CAPÍTULO IV: explicações, acusações e o que o oceano guarda p.1

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Ambrain – 1 a.i

O BAILE DAS estações havia sido cancelado.

Titã já tinha se erguido á abóbada dos céus fazia algumas horas, esgueirando sua luz pelas frestas e aberturas e chegando até os fios castanhos sujos e mal-cuidados do rapaz.
Sentia uma dor absurda, tanto física quanto emocional. A sensação de traição vinda das pessoas que mais admirava e confiava lhe dava um pesar infindável.

Havia um odor enjoativo no ar. Uma mistura de sangue, suor e lama que bailavam juntos e faziam o estômago dele revirar.
O lugar estava simplesmente imundo, e já não saberia dizer se realmente estava em seu reino de origem ou em algum outro pedaço de terra esquecido pelo Supremo.

— Vou perguntar uma última vez: — O homem mal vestido e provavelmente contratado chegou bem perto, sorrindo alucinadamente. O jovem soltou um grito gutural quando uma quantidade considerável de sal fora fora jogada em seu abdômen aberto e ferido. — Onde está o Inventor? — Perguntou pausadamente.

— Porque em nome do Supremo eu saberia? — Vociferou, sentindo suas forças irem se esvaindo conforme sua barriga ardia e ia queimando como ácido.

— Você é o braço direito dele! Com certeza sabe onde ele está. — Respondeu a altura, subindo até alguns decibéis, e colocando mais pressão na lança que ainda se encontrava dentro da enorme abertura no abdômen do prisioneiro.

O pior era que ele realmente não sabia. Não era como se ele o estivesse escondendo e encobrindo seus rastros e passos daqueles infiéis e desordeiros mandados provavelmente por inimigos da coroa. O rapaz realmente não sabia onde se encontrava o governante de Ambrain, e aquilo não era uma coisa boa. Se nem ele nem sua noiva – os mais próximos do enigmático homem – tinham conhecimento de seu paradeiro, o que poderia ter ocorrido?

Então, seus pensamentos voam exatamente para o último lugar que ele gostaria, pois quem entra em sua mente é a dona dos cabelos coloridos mais lindos de todo o reino. As madeixas lilases de Alystar invadem cada canto seu, fazendo-o lembrar do cheiro de jasmins e baunilha que as mesmas possuem e querer beija-lá o mais rápido possível. Ele não sabia onde ela estava, e isso o preocupava tanto que fazia o máximo de esforço para nem ao menos pensar nela, tentando evitar a dor que era em a imaginar morta em algum canto escuro e lamacento.

— Nem eu nem minha noiva sabemos onde ele está. Ele sumiu sem nos avisar. — Respondeu entredentes.

Seu grande amigo de manto negro como a noite havia desaparecido poucos dias antes do casamento mais falado do reino: o dele com a sua amada, futuros senhor e senhora Thorn e Alystar Anwyn.

— Bobagem! Como iremos acreditar em você?

— Bobagem é o que me pergunta. — Ironizou, mesmo sabendo que aquele não deveria ser o momento correto. — Eu sou o superintendente e o escolhido pelo Inventor e por Moabatsuill para me tornar seu sucessor e continuar a governar Ambrain sob posse de ambos os cargos, além de ser seu aprendiz. Se tiver dúvidas sobre minha inocência, pergunte a grande árvore da vida sobre a minha pessoa. Tenho certeza de que a resposta será a altura.

— Aquela maldita árvore criou um segundo guardião após a queda de Sylphid. Ele não deu brecha e conjurou de cara uma barreira impenetrável. — Retirou a lança de dentro da ferida do jovem de forma rápida, obrigando-o a gritar de dor. — Porém a única coisa interessante que saiu da sua boca é que caso ele sumisse, você assumiria o cargo de Inventor do reino. Extremamente beneficiário para você que ele tenha desaparecido de repente e agora seja um tremendo sacrifício de subir para a Oficina de Invenções, não é?

— Está me acusando de ter matado o Inventor para tomar a Coroa da Coruja?! — Exaltou-se, conseguindo se erguer o suficiente para lhe falar cara a cara. A dor no abdômen era excruciante, mas o absurdo que ouvira passava todo o resto que estava sentindo e se elevava para outro nível. — Como ousa?!

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