9- Como um coelhinho.

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INADEQUADAMENTE EXCEPCIONAL

Por Gabriela Vidor

Capítulo nove.

— Acho que a sua namorada não está muito bem, cara. Seria melhor leva-la embora.

— Não que isso seja um problema seu — falei, ácida o suficiente para Cole perceber. — Então solta a porra do meu braço, cacete! — bradei, me solavancando dos seus dedos.

Eu não sabia como eu sabia, mas simplesmente sabia, que em seu rosto havia um sorriso, o mesmo que eu me mordia de raiva toda vez que meu cérebro apitava. Sabia também que as malditas covinhas estavam ali, assim como a suave lambida de lábios, e aquele movimento ridículo no músculo da sua mandíbula. E eu nem se quer havia dado uma pequena espiada.

Com certeza, não era a primeira vez que a vontade de esmurra-lo passava por minha cabeça, e o fato de ainda não ter cedido, era um enigma. Mas eu não me importava. Afinal, a única coisa que ocupava a droga do meu cérebro batizado, era quantas malditas gotas de álcool o filho da puta havia derramado.

— Me desculpe por ela — foi o que pude escutar ao me afastar com pressa.

Não houve desafio em chegar à mesa, mas Annie me fez perceber que eu estava mais bêbada do que pensava — talvez fosse a minha imaginação, ou talvez não.

A geringonça momentaneamente inútil que eu denominava de cérebro, crepitava eletrizada e fugaz, mandando sinais de fumaça sobre uma total certeza, e pelo jeito como minha irmã me olhava, a loira não colaboraria com o meu humor diferenciado.

— Não sei se você está bêbada demais, ou se é só uma péssima atriz tentando fingir que ele não existe.

— Eu quero dançar — gritei na tentativa de ultrapassar o volume da música.

— Meu Deus, você está mesmo bêbada. — Annie umedeceu os lábios, cuidando para que os cantos dos seus lábios não subissem. — Você sabe que ele está dando uma conferida em Cole, certo? Estou com um pouco de pena do seu amigo, ele parece amedrontado. O cara é realmente assustador, e apesar de sexy, me pergunto como você acabou trepando com ele.

Eu apenas fingi não escutar o seu comentário obsceno — mesmo que ele chamuscasse sob minha pele — e beberiquei o líquido amargo. Eu poderia ser péssima, entretanto, continuaria tentando ignorar a existência do grande babaca.

Maaas, tudo ok. Bora lá, tigresa da pista.

Minha irmã segurou minha mão com firmeza e me puxou para o meio do aglomerado de gente. Não precisei me esforçar para acompanhar as batidas — já que o álcool parecia estar fazendo tudo muito bem sozinho. Era simplesmente maravilhoso conseguir me guiar pelas suaves notas que retumbavam em meu interior. Meu quadril deslizava de um lado para o outro, e eu não reclamei quando Annie me puxou suavemente para si, encaixando e sincronizando nossos movimentos. Não me senti incomodada quando o suor começou a escorrer por meu pescoço, ou quando o cansaço começou a me tomar. Apenas continuei ali, acompanhando a lenta música que me envolvia e conduzia cada gole de Whisky pra cima.

Desacelerei suavemente — do exato jeito que a batida exigiu —, e sem parar o movimento, me recostei em Annie, aguardando abertamente a volta do refrão. Não me contive quando o grave se iniciou — seguindo com entusiasmo mesmo que muito provavelmente audacioso demais. Se eu estivesse sóbria, evidentemente, isso não aconteceria.

Entornei o resto do liquido, e segui para a mesa mais próxima, descansando o copo — agora vazio — em um lugar qualquer.

Os olhos sobre mim não se desviaram a tempo, e do mesmo jeito que o flagrei, ele me flagrou. O meu modo foda-se murchou como uma bola recém furada, e eu me odiei quase que instantaneamente.

Inadequadamente Excepcional (EM REFORMA)Onde histórias criam vida. Descubra agora