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Lívia

11 de fevereiro de 2022

— Mãe! — Rafael corre na minha direção e me abraça.

— Oi, meu amor. — abraço ele de volta.

— Hoje eu vou jogar futebol na quadra! Posso? — ele pergunta animada.

— Claro que pode. Vou olhar você, tudo bem? — ele concorda.

Ele me conta como foi na escola e eu escuto tudo muito atenta. Rafael adora falar e eu adoro escutar.

Sempre foi nós dois. Eu engravidei muito cedo, com apenas 13 anos. O pai dele sumiu e eu tive que segurar a barra sozinha.

Eu tinha 13, estava pra completar 14. O Rafa chegou dois dias depois do meu aniversário.

Minha mãe me expulsou de casa e eu tive que arrumar um emprego, parar de estudar para conseguir sustentar meu filho. Eu voltei para escola pouco tempo depois.

Era difícil escutar meu filho chorar e saber que não tinha as condições certas para criar ele bem.

Sorte a minha que eu tenho a Maria Luiza. Ela arrumou uma casa para mim com o aluguel baratinho e sempre olhava o Rafael para eu trabalhar quando podia. Quando ela não podia, eu levava o Rafa comigo.

Hoje em dia, ela comprou a casa que eu moro e montou um salão no andar de baixo. Eu moro no primeiro andar. Eu insisti em continuar pagando o aluguel, ela faz demais por mim.

Eu não guardo mágoas da minha mãe, mas ainda dói para caralho. Eu sofri muito para criar o Rafael.

Ela gosta do Rafael e eu o levo para a visitar às vezes. Mas ela me abandonou quando eu precisei. Esse é o tipo de coisa que você não esquece.

— A professora me disse que eu tenho a letra bonita! — ele fala animado — Eu já escrevo tudo direitinho, mãe.

— Você pode me mostrar? Eu gostaria de ver. — pergunto sorrindo e olhando para ele.

— Claro que sim! — ele ficou mais animado.

Rafael estuda de tarde, de manhã ele vai pro futebol. Eu matriculei ele em uma escolinha de futebol no morro mesmo. Ele adora demais. Ele vai duas vezes na semana, terça e quinta.

Eu levo ele no futebol de manhã e Malu busca ele. Ela arruma ele para escola e uma van escolar deixa ele na escola.

Quando não tem futebol, a Malu vem olhar o salão e passa o olho nele. Quando ela não pode, as meninas do salão olham ele para mim.

Eu chego em casa de cinco horas e espero ele chegar em casa.

Eu trabalho como vendedora em uma loja de joias no shopping. Eu pego de oito e fico até as quatro. Trabalho de segunda à sexta e recebo mil e seiscentos.

Dá para pagar as contas e sobra um pouco. Sorte a minha que o aluguel é barato.

Eu pretendo fazer uma faculdade assim que o Rafa crescer mais um pouco. Não quero deixar ele sozinho em casa durante a noite.

— Amanhã é sábado? — Rafa pergunta.

— Sim. Amanhã eu não trabalho e vou passar o dia com você! — ele sorriu.

Eu sei que ele sente a minha falta às vezes. Queria poder levar e buscar ele na escola. Eu sempre tento explicar que preciso trabalhar. Mas ele é só uma criança e não entende as coisas direito.

Eu amo ele mais do que tudo nessa vida.

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