CAPÍTULO V: explicações, acusações e o que o oceano guarda p.2

45 6 24
                                    

  Ilha do Céu, oceano de maralto – 297 p.i

ENQUANTO O PRISIONEIRO se aprontava para a conversa mais importante de sua vida, Astra Nova se encontrava tentando escapar da cela em que se encontrava.

O moreno havia lhe avisado das portas protegidas pelos orbees, mas ninguém mencionou nada janelas ovais protegidas por grades esculpidas em rocha que davam para uma descida sem fim até o congelante mar que abraçava Ilha do Céu.

A garota de cabelos exóticos se deu ao trabalho de pôr a cabeça para fora e sentir a leve brisa vinda do oceano durante sua busca por algo que pudesse a ajudar na descida.
Por sorte (e uma pitada de ajuda do Supremo), a masmorra era uma torre alta e levemente entortada, e se sua janela fosse um pouco mais no canto, ela poderia cair em cima do telhado do resto do presídio. O problema era que ela iria se estatelar toda e - possivelmente- ter uma morte dolorosa.

E não podia morrer agora. Precisava ajudar Torryn a encontrar o Inventor.

Seus olhos azuis se encontraram com a cama, e um plano maluco e mirabolante veio a sua mente. Com a mira certa e um pouco de fôlego conseguiria se sair bem.
Era sua segunda fuga em menos de 24 horas, e se sentia uma completa delinquente.

No entanto, não era como se todos aqueles guardas fossem um primor da legalidade. Se fossem, afinal, Torryn não estaria na situação que a jovem o encontrou.

— Haul Haf, Senhor do Sol, do fogo, da justiça, da boa sorte e da fortuna. Tsillah, Senhora dos dentes de ferro, da forja, das mulheres, da determinação e do sacrifício. Líderes dos heróis e dos oprimidos e defensores das causas justas e nobres. — Sussurrou, rezando em nome daqueles entre os deuses que poderiam lhe ajudar naquele momento. — Eu peço que protejam-me, socorram-me e ajudem-me nessa fuga desmiolada contra uma ordem que me prendeu injustamente, para eu conseguir resgatar meu companheiro.

E em Cidade dos Céus, o lugar para onde todos os de bom coração iam, os dois deuses se entreolharam e ergueram suas mãos em forma positiva para a destemida e imparável Astra Nova, concordando com sua determinação e decidindo a ajudar naquele caminho junto do Supremo. Naquele momento, Haul Haf e Tsillah sorriram para a jovem garota.

Fez o máximo de força que podia com aquele um metro e setenta e um e aqueles sessenta quilos para poder quebrar o pé de madeira de apoio da cama.
Chutou três vezes, pedindo para que os guardas estivessem longe e não a ouvissem.

Mais duas vezes, a cama cedeu quando um dos pés saiu voando e bateu contra a parede da cela.
A garota de cabelos exóticos pegou os dois lençóis que jaziam na cama, amarrando um bem no meio do enorme pedaço de pau e o outro no primeiro pano.

Suas íris azuis a levaram até a janela novamente. As duas grades de pedra eram afastadas o suficiente. Provavelmente o presídio ainda não tinha tido mulheres magras como ela, pois a jovem conseguiria passar (com um esforcinho) por entre elas.

Não olhou para trás quando pulou para alcançar a mesma. Com uma mão em cada lado segurando, passou primeiro as longas pernas, e com muito cuidado foi se arrastando para fora. Quando sentiu metade do corpo para fora, sem nenhum equipamento que a segurasse e podendo cair a qualquer momento, sentiu pela primeira vez - mesmo sem memória - que a morte estava muito próxima.
Mas não era hora de voltar atrás.

Com uma das mãos segurando a grade e se permitindo olhar apenas uma vez para baixo, Astra respirou fundo, olhando os céus, e sem seguida tentou pela primeira vez jogar o pedaço de madeira dentro da janela vizinha.
Tentou uma, duas, três vezes.

Respirou fundo mais uma vez, sentindo seu braço dolorido, e jogou novamente.
Caiu dentro! A garota comemorou internamente e com apenas um sorrisinho cansado.

Memórias de AmbrainOnde histórias criam vida. Descubra agora