6- Qual a porra do seu problema?

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INADEQUADAMENTE EXCEPCIONAL

Por Gabriela Vidor

Capítulo seis.

O ar frio bateu de encontro ao meu rosto e eu tremi dentro do moletom cinza. Busquei meu distintivo pelo bolso — ignorando por completo a fila que se formava ao meu lado —, a estendendo rapidamente para o segurança, que liberou minha passagem imediatamente. O oxigênio em meus pulmões era como agulhas percorrendo meu sistema, mas assim que passei pelas cortinas de veludo, o confortável aquecedor do estabelecimento me relaxou quase que instantaneamente. A diferença de temperatura permitiu que meu sangue se esquentasse e eu agradeci seja qual fosse à divindade responsável por isso.

Eu estava respirando como um búfalo raivoso pronto para o ataque, e minha postura, nada receptiva, fazia as pessoas me darem passagem. O grande amontoado de gente se abriu como o mar vermelho se abrindo para Moisés, me permitindo enxergar meu objetivo com mais precisão. O homem tatuado estava ao canto da área VIP, com seu copo de Whisky seguro em seus dedos e um duro sorriso sobrevoando seus lábios. Seu rosto não parecia como o de costume. Sua mão livre estava afundada no bolso do seu jeans, sua postura ereta, seus olhos fixos no nada. Nunca o havia visto tão sombrio.

As cordas que limitavam o espaço privativo, não me impediram de entrar como um furacão pelo degrau elevado, muito menos os seguranças, que apenas desviei, me forçando como se não os vissem bem ali plantados. Meus dedos agarraram o tecido da camiseta negra, puxando o algodão macio, e forçando meu antebraço de encontro ao peito largo. As costas do moreno bateram contra a parede com um baque seco e eu assisti sua mão ser levantada; um claro aceno para seja lá o que acontecia logo atrás de mim.

— Sabe, você está realmente fodendo com a porra do meu ano — disse entre dentes, sentindo as solas dos meus tênis estalarem os cacos espatifados pelo chão. — Qual o seu maldito problema, cara?

Ele bufou uma risada e aproximou seu rosto do meu lentamente.

— O que é? Veio dar pra mim novamente?

Eu sentia o calor subindo cada vez mais por meu pescoço, tomando conta do meu rosto e preenchendo minha respiração. Se antes eu parecia um maldito bicho feroz, agora eu tinha certeza que poderiam ser confundida com um.

— Olha só, se não é o bunda mole que temos aqui. Tentando algo novo só porque seus amiguinhos estão escutando?

Senti seus dedos deslizarem pelos fios soltos do meu cabelo, jogando-os para trás do meu ombro.

— Ei, não fique tão sentimental assim... Podemos ter outra noite daquelas. Te dou outro trato e você fica tão mansinha quanto ficou antes.

— Eu sei o que você fez.

Um dos cantos dos seus lábios se levantou.

— E o que eu fiz?

A música ambiente retumbou amena, enquanto o jogo de luz, mais claro que o normal, reluzia e dançava. Hoje, a casa noturna — talvez pelo dia — estava mais calma, mais vazia que o de costume. Pessoas se acumulavam pelo bar, e algumas paravam para observar o que acontecia na área um pouco mais afastada. Não me importei com os olhares que captei, visivelmente curiosos sobre mim.

— Peguei os vestígios que deixou pra trás e não vai demorar muito para eu te ter...

Com um movimento rápido, Tate me girou, interrompendo minha fala. Agora ele me tinha sob seu poder, tão duramente segura onde há um segundo atrás ele estava. Gemi com a dor eletrizante que subia por minha coluna, e apenas me dei conta dos meus olhos fechados, quando os abri inertes.

Inadequadamente Excepcional (EM REFORMA)Onde histórias criam vida. Descubra agora