24 HORAS

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>dia 25/08/19
>19:00
>mais um dia comum
>estou no metrô, como sempre
>horário de pico
>exausto depois do serviço
>meu dia foi uma bosta, só estresse
>meu chefe é um imbecil
>meu trabalho é uma merda
>mas preciso, afinal, moro sozinho
>desde que briguei com meus pais e saí de casa, têm sido assim
>sem amigos, sem família
>tem a Karol, lá da empresa
>morena, linda, 10/10
>ela vive sorrindo pra mim, mas dane-se, não tenho chance
>não saio faz muito tempo, não vejo graça
>nem lembro mais como chegar numa depósito
>finalmente chega na minha estação, hora de ir pra casa
>moro a uns 2 quarteirões, dá pra andar de boa
>é meio perigoso, mas se eu morresse ninguém ligaria mesmo
>só eu e meus fones
>coldplay_the_scientist.mp3
>passando por um beco aparece um homem, uma mulher, sei lá, bem na minha frente
>tinha uns 2 metros, usava um capuz, uma capa, sei lá
>não dou a foda, afinal, não tenho medo da morte
>o homem fica estático, como se estivesse me encarando
>provavelmente um assalto, merda
>ainda estava pagando meu celular, não queria perder
>ele se aproxima, tem uma feição pálida, quase que sem vida
>naquele momento eu travei, meu corpo simplesmente não me obedecia
>a música para de tocar sem eu pausar
>uma voz suave, aparentemente de mulher ecoa no beco
>acho que vinha daquele ser... mas como? A boca mal se mexeu
>"você não me teme mesmo, não é, Caio?"
>"consigo sentir o cheiro do medo de todos à quilômetros de distância, mas você parece nem se importar"
>não consigo responder, mas aquilo parece ler a minha mente
>"quem sou eu? Eu sou a morte"
>estou delirando, só pode, isso não é real, penso
>"muito pelo contrário, sou muito mais real do que pensa, garoto"
>"ando por ai todos os dias, sou quase invisível, mas existo"
>merda, não posso morrer logo hoje, daqui 2 semanas é meu aniversário
>iria receber a visita de um pessoal da escola
>quase uma festa
>provavelmente seria o dia mais interessante do ano
>quem sabe não conheço alguém
>"ora, você não dizia não ter medo de mim? por que isso agora?"
>aquela coisa ri na minha cara, uma risada maligna, mas bem suave ao mesmo tempo
>"Caio, irei fazer uma pergunta, darei a chance de responder, mas pense bem, isso pode mudar o seu destino"
>"o que você faria se hoje fosse o último dia de sua vida?"
>meu corpo volta ao normal, parece que realmente tive a chance de responder
>meu último dia? Sei lá, tenho tanta coisa pra fazer
>talvez chegar na Karol, sempre fui apaixonado nela
>ou me matricular em mecatrônica, sempre foi meu sonho
>sei que seria meu último dia, mas não queria morrer como alguém que não estudou
>ou procurar um emprego melhor, morrer na merda não seria nada digno
>me resolveria com meus pais também, sinto falta deles
>brigamos por besteira, mas sempre fui muito orgulhoso
>acho que sairia uma última vez, faz tanto tempo que não transo, uma última vez seria bom
>viajaria pra outro país.. sempre foi meu sonho, mas nunca tive coragem
>marcaria um encontro com meus amigos de infância
>alguns tentam contato de vez em quando
>mas sou o único deles que não tem nada na vida
>todos formados, casados e felizes
>sinto vergonha de mim as vezes
>sabe dona morte, se fosse meu último dia, eu viveria tudo o que ainda não vivi
>seria feliz como nunca fui
>essa é minha resposta, seria feliz
>aquela doce voz volta a ecoar
>"então corra, Caio, o tempo está acabando"
>despertador tocou
>acordo assustado
>07:00
>25/08/19
>aquilo foi um sonho?
>só pode ter sido
>não, foi real demais
>dane-se, tenho que ir pro serviço
>olho no meu celular
>mensagem de um número desconhecido
>"você tem 24 horas.."
>deve ser algum mal entendido
>erraram o número
>me arrumo e vou trabalhar
>andando até a estação passo por aquele beco
>uma sensação estranha, fico arrepiado
>sigo em frente
>chegando na empresa vejo a Karol
>linda como sempre, mas dan... não, hoje não
>-bom dia Karol
> ela responde "bom dia" e sorri
>ah, aquele sorriso..
>-vai fazer o que hoje depois do expediente? Pergunto
>ela fica surpresa e diz "nada, pq?"
>-quer ir tomar alguma coisa comigo?
>"claro, sempre quis" me dá um beijo no rosto e sai
>caraca, deu certo..
>quase não consigo trabalhar pensando naquela conversa com a suposta morte
>e se for real?
>e se eu realmente morrer?
>horário de almoço
>resolvo ligar pra minha mãe
>ela atende: "alô, quem fala?"
>-oi mãe, sou eu.. sei que não nos falamos há tempos, mas sinto sua falta, me perdoe
>ela começa a chorar e diz "achei que nunca mais falaria comigo"
>conversamos mais um pouco e eu desligo
>marquei de almoçar com ela amanhã.. se é que vou estar vivo
>termino minhas tarefas mais cedo e vou ficar matando o tempo na área social
>celular vibra, mensagem daquele número
>"corra, Caio, corra"
>merda, aquilo foi real??
>mas foda-se, já fiz muito do que queria, meu dia está ótimo
>18:00, fim de expediente
>encontro a Karol e vamos pra um bar
>depois de muita conversa e uns beijos, me despeço e vou embora
>acho que estou apaixonado
>voltando pra casa, metrô lotado como sempre
>fone no ouvido
>skrillex_make_it_bun_dem.mp3
>to feliz
>minha estação chegou, hora da verdade
>andando até em casa vejo o maldito beco
>novamente aquela sensação, sinto calafrios
>nada acontece, sabia que tinha sido só um sonho
>chego em casa, tomo um banho e vou deitar
>mas antes, pesquiso um pouco sobre o curso de mecatrônica, preços e etc
>vou viver, por que não estudar?
>pego no sono
>despertador tocando, acordo assustado
>07:00
>26/05/19
>to vivo porra
>olho meu celular
>mais uma mensagem, daquele número
>"você tem 24 horas.."
>que??
>mais 24 horas??
>só pode ser brincadeira de alguém
>mas parto pro serviço
>chegando vejo a Karol
>dou um beijo nela e conversamos um pouco
>tinha esquecido de pegar o número dela, felicidade era demais
>subo pro meu andar
>12:00, almoço
>vou encontrar minha mãe
>ela continua linda, como sempre
>nos abraçamos fortemente
>almoçamos e eu volto
>18:00, hora de ir pra casa
>mas antes, uma passadinha na facul pra dar entrada na matrícula
>ligo pros meus amigos de infância
> 2 deles estudavam lá
> tem um bar lá perto, por que não, né?
>chego em casa
>tomo um banho, como e vou conversar com a Karol
>eu realmente estava amando
>me preparo pra ir dormir
> telefone toca
> é aquele número das mensagens
>atendo: -quem é?
>ouço aquela doce voz, aquela voz que me assombrou
>a voz da morte
>"você está pegando o jeito, Caio, te darei mais 24 horas"
>fico paralisado
>aquilo realmente foi real
>mas por que mais 24 horas?? Já tive 48 até então
>durmo mal pensando naquilo
>despertador
>07:00
>acordo feliz, tenho mais um dia, e hoje vou apresentar a Karol aos amigos
>não é um namoro, mas estamos ficando
>tudo acontece rotineiramente
>18:00, partiu
>fomos ao Outback, é caro, mas é muito bom.. nunca tinha experimentado
>ela vai lá pra casa
>hmmm hoje tem
>transamos bastante, depois dormimos abraçados
>...
>...
>25/08/29
>09:00
>acordo com ela me chamando
>"amor, levanta, vamos perder o vôo"
>10 anos se passaram desde minha conversa com a morte
>recebi aquelas mensagens só no 1 mês
>desde então tudo melhorou
>eu e a Ka estamos há 10 anos juntos
>adotamos uma cachorrinha, chamada Milly
>me formei em mecatrônica
>abri uma empresa
>hoje estamos indo pra Veneza, a cidade do amor, comemorar 10 anos
>"vamos logo" ela grita
>-to descendo, respondo
>mas antes, telefone toca
>aquele número.. droga, depois de tanto tempo
>-alô
>"você mudou, hein, garoto.."
>"nunca mais nos falamos, mas eu entendi"
>meu corpo estava normal, sem aquela sensação
>-entendeu o que?
>"você não sentia medo de mim, não sentia medo de morrer, por que já estava morto"
>-como assim?
>"você não tinha um propósito. Já estava morto"
>"aquela conversa foi o necessário pra te fazer viver"
>"desde então, você vive como se sempre fossem suas últimas 24 horas"
>"até mais ver, Caio, nunca pare de correr"

GTs 10/10Onde histórias criam vida. Descubra agora