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Rogê

11 de fevereiro de 2022

Finalmente estou livre. Estavam todos os manos comemorando minha saída.

Passei sete anos preso e estar em casa não tem preço. Senti falta até dos estresse que eu tinha.

Agora eu tenho a "ficha limpa". Nunca deixei de comandar o morro e a polícia sabe disso. Mas não tem nada que comprove que estou fora da lei.

— Cerveja pra todo mundo por minha conta! — grito e todos comemoram.

Ficamos bebendo e jogando conversa fora. Eu senti saudade disso.

Passei alguns dias com minha mãe em Belford Roxo, onde ela mora. Agora estou de volta na favela e pretendo passar um tempo por aqui.

Minha filha está aqui e pretendo ver ela crescer de perto. Ela tem quatro anos e me viu poucas vezes. Cadeia não é o tipo de lugar que eu quero que ela frequente.

— Tio! Tia! — ouço uma voz de criança perto da nossa mesa e viro o olhar no mesmo instante.

Vi um menininho com uma camisa do flamengo perto da mesa.

Jota e a Maria Luiza foram abraçar ele. Deve ser o afilhado que ele tanto fala.

Voltei a prestar atenção da conversa do pessoal.

Estávamos rindo até Jota gritar para a dona do bar. Olho para onde ele estava, vejo uma mulher beijar a cabeça do menino e em seguida ele saiu correndo.

Porra, que mulher bonita.

Viro meu olhar novamente e tento acompanhar a conversa.

— Galera, vou ter que sair rapidinho. — Jota comunica e eu olho pra ele.

— Por que? — alguém da mesa pergunta.

— Vou olhar meu afilhado jogar futebol. O moleque é bom demais. — fala orgulhoso.

— Porra, as crianças vão jogar hoje? — pergunto olhando para a quadra. — Vou dar uma olhada, pô.

— Bora logo, já deve ter começado. — ele fala e eu me levanto.

Andamos até a quadra e sentamos perto da esposa dele e da amiga dela.

Fico olhando os moleque jogar. Faz muito tempo que não faço isso. Sete anos em cana. Sete anos é muita coisa.

Fico muito tempo prestando atenção que nem consigo ouvir sobre o que os três estavam falando.

Quando deu intervalo, os moleques vieram me puxar para jogar.

Tô meio enferrujado, não vou mentir. Mas não vou negar.

[...]

— Isso é injusto, pô! — grito quando o jogo acaba e o outro time ganha.

Um menino do outro time cruza os braços e dá risada da minha cara.

— É minha culpa que o tio é ruim? — ele pergunta todo debochado.

Minha boca abriu de tanto choque. Moleque marrento.

Mas ele tá certo, ele se destaca entre os outros. Joga bem pra caralho.

— Sou ruim não, tu que é bom demais. — falei vendo o moleque sorrir orgulhoso. — Vou pagar lanche pra todo mundo, podem pedir o que quiser. — falo pra todos escutarem. — Não tenham pena, fiquem à vontade!

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