Capítulo 34

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-Ally! Ally!

Brooke viu uma mão caucasiana estalar os dedos próximo ao seu rosto. Olhou na direção de quem o fazia e deparou-se com Grant olhando-a com cenho franzido e olhos semicerrados.

-Oi?! -murmurou totalmente aérea.

-Estou chamando a horas e você aí nesse transe sinistro. -ele arqueou uma sobrancelha. -O quê tá acontecendo,preta? -fechou o livro que tinha nas mãos e se concentrou vê-la.

-Nada. -tentou sorrir. -Estou só cansada, baby.

-Nem vem com esse sorrisinho zumbi. -meneou a cabeça. -Diz logo o que está acontecendo, amorzinho. -tocou o queixo dela carinhosamente.

Ally suspirou profundamente e encostou a cabeça no ombro do amigo. Eles estavam no campus da universidade no horário de intervalo entre duas aulas, a intenção era estudar para prova que teriam na próxima aula mas Alysson estava perdida em devaneios durante todo o dia. Perdia rápido o raciocínio, não tinha muita concentração e corrigia o óculos a cada dois segundos, estava assim a algum tempo totalmente alheia e arisca.

-Eu meio que estou brigada com Leon e isso está me afetando um pouco. -desabafou. Era bom contar para alguém como se sentia, embora não pudesse contar todos os detalhes, e Grant era um ótimo amigo. Além de divertido, ele era um ouvinte maravilhoso e um bom conselheiro, e Ally sentia-se bem com ele.

-E você está com saudades mas não quer dá o braço á torcer? -ele indagou como se já soubesse a resposta.

-É basicamente isso. -fez uma careta.

-Para que uma briga tenha fim às vezes só é necessário pedir desculpas e dizer o que sente. -Ally sorriu. Ela queria que fosse fácil assim.

-Não vai funcionar. Não sou boa em dizer o que eu sinto. -deu de ombros.

-Dizer o que sente pode ser bem complicado mesmo, mas já tentou explicar a ele que pra você é difícil dizer?

-Ele iria querer saber o porquê. -murmurou. -E pra mim é ainda mais difícil. -Grant suspirou.

-Você é marcada, Ally, mas isso não quer dizer que precisa carregar tudo sozinha. Quando falamos sobre nossos traumas, medos, problemas e soluções com a pessoa que amamos o peso em nossas costas diminui e o alívio de ter com quem contar é gratificante. -Grant parecia sentir cada palavra. -Quando guardamos só para nós a dor parece que nunca passa e os medos só aumentam, aí a gente acaba tendo medo de viver e ser feliz.

-O quê fizeram com você? -Ally perguntou olhando-o com carinho. Ele sorriu e ajeitou os cabelos acobreados.

-Minha mãe biológica nunca aceitou minha personalidade e eu sofria constantes agressões, não só física como verbais. Palavras que nem o pior ser humano merece ouvir, que me feriam. Quando fiz dezesseis anos e disse que tinha um namorado ela me trancou num quarto escuro sem água e comida por dois dias. Mas meu pai tomou a minha guarda quando descobriu e me trouxe para morar com ele e minha madrasta que chamo de mãe. Então aprendi o que era ser amado como eu era mas tive um longo processo para aprender a conviver com as pessoas. -Ally abraçou-o completamente comovida. Nunca imaginou que ele sendo tão alegre e extrovertido tivesse passado por tanta coisa.

-Sinto muito, baby.

-Não sinta. Eu não sinto mais. -beijou-lhe o topo da testa dela. -Eu fiquei um bom tempo recluso no meu próprio mundo fingindo para todos que eu era feliz. Mas só consegui ser feliz de verdade quando expus a minha dor e busquei me libertar dela.

-Eu não sei se consigo. -ela sussurrou deixando sua expressão aflita em evidência. -E se ele não entender?

-Ele te ama tanto quanto parece amar, ele vai entender com certeza, preta. -sorriu. -E se ele não entender, foda-se. Você merece o melhor e se ele não puder ser o melhor, ele não te merece.

ContratadaOnde histórias criam vida. Descubra agora