004・BURACO NEGRO

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não havia resposta. todas as mensagens eram apenas enviadas, as ligações não chegavam ao destino final e isso somente deixava os meninos cada vez mais preocupados. hyunjin fingia que não chorava tanto — o que era uma bela mentira, os dois namorados ouviam os choros baixos na madrugada — e dizia que felix não gostaria de o ver assim. mas, a verdade era que hyunjin não sabia de mais nada. vênus girava de maneira solitária no seu próprio tempo, orbitava tão pouco entre os dois planetas restantes.

era gelado. pensava que havia se tornado outro em tão pouco tempo. se um dia vênus significava amor, hoje poderia ser taxado como apenas dor e caos.

netuno tentava esconder aquela dor excrucitante que o matava por dentro, que afligia todas as suas partes e o sufocava com intensidade. felix era uma parte vital de si, não poderia sobreviver sem aquela parte cuja função era lhe manter vivo e intacto. não estava inteiro, cada caco do que um dia fora uma bela vidraça hoje se encontrava em uma perfeita ruína. estava estragado, remexia-se em busca de conforto mas sempre falhava.

era doloroso. a dor que lhe acometia o torturava conforme dava passos inseguros. não sabia que seria tão difícil seguir não tendo felix ao seu lado.

saturno olhava os dois — observava o modo como eles lidavam com a dor e a triste consequência — e pensava no que havia feito felix se afastar tão bruscamente da vida dos três. todos eles eram carinhosos, ajudavam uns aos outros e não havia porquês plausíveis para tamanha provação. ele queria apenas o amor de volta, aquele que o aquecia em noites gélidas, que fazia o vazio no peito parecer completo.

era horrível. aquele sentimento de vazio apenas tomava espaço por suas entranhas, consumia sua energia e usava sua carne como base. um pilar de sofrimento, que logo mais seria destruído pela incapacidade e seria erguido o pilar da desistência.

「 • • • 」

em um dia, tudo poderia mudar de modo drástico. em uma semana, todas as dores poderiam crescer. e em um mês, tudo poderia se transformar. sendo positivo, ou não. hyunjin não largava o celular pois temia perder a chance de falar com felix caso ele voltasse a aparecer. changbin e christopher trocavam olhares significativos quando hyunjin não estava vendo e cochichavam sobre em determinados momentos.

não estava fácil para nenhum destes. com pés os brasas ardentes, todos eles caminhavam por aquele árduo caminho. os braços presos por cordas de aço impedindo que ajudassem, não podiam fazer nada. a polícia já estava auxiliando do modo como podia, mas nem mesmo eles tinham uma resposta para isso.

— jinnie, vem comer. deixe o celular por alguns segundos. — disse christopher adentrando o quarto naquela manhã de sábado. hyunjin olhou para o mais velho e negou repetidamente. odiava ter que agir de maneira mais séria com os mais novo, porém, bem sabia que os demais deviam comer. mesmo quando não havia fome. e, ultimamente, fome quase não existia.

— você sabe que não tenho fome. — disse-lhe em um baixo sussurro do qual chan somente ouviu por estar levemente próximo. sentou-se na beirada da cama e hyunjin rapidamente foi parar entre seus braços. — tem sido difícil para mim comer.

— eu sei, anjo, eu vejo o quanto você parece mais magro. não dança mais, não canta mais... eu me preocupo com seu bem estar, me parte o coração saber que está assim. — foi lhe dizendo num tom de voz suave e delicado. levou a destra para o cabelo de hyunjin onde começou a fazer carícias singelas e lentas. hyunjin sentia-se como um bebê no colo da mãe, somente chorar parecia aliviar toda a sua dor.

— eu quero o lix de volta. — foi sua resposta antes de começar a chorar. o choro baixo era abafado por conta de sua posição, as lágrimas molhavam a blusa de christopher mas ele nem ligava para isso. o corpo esguio de hyunjin tremia parcialmente, murmúrios desconexos saiam por entre seus lábios e a tal dor retornou ao peito de christopher.

「 • • • 」

tantas músicas foram feitas para a magnitude que era o sol — embora o sol não fosse ouvi-las — e netuno apenas continuava. teve seu corpo pequeno abraçado por chan e repousou a cabeça sob o peito do mais velho. um suspiro escapou por sua boca indicando o quanto estava cansado — não apenas por causa do trabalho que vinha mantendo nas últimas semanas, mas também por conta de felix. ele havia desaparecido da face da terra e nem mesmo existia uma razão para isso. changbin achava que poderia ser algo relacionado aquele papel achado tempos atrás, toda via, nunca mais receberam nada.

estava assustado diante de tudo isso que vinha acontecendo com eles. todos os seus desejos giravam em torno de felix — do sol que não estava em seu devido lugar — e, mesmo assim, nada acontecia. ele temia que a desistência batesse em sua porta e temia mais ainda que suas mãos trêmulas abrissem a mesma para esta entrar. temia que não seria forte o suficiente para suportar mais um segundo longe daquele que tanto ama. temia cair em ruínas, em terra e em amargura. o gosto amargo da consequência se alastrava por todo o seu paladar, e isso lhe irritava, e, consequentemente, o fazendo tão mal.

— jinnie dormiu. — falou chan ainda abraçado ao corpo de changbin. o mais novo girou sob a cadeira ficando de frente para christopher. era tão óbvio a diferença de estatura destes, eram como céu e terra: tão opostos, mas que, no final, se completavam. — mas me prometeu que tentaria comer quando acordasse. ele anda tão disperso.

— já não vejo mais o brilho no olhar dele. simplesmente se foi. — murmurou, incerto. tentava animar hyunjin — mesmo sabendo que falhava muitas das vezes — e a bendita sensação de impotência surgia.

— ultimamente, tudo se apagou. — responde chan tristonho. seu olhar se encontrou com o de changbin e mais uma vez trouxe outro corpo para si mesmo, no intuito de guardar e proteger aqueles meteoros: tão instáveis, tão passageiros, e tão intensos.

「 • • • 」

o brilho das estrelas, independente do local que você veja, é perfeitamente encantador. aqueles diversos pontos brilhantes no céu noturno, aquelas constelações alinhadas de maneira correta — hyunjin sabia algumas, felix o ensinara quando estavam na austrália — e todas as fases da lua. se alguém indagasse ao planeta vênus como ele estava, certamente diria que estava como a lua cheia: um tom mais escuro.

hyunjin acordou como os demais dias: sentindo aquele estranho vazio. não estranhou, ultimamente, ele era seu melhor amigo. buscou pelo calçado localizado ao lado da cama e caminhou até a janela que existia naquele recinto. a brisa gelada acariciava sua faceta fazendo um sorrisinho triste surgir por entre os lábios, a escuridão da noite predominava o momento — pouquíssimas luzes estavam acesas naquele horário — e hyunjin começou a observar as estrelas.

cada uma delas representava uma estória, era o que dizia felix quando estavam juntos. o mais novo contava a respeito de contos fantasiosos, de seres iluminados e corpos reluzentes. narrava romances trágicos, eventos complexos e cenas doces.

"— mas é verdade. — felix dizia a hyunjin enquanto o mesmo ria amplamente. estavam na varanda ampla da casa de felix, na austrália, observando a noite. o antigo ruivo olhava para o mais velho fingindo estar bravo, mas o sorriso em seu rosto entregava tudo. atrás destes estavam changbin e christopher observando a conversa animada dos mais novos. — cada estrela têm, pelo menos, uma estória.

— e como você sabe disso, hein? — hyunjin rebateu com um sorriso de canto. tentou abraçar felix, porém, este apenas correu de si e decidiu abraçar changbin. a risada daquele que acolheu felix soou alta pelo local, chan tentava conter as próprias risadas mas falhava.

— minha mãe contou pra mim. — diz. — tudo têm sua estória. seja você, ou seja eu. as estrelas são uma parte vital das coisas, elas acompanham a lua de modo que esta não fique sozinha. acalentam os corações dos enamorados e representam mais do que corpos celestes. embora a visão esteja embaçada, elas clareiam. o caos, a poeira cósmica, os mínimos pedaços de algo importante... tudo está lá, e elas estão lá."

agora, olhando para tudo que felix o ensinou, hyunjin somente desejava se encolher e manter sua mente nas velhas memórias. elas sim pareciam certas e perfeitas.

— jinnie, venha comer. — changbin o chama entrando no quarto. o mais novo se virou lentamente e estranhou o pequeno sorriso na face de changbin. — felix mandou uma carta.

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