feliz assassinato

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Era a noite do meu aniversário. Eu completaria 16 anos de idade. Meus pais estavam muito felizes por mais um ano de vida que seu filho completaria. Seria mais um ano... mais um ano próximo da morte. A julgar, por ser um garoto travesso, ainda merecia uma festa. Toda a família estava reunida, até mesmo vizinhos e desconhecidos, convidados por pessoas que não foram convidadas; nenhum deles devia estar ali. Mas, de qualquer forma, a festa estava sendo maravilhosa. Exceto por algo que estava me deixando muito confuso: o papai estava escorado no portão junto a uma mulher de vestido vermelho. Dava para ver da janela. Ele acariciava aquela mulher... e a beijava...


Para não acarretar problemas a mais para meu pai, resolvi deixar minha mãe entretida na cozinha. Ela estava terminando de fritar alguns salgados porque os que estavam na mesa acabaram... acho que todo o mundo estava esfomeado naquela noite, ou encheram as bolsas e foram embora antes de a festa acabar...


Eu não estava me sentindo bem, e ver aquela cena do meu pai traindo a mamãe me deixou pior. Faltavam mais ou menos uns oito minutos para a meia-noite. A virada... o meu aniversário. Papai estava embebedado e a mamãe chorava no canto, disfarçando para ninguém vê-la naquelas condições. Mas eu a via... não demorou muito para que papai caísse. Alguns amigos dele o levaram para a cama... eu ia mandar todos irem embora, mas minha mãe disse que não, que iríamos continuar a festa e eu iria assoprar as velas.


E, enfim, deu meia-noite. Todos começaram a cantar. Eu só queria que aquilo terminasse logo. A canção cessou e chegou a hora de assoprar as velas. Mamãe disse: "Faça um pedido, querido". O meu pedido foi para que papai pagasse por o que fizera com a mamãe. E o pedido foi realizado quando a campainha soou. Mamãe atendeu à porta... ela foi atingida na cabeça por uma bala que atravessou seu crânio. Todos gritaram em desespero. Todos morreram tentando fugir em meio ao tiroteio. E eu só fiquei escondido debaixo da mesa.


Quando os tiros cessaram, papai estava aos pés da escada. Eu gritei para ele fugir, mas foi em direção ao autor dos tiros. Eu nem vi quem era, fui perceber logo depois que meu pai a abraçou. A autora dos tiros era a mulher de vestido vermelho com quem papai dera uns amassos logo à tarde. Ele me puxou para fora da mesa, jogou-me para cima de uma cadeira, e disse:


- Eu só estava cansado, meu filho. Cansado de sua mãe; cansado de você e de seus "mimimis". Eram para ser duas mortes discretas, mas... eu não sei, todos aqui dentro contribuíram para essa fatídica madrugada. Eram todos uns filhos da p*ta, fofoqueiros. Uns desgraçados... as coisas poderiam ter sido diferentes, mas eu e minha nova mulher não queríamos. Logo após eu te matar, vamos ligar para a Polícia. Quando eles chegarem aqui, iremos atirar neles para que nos atinjam. Morreremos juntos. E antes de eu atirar na sua cabecinha, vou te parabenizar com uma canção que compus especialmente a você. Ela começa assim:


"Parabéns pra você

Nesta data maldita

Muitas barbaridades

Muitas mortes na vida.


Pare o choro, sorria

É seu aniversário

Todos tão caídos ao chão

Felizes e assassinados.


Parabéns pra você

Nesta data maldita

Eu vou te matar

Se despeça da vida.


Parabéns!"


Ele disparou. A bala pegou de raspão em minha orelha; só acompanhei o ritmo e caí para trás, junto à cadeira. Vi-os ligar para a Polícia, esperando os policiais virem até a casa. E, por fim, plano bem-sucedido: ambos foram atingidos pelos tiros e mortos. E tudo que eu sabia fazer era chorar... não consegui fazer nenhuma pergunta ao meu pais antes de tudo isso acontecer.


A explosão de sua ira fora de repente. Nos pegou de supetão. Minha mãe estava morta, meus vizinhos, amigos... foi um banho de sangue. Tudo isso colaborou para meu colapso mental. E, agora, estou preso em um hospital psiquiátrico por decisão própria. Sei que, estando aqui, estarei impossibilitado de cometer alguma merda.


Eu ainda consigo ouvir ele cantar aquela maldita canção! Ela não sai de minha cabeça...


"Parabéns..."


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