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Lívia

11 de fevereiro de 2022

— Nem me apresentei, sou o Rogê. — ele estende a mão e eu aperto sorrindo.

— Sou Lívia. Aquele é meu filho, Rafael. — aponto para Rafa que estava se despedindo dos tios.

— Achei que era teu irmão. — ele admite chocado e eu dou risada.

— Fui mãe cedo. — respondo olhando para Rafa.

— Podemos ir? Minha perna tá doendo. — Rafael choraminga.

— Vamos? — pergunto pro Rogê que confirma.

Ele pede pra um homem levar a moto dele pra casa e começamos a subir o morro.

Rafael sai andando na frente, como sempre faz.

— Teve ele com quantos anos? — ele tenta puxar assunto.

— 14. Tenho 22 agora. — respiro fundo. — Você tem filhos?

— Tenho uma filha. Ela tem quatro anos. — ele diz enquanto coloca as mãos no bolso.

— Ela mora por aqui? — ele concorda. — Entendi.

— A mãe dela não quis sair daqui. Eu também não quis que minha filha fosse embora. Passei uns anos preso e quero ver ela crescer de perto. — explicou.

— Imagino que seja um bom pai. — digo com um sorriso.

Por um momento, me sinto mal pelo meu filho. Queria ter escolhido um pai melhor pra ele também. Me sinto feliz por essa menininha ter um pai presente.

— Eu tento. Mas ninguém é perfeito. — ele diz com um sorriso de lado. — Seu marido tá trabalhando? — ele pergunta curioso.

— Eu não tenho marido. É só eu e o Rafa. — explico sem entrar em detalhes.

Não me sinto bem falando sobre o assunto. O Dantas é um dos "funcionários" dele. Não quero criar intrigas com ninguém.

— Entendi. Não quero deixar você desconfortável.

— Não deixa. É só que o pai não assumiu. Não tem uma grande história por trás. — digo tentando dar o mínimo de detalhes possíveis.

— Esse cara deve ser um babaca. — ele diz e eu concordo meio envergonhada.

— Você sempre morou por aqui? — tento mudar de assunto.

— Sim. Meu pai era traficante também. É coisa de família. — ele diz amargurado.

— Entendo. — percebi que ele não quer entrar muito no assunto. — Moro aqui há quase oito anos.

— Nunca tinha te visto aqui. Achei que tinha se mudado quando eu já estava preso. — ele disse.

— Eu tinha uns treze anos. Morei com a Malu por um tempo, consegui um emprego e aluguei uma casa.

— Terminou o ensino médio? — assinto. — Você trabalha com o que?

— Sou vendedora em um shopping. — paramos na calçada da minha casa. — Aqui é minha casa.

— Adorei sua companhia. Você parece ser uma pessoa muito legal. — ele disse sorrindo.

— Tchau, tio! — Rafael acena e sobe as escadas correndo assim que destranquei o portão.

— Cuidado! — grito e Rafael faz joinha com a mão. — Boa noite, Rogê. Obrigada por me acompanhar.

— Boa noite, Lívia. — ele estica a mão fechada.

Faço um soquinho com ele e entro em casa.

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