Capítulo 3 _ Explosão de cores

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Mahara

Finalmente havia chegado o Holi, Festival das Cores. Simplesmente a festa mais colorida e bonita de toda a Índia, que anunciava a chegada da primavera e fim do inverno.

— Tchalô, Mahara! — Mamadi me chamou apressada. — O bem venceu o mal! Vamos logo! Vamos celebrar! — Me abaixei e toquei nos pés dela, ela tocou minha cabeça me abençoando e sorriu novamente. — Tchalô, anda!

Todos os dalits amavam essa festa, pois era a única que não havia distinção social, afinal todos usavam roupas velhas para receberem os pós coloridos que as pessoas jogavam umas nas outras. E no final quando todos ficam inteiramente coloridos, não há forma de distinguir as castas, pois ficam todas iguais.

Dadi contava que esse festival nasceu graças ao deus Krishna. Ele amava perdidamente Radha, porém, a diferença de suas cores de pele o incomodava profundamente. Então seguindo o conselho de sua mãe, ele pintou o rosto de maneira colorida para ficar da mesma cor que sua amada, para assim poderem celebrar o amor sem julgamentos.

— As fogueiras já estão apagadas! É hora do Holi! — Baldi gritou eufórico pela janela.

Na noite anterior, véspera do festival, todos construímos fogueiras com galhos e folhas secas pelas ruas das cidades, para representar a purificação de toda maldade. Quando as fogueiras apagam pela manhã significa que a festa deve começar.

Coloquei a roupa mais velha que tinha, um sári rosa-claro e puído pelo tempo, com o véu da mesma cor. Mamadi e baldi estavam atirando as poucas cores de pó que tínhamos um no outro, por isso tive que dividir o meu com eles. Assim que chegamos na maior concentração de pessoas já estávamos inteiramente coloridos. Consegui um pouco da cor rosa, que simboliza o amor, com uma criança que me ofereceu gentilmente. O som dos inúmeros tambores ressoavam com as vozes marcantes entoando músicas animadas. Todos dançavam enquanto uma chuva de tinta nos unificava.

Dancei como nunca havia dançado antes. Meu interior estava em festa e meu exterior fazia questão de demonstrar isso. Rodopiei repetidas vezes no ritmo da música e acabei colidindo meu corpo com violência contra uma parede de músculos.

Olhei assustada para as minhas mãos espalmadas sobre o peito rígido de um homem, no local que batia forte seu coração agora estava totalmente tingido com o pó rosa que eu segurava. No susto ele agarrou firmemente minha cintura para eu não cair. Nossos olhares se encontraram e meu coração foi parar na boca quando vi que era Karan, o homem que conheci no templo no dia anterior.

— Lalita! — Ele me reconheceu me soltando vagarosamente de seu abraço.

Meu peito subia e descia com o nervosismo da sua aproximação do meu corpo. Pisquei confusa e recuei um passo.

— Desculpa! — Murmurei envergonhada e ele sorriu tranquilamente.

— Sem problemas. — Disse se aproximando perigosamente. — Eu que peço desculpas.

— Por quê?

O olhei confusa e então ele colocou a mão no bolso da calça e depois a ergueu fechada diante do meu rosto, em seguida atirou em mim o pó laranja, que simboliza alegria, me fazendo rir.

— Agora estamos quites. — Declarou ostentando um lindo sorriso.

— Tik He. — Concordei e inesperadamente ele estendeu a mão em minha direção.

Hesitei um instante, porém, tive receio de levantar suspeitas e peguei na mão dele. Eram coisas tão simples, mas que me deixaram fascinada. As pessoas normalmente não queriam nem sequer pisar na minha sombra, quanto mais tocarem em mim.

De repente abriram espaço à nossa volta assim que uma nova música começou a tocar. A dança era feita com pares em um círculo e obviamente eu não tinha um par.

— Dança comigo? — Karan convidou e tomada pelas emoções do momento eu aceitei, mesmo sabendo que não era certo dançar com um homem que não era da minha família.

Ficamos um de frente para o outro e fizemos os mesmos movimentos que os outros faziam ao nosso lado. Comecei a rir quando rodopiamos e dessa vez não nos esbarramos. Karan sorria o tempo todo também. Seus cabelos longos ricocheteavam no ar quando ele pulava ou rodopiava. Era um homem muito atraente. Tentei desvendar qual seria a casta dele, imaginei que fosse um comerciante.

No final da música começou a tocar outra que deixava a todos dançarem livres, entretanto, mesmo assim permanecemos inexplicavelmente dançando juntos. O olhar de Karan seguia atento todos os meus movimentos, parecia hipnotizado e isso era engraçado. Nenhum homem nunca havia me olhado assim.

No final da dança fiz o gesto da flor de lótus com as mãos, onde juntei meus punhos, uni os polegares e os mindinhos, deixando os outros dedos abertos. Era o mudra para abrir o coração. Eu sabia que ele só estava agindo tão gentilmente comigo por não saber quem eu era de verdade, por isso desejei silenciosamente que o coração dele pudesse se abrir contra os preconceitos da nossa sociedade.

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