16- Oficialmente docinho.

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INADEQUADAMENTE EXCEPCIONAL

Por Gabriela Vidor

Capítulo dezesseis.

Olhei para o espelho, um tanto quanto desacostumada a recente pessoa que via pelo reflexo.

Em pouquíssimos dias, eu havia emagrecido, nada muito exagerado, é claro. Havia parado de comer as porcarias industrializadas e começado a me alimentar o mais saudável que minha geladeira me permitia. Também me encontrava com suaves mechas douradas descendo pelas laterais do meus rosto. Um tom caramelizado suave e que aparentemente combinava comigo. Meu cabelo havia sido pintado e cortado. Um terno repicado, um pouco acima do ombro.

Liguei a torneira, levando minhas mãos pra baixo da água corrente.

Entre um olhar e outro, me dei conta que eu nunca fora tão parecida com Annie quanto estava agora. O tom do cabelo poderia ser um pouco mais escuro, mas era incontestável tal semelhança.

Suspirei e esfreguei meus dedos. A tinta persistia e os pequenos fios pareciam ter grudado em minha pele.

Arranquei a toalha de rosto do suporte na parede, desistindo de retirar as manchas, e sequei minhas mãos. Deixei a torneira ligada por mais alguns segundo, permitindo que o restante de cabelo fosse engolido pelo ralo, e então girei o registro. Fechei meus olhos por um instante, tentando imaginar e formar mais nuances que a senhorita Maddie poderia se tornar.

Maddie.

— Maddie — deixei que o nome rolasse por minha língua, não achando ser o tom exato de minha voz. Soava fraca, quase um ar impotente. — Maddie — tentei novamente. — Meu nome é Maddie Miller.

Esforcei-me em não entortar a boca para o nome inteiramente idiota.

Obviamente, Tate achara engraçado o fato de escolher um nome que eu mesma havia proferido na noite em que nos conhecemos. É claro que assim eu não poderia reclamar... Mas era um nome tão...

Suspirei uma vez mais, tendo um último vislumbre da minha imagem no espelho.


Alguns meses antes.

O bipe ecoou pela terceira vez seguida. Eu suspirei, encarei a tela brilhante e coloquei na discagem rápida novamente.

Levou mais um par de ligações para que Butch atendesse, e ele não pareceu muito feliz ao escutar a minha voz. Coblinsk bufou e suspirou dramaticamente enquanto proferia meu nome inteiramente exausto.

— Debra, você tem algum relógio ao seu alcance?

Como se somente agora prestasse atenção ao pequeno detalhe, olhei para os ponteiros pendurados pela parede branca, então me levantei da cadeira que rangeu, e pesquei o maço de cigarros em meu bolso. Não me importei de acender meu palito cancerígeno no escritório, afinal, eu estava sozinha e precisava acalmar minhas mãos que tremiam. Talvez tenha sido a noite mal dormida, ou talvez a cafeína excessiva; mas quem se importava com pequenos detalhes quando se tinha mais uma dúzia de desaparecidos.

Resvalei meu polegar pela testa — detectando o pequeno espaço aquecido e um tanto quanto pegajoso — e deslizei a janela aberta.

— Eu sei, eu sei, mas isso é importante. Eu juro que não tomarei muito do seu tempo. — Busquei o papel mais próximo, o arrastando para o ângulo da minha visão. — Eu estou juntando e etiquetando alguns documentos, e eu consegui uma lista que bate com alguns nomes. Todos estão levando pra uma direção... Mas isso não está fazendo o menor sentido... Essa pessoa está morta. Como Behar Kapllani continua exercendo o poder cível sobre seus bens, se estou olhando para o atestado de óbito desse filha da puta?

Inadequadamente Excepcional (EM REFORMA)Onde histórias criam vida. Descubra agora