CAPÍTULO II: os manuscritos do mestre

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Ilha do Céu, oceano de maralto – 297 p.i

MESMO DEPOIS QUE ele praticamente expulsou Astra da cela, o prisioneiro não conseguiu dormir. Não que normalmente tivesse vontade de retornar ao mundo dos pesadelos em Ambrain. Atualmente, seus sonhos estavam numa etapa em que ele era torturado num lugar escuro e úmido e eram reais demais para que o rapaz tivesse vontade de os vivenciar.

A garota de cabelos coloridos implorou para ficar com ele e bolarem um plano juntos de como fariam para sair de lá. Afinal, não era uma tarefa tão fácil fugir com o prisioneiro mais perigoso da Ilha.

Porém, com a jovem lá ele não conseguiria organizar seus pensamentos como queria e permaneceria desnorteado. A presença desconcertante dela era a prova viva de que tudo com o que sonhou desde muito criança deveria ter um fundamento e provavelmente ser verosímil.

Sua noiva. Ela era sua noiva.

Talvez sendo a coisa mais difícil de engolir naquele momento, Torryn procurava não se desesperar e tratá-la da forma mais normal possível, mesmo lembrando de cada detalhe dos beijos com ela naquela outra vida.

Sem duvidas, nunca teve problemas em amar Maryllum. Porém, estar ao lado da garota que amou por muito tempo era, no mínimo, algo a se pensar.

Como modo de sair do tédio e ao mesmo tempo ajudá-lo, Astra se prontificou em ir até o escritório do falecido Naboo a procura de documentos e anotações que lhe dessem uma pista de como chegar no Inventor.

Até onde sabiam – e não sabiam de muita coisa – deveriam ir até ele para conseguir respostas e entender porque o homem de manto preto queria que a garota encontrasse o prisioneiro. O problema era que a única coisa que realmente ligava aquelas duas figuras enigmáticas eram os sonhos de Torryn e a conversa que teve com seu mestre.

Ele não sabia como, mas a dona de cabelos exóticos acreditava piamente nele.

Então, naquele exato momento em que o rapaz quebrava a cabeça para unir todas as informações e a jovem invadia secretamente o antigo cômodo lar de grandes mistérios do ancião, uma certa loira esgueirava-se pelo prédio Mor, o local de trabalho de seu progenitor.

Maryllum não se sentia a vontade naquele lugar abarrotado de narizes em pé e pessoas que tinha certeza absoluta que não tinham coração. A acusação tinha fundamento, já que todos aqueles homens – quatro, ao todo – do velho mundo eram os culpados pela atormentação do prisioneiro. Junto, é claro, do Grão-mestre e supremo comandante, que tiveram um papel essencial naquela baixaria.

Os dois toques hesitantes foram a prova do medo que corroía o corpo da pequena loira de meio metro de altura. Enfrentar um dos politicos, mesmo que fosse seu pai, era uma atitude assustadora para a menina, que sempre os respeitou.

Talvez não fosse certa admiração e fascínio pelo rei como outros reinos, mas Ilha do Céu sem duvidas tratava todos da câmara - que incluía a ordem dos anciões e outros - com o maior enaltecimento. As histórias de que eram os únicos sobreviventes da invasão e da guerra que assolaram e destruíram Ambrain e o resto do mundo, fazendo-os se isolar naquela pequena porção de terra fizeram a todos amá-los.

— Entre. — Uma voz conhecida e grossa lhe convidou, e ela queria que não tivesse tanta determinação para ajudar o amigo. — O que faz aqui?

Não foi uma demonstração de afeto. O homem rechonchudo e de barba por fazer já havia abandonado os bons modos com a família assim que foi colocado no importante cargo. A humildade parecia não fazer mais parte do seu ser e o mesmo ignorava a filha certinha e a esposa devota.

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