Lívia
11 de fevereiro de 2022
— Rafa! — grito o nome dele enquanto procuro ele com os olhos.
Ele aparece na minha frente com o sorriso banguelo e um cachorro quente nas mãos.
— Quem te deu isso? — pergunto limpando o molho do rosto dele.
— O tio Rogê! — aponta para um homem que está conversando com o Jota.
— Entendi. Quando um estranho oferecer comida, você me pergunta primeiro, tudo bem? — falo e ele concorda imediatamente.
— Vou voltar a brincar. — diz e eu concordo.
Ele sai correndo logo em seguida.
Malu chega do meu lado com um prato pequeno de batata frita na mão.
— Quer um pouco? Rogê tá pagando comida pra geral. — pergunta de boca cheia.
— Não, amiga. Obrigada. — agradeço com um sorriso. — Acho que já vou indo para casa, estou tão cansada hoje.
— Dia puxado no trabalho? — ela me puxa pra sentar em um banco de cimento.
— Sim. Muitos clientes hoje. Sempre achei que lidar com gente rica era mais calmo, mas são muito mal-educados. — reclamo.
— Alguém foi grosso com você? — ela pergunta enquanto devora sua batatinha.
— Um pouco. As mulheres bem vestidas sempre me olham como se eu fosse inferior — digo tentando engolir o choro — Mas eu não sou, sabe? Não sou pior que ninguém.
— Poxa, amiga. Não deixa essas mulheres entrarem na sua cabeça, você tá correndo atrás do seu, trabalhando pra caramba. Tentando sustentar sua cria. — ela rebate. — A maioria desse pessoal não sabe o desespero de ver seu filho pedindo e não ter. A dor te torna mais forte.
Ela me fez refletir por um momento sobre o assunto. Não quero e não posso largar meu emprego por causa de pessoas que me olham torto.
Sempre tento ser respeitosa com todos e compreensiva.
— Mudando de assunto um pouco, será que você não quer ficar comigo mais um pouco? — ela pede com olhinhos de cachorro abandonado.
— Você sabe que não consigo te negar nada. — digo enquanto ela ri.
[...]
— Você tá com fome? — pergunto enquanto limpo a poeira do short dele.
— Não muita, mãe. Comi o cachorro quente aquela hora lá. — ele explica e eu concordo.
— Posso esquentar comida quando a gente chegar em casa — ofereço e ele nega — Tudo bem. Se despede dos seus amigos que a gente já vai.
— Beleza.
Ele corre para se despedir de todos os amigos e eu aproveito para me despedir de Malu e Jota.
— Já vou indo, gente. Beijo para vocês. — aceno.
— Tu tá subindo? — um cara moreno com um cavanhaque pergunta apontando para cima.
— Tô sim. — respondo simpática.
— Tô de moto, posso te dar uma carona. — balança a chave nas mãos.
— Não precisa. Tô subindo com o meu filho. — aponto para Rafael correndo na nossa direção.
— Nesse caso, posso acompanhar vocês. Também moro por ali. — disse com um sorriso.
— Pode ir, Lívia. Não vou conseguir levar vocês agora e seria bom o Rogê te acompanhar. Para a segurança de vocês. — Jota acrescenta e eu concordo.
Então esse é o tal do Rogê. O cara que manda e desmanda aqui.
— Tudo bem, vamos. — digo com um sorriso simpático no rosto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Detalhes
General FictionLívia é uma mãe solteira de 22 anos que tenta criar seu filho em um cenário de muita violência. Rogê acabou de sair da prisão, cumpriu sete anos. Assim que conhece Lívia, ele logo fica encantado por ela e seu filho. "- Você me encantou desde o pri...