dentro do quarto. Então a única pessoa dentro do cômodo se ajoelhou encolhendo-se em sua possível euforia; enquanto os homens fora dele tremiam. A instabilidade os davam medo — os apavoravam, na verdade —, e era por esse e muitos outros motivos que jamais o trairiam. "Devoção" era como chamavam, mas todos sabiam que não era exatamente isso o que os mantinham ali.

A risada fora pausada, retornando um tom mais alto e grave, arrastando-se como algo semelhante ao lamurio de um macaco. O ar foi bufado, tomando-se o fôlego e mudando o compasso. A insanidade nunca havia caído tão bem para alguém como caia para Kapllani. Era loucura pensar que isso poderia ser um atrativo, se analisado o quão bem estava apenas com ela. A insensatez. A instabilidade. A maluquice. Kapllani jamais se nomearia como um sociopata, mas adorava o fato de lhe tarjarem como um; se não o nomeava de coisa pior. Doido de pedra, o lunático, era como chamavam-no pelas costas. Mas jamais faria algo para mudar isso. Precisava de tal reputação e adorava ser temido.

Behar puxou a fotografia sobre o criado mudo, quase vendo vermelho de tanto entusiasmo. Ele rolou as juntas dos seus dedos pelo rosto magro, descendo pelos lábios carnudos e então para o pescoço alvo. A mulher loira de cabelos esvoaçantes, era bonita e seria a coisa mais preciosa que buscaria. Se dedicaria. Afinal, tudo — de agora em diante — estaria dependendo do seu comportamento.

— Olá, querida! — Kapllani trouxe a foto para mais próximo da boca, depositando um gentil beijo logo acima das sobrancelhas finas. — É um prazer enorme finalmente conhece-la.

Gradativamente, o seu sorriso fora se abrindo, tenebrosamente escancarado, insanamente suntuoso.

Apesar do lugar estar lotado, não demorei para achar o meu parceiro. O loiro estava sentado em uma das cadeiras giratória, sua caneca estava cheia de cerveja e seus olhos fixos pelo balcão. Parecia muito confuso, ou talvez, um tanto bêbado.

Me aproximei, puxando minha jaqueta por meus ombros, e estiquei meus dedos sinalizando para Lexie.

— Ei, garota. Acho que irei querer o mesmo do que a florzinha aqui — disse me sentando.

— Acho que ele morreu há talvez umas duas horas atrás. — A garota de cabelo rosa mascou seu chiclete e olhou para Carter com asco. — Espero que ele não esteja dormindo de olhos abertos, ou que tenha mijado em suas malditas calças. — No segundo seguinte, seus olhos castanhos pularam para mim. — Você é amiga dele. A responsabilidade agora é toda sua.

Inadequadamente Excepcional (EM REFORMA)Onde histórias criam vida. Descubra agora