17- Semântica

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INADEQUADAMENTE EXCEPCIONAL

Por Gabriela Vidor

Capítulo dezessete.

O enorme sofá negro que ocupava grande parte da modesta sala, estava sendo mantido refém, rodeado de caixas de papelão. As paredes lisas, ainda sem qualquer cortina, passavam um ar desconfortavelmente frio e solitário, ainda que eu não estivesse sozinha.

Matt parou ao meu lado com a enorme caixa nas mãos.

— Onde posso colocar isso?

— Na cozinha — disse apontando.

A tarde seria longa e cansativa, organizando o pequeno loft que Tate me arranjara. Eu, como uma boa teimosa, reclamara pelo espaço mais simples que conseguisse ou fosse possível.

Matt rapidamente estava de volta. Assisti ele se jogar pelo sofá, recostando-se nas almofadas e esticando os braços sobre o encosto. Parecia confortável no apartamento, até mesmo mais que eu; o que não era totalmente estranho, já que eu não sentia como se o apartamento fosse precisamente meu.

— É minúsculo — Matt frisou. — Mas visivelmente confortável pra alguém tão pequena quanto você.

— Eu não sou pequena.

Matt suspirou e balançou a cabeça, claramente sem concordar. Os castanhos de seus olhos brilharam em puro desânimo quando os desviou de mim, e mais um suspiro se sucedeu.

— Acho que você vai precisar de uma ajudinha pra desempacotar. Tate disse que apareceria por aqui, mas acho que isso não vai acontecer por hoje.

Apesar de parecer inofensivo, não gostei da ideia de ter ele bisbilhotando por ai.

— Está tudo bem, Matt. Eu consigo a partir daqui... Não é como se fosse muita coisa.

E não era mesmo. Na manhã do dia anterior, eu havia recolhido muito rapidamente pouquíssimas das minhas coisas essenciais, e enfiado em uma bolsa pequena de viagem. Todo o resto havia vindo de algum modo de Tate.

Assisti o loiro levantar as mãos e dançar os dedos pelo ar.

— Mas um par de mãos extra vai acelerar.

— Não me leve a mal, Matt. — O olhei séria. — Mas meus planos não é ficar presa em um apartamento miúdo com um gigante que nem conheço.

— Oh — Matt pareceu inicialmente surpreso, mas gradativamente, sua expressão foi se tornando chateada. — Compreendo.

— Eu não quis dizer isso — me apressei em falar. — É só que... — pausei com um longo suspiro. — O dia foi cansativo, e eu estou sendo inteiramente estupida ao recusar sua ajuda. Por favor, poderia me dar uma mãozinha?

Matt sorriu sarcástico.

— Me senti ofendido, acho que agora eu não quero mais te ajudar.

— Há, há. Engraçadinho.

O apartamento era pequeno como Matt dissera, mas eu não precisava de muito espaço.

Não demorou pra termos uma sala limpa e organizada, e demoramos menos ainda com a cozinha. Matthew e eu tínhamos conseguido desempacotar quase tudo ao entardecer, quando concordamos em dar uma pequena pausa. Ele estava novamente jogado pelo sofá, dessa vez zapeando pelas configurações dos canais. Até o momento, já havíamos virado duas garrafas e meia de vinho, e estávamos caminhando muito rapidamente para uma quarta.

Vasculhando os armários lamentavelmente vazios, eu tentava encontrar algo que não ofendesse inteiramente a culinária.

— Acho que teremos que pedir o nosso jantar — gritei, arrastando meu traseiro pra cima da bancada de mármore. Peguei o cereal da prateleira e joguei alguns granulados para dentro da boca. — Sinto que um buraco negro se apossa do meu estômago.

Inadequadamente Excepcional (EM REFORMA)Onde histórias criam vida. Descubra agora