O Convite

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Narrador por Werner Schünemann

Desde de 2003, não consigo mais ter a tranquilidade que tinha antes, mal posso sair na rua, os meus filhos já se acostumaram, mas ainda acho estranho não ter mais privacidade, os últimos papéis que fiz foram bastantes satisfatórios, conheci novos atores na casa e outros já consagrados, me sinto mais seguro e mais a vontade. Minha vida está mais estável, estou dando até conselhos e aulas para novos atores. O departamento mais difícil de adaptar foi o meu casamento, a Tânia e eu tivemos algumas dificuldades devido aos episódio de ciúmes, além disso, ela vivia à minha sombra desde que casamos, sempre trabalhou nos camarins de produção de cinema e não tinha oportunidade de fazer com o que ela realmente gostava.

Agora que as crianças estão crescidas, ela está com um studio e já apresentou seus trabalhos em eventos e galerias de artes. Nos tornamos mais parceiros dentro de um casamento sólido. Deixamos as cobranças de lado, temos um relacionamento aberto, onde o respeito está em primeiro lugar, não cobro, não julgo, apenas estou presente, ajudo no que for necessário e ela faz o mesmo. Estamos mais unidos, viajando e curtindo várias viagens em família.

Mantenho contato com alguns amigos que fiz, mas com a Eliane, confesso que tenho dificuldades, apesar da estrutura sólida que tenho em minha vida, sinto falta dela em cada aspecto. Desenvolvemos tanta afinidade, que as vezes me pego sorrindo ao recordar os momentos que compartilhamos juntos, as vezes me distraío lembrando da festa, vou até a parte de trás da casa e fico preso à lembrança. A presença dela alí ainda é real e posso sentir seu perfume em meu desvario mais insano. Já comecei a escrever mensagens para ela através do e-mail, mas no fim, observo o que escrevi e depois apago, nunca tive coragem de enviar. Entretanto, sempre acompanho seu trabalho como uma forma de matar a saudade e me orgulho muito de seus papéis e premiações, Eliane é uma atriz fantástica e merece toda a atenção e prestígio.

- Amor, onde você está? – escuto a voz de Tânia distante.

- Oi – falei alto. – Estou no terraço.

- Amor, já está tudo pronto, falei com Eric – disse animada e eu a olhei confuso.

- Tudo pronto pra quê? – falei sem entender e ela olhou pra mim irritada.

- O quê? Eu te falei sobre isso a semana toda, a minha viajem, Werner Eduardo - esbravejou um pouco.

- Ah! A sua exposição, desculpa amor, estava distraído – sorrir sem graça e me aproximei dela.

- Eu percebi – sorrio para mim – No que você estava pensando? - perguntou curiosa.

- No frio do Rio Grande – suspirei. – Sinto falta da minha terra – me olhou carinhosa. - Você vive saudoso de lá, não é mesmo? Quem sabe se tudo der certo, voltamos para lá? – balancei a cabeça concordando e a beijei.

- Te amo! – ela acariciou o meu rosto e eu retribuí o gesto.

- Também te amo, amor – falei sorrindo. Quando vai ser sua viagem? - questionei.

- Daqui a dois meses, a passagem já está comprada, vem que eu te mostro – ela me levou até a sala e mostrou suas ideias e as passagens. Ficamos ali, planejamento como seria quando ela estivesse fora, até que o meu celular tocou.

- Licença amor – peguei o celular do bolso e olhei para tela achando estranho.

- Quem é? - indagou-me.

- Eu não sei, é um número desconhecido – mostrei a ela. - Você conhece? - ela franziu a testa

- Não! Mas sempre tem um número estranho te ligando – ri ao lembrar das vezes que recebi trotes, mas quando meu celular toca, a primeira pessoa que me vem à cabeça é Eliane. Sem titubear, atendi.

Contigo en la distanciaOnde histórias criam vida. Descubra agora