Amino creepypasta

O Jardim

Eu estava desnorteada, cansada e até mesmo enjoada da vida que levava com meus 37 anos. Eu era uma mulher com bom coração mas era evidente que não era bem-vinda em nenhum lugar, lembro-me vagamente daquele dia cujo mudei minha visão do que realmente é viver. Gostaria de avisar que aproveitem a vida enquanto ainda tem ela.

Voltava do meu emprego, segurava minha bolsa ao lado da cintura e corria por conta da chuva que estava para cair, meu único desejo era descansar finalmente. Olhei para os céus e pude ver as primeiras gotas de chuva caírem, coloquei minha bolsa sobre a cabeça para que não me molhasse tanto e corri até minha casa que já estava bem próxima. A porta abriu com facilidade dessa vez, e já fazia um tempo que estava emperrando na hora de abrir, o clima lá dentro parecia mais frio, e eu me senti observada, como se alguém estivesse me esperando em casa.

Sentia uma dor de cabeça imensa e isso já me cansava, resolvi deitar na cama antes de tomar banho mas meus planos acabaram mudando por eu ter acabado dormindo antes do planejado. Eu abri os olhos lentamente e já não estava em casa, era um lugar lindo, tinha flores, plantas de diversas partes do mundo e era totalmente verde. Sai andando por lá, eu estava confusa mas minha intuição me avisava que estava sonhando, era o mais belo lugar que o mundo havia recebido e parecia ter saído de um livro infantil sobre fadas.

Enquanto vasculhava o local casas começaram a surgir, e junto com elas pessoas que me encaravam com uma expressão de pena, enquanto outras sorriam para mim. Estava quase me convencendo que teria feito a minha primeira viagem astral, mas não era bem assim. Acabei me deparando com um espelho, eu fiquei assombrada, agora já não tinha 37 e sim meus 20 anos, eu estava paralisada e agora sentia medo de estar em certo local, virei para correr mas uma mulher formosa me encarava.

- Você finalmente chegou? Eu estava esperando por ti, o que achou do sonho que dei para não ter uma terrível realidade sobre a morte?- Falou a mesma.

- O que é isso? O que está falando sobre a morte?

Ela sorriu como se aquela pergunta fosse mais do que frequente e apenas pegou minha mão e saiu me puxando, fizemos o mesmo caminho que fiz para chegar ao espelho mas não existiam casas e nem pessoas, minha vontade era de chorar e implorar para voltar para casa mas aquilo estava mais do que impossível e era evidente. Chegamos a um local onde tudo que se via era o breu, ela puxou-me para dentro da fumaça e me encontrei na rua em que estava quando choveu no caminho para casa, eu me vi correndo do outro lado. 

- Aquela sou eu?- perguntei.

- Fique calada e apenas assista, é tão bom assistir esse acidente novamente.- a mulher me respondeu.

Eu me vi correndo, me vi passando a rua com a bolsa sobre a cabeça e... Me vi sendo atropelada. Sim, eu fui atropelada, logo após isso eu e a mesma mulher estávamos dentro de uma ambulância, eu estava deitada sobre uma maca e minha cabeça sangrava muito, eram vários médicos correndo dentro do veiculo mas não deu nada certo, o aparelho que checava meus batimentos parou, o que indicava que minha vida tinha chegado ao fim, todos os médicos presentes colocaram as mãos na cabeça e choravam. Já eu estava mais do que confusa, eu estava pedindo apenas para acordar daquele sonho que já não era tão bonito. 

Comecei a chorar e novamente me vi no tal jardim do inicio, a mulher sentou-se ao meu lado e parecia querer me consolar como se  o que tivesse acontecido fosse mais do que normal. Ela segurou meu rosto, sorriu e me abraçou logo começando a falar.

- Não chore, veja, acontece mais de uma vez por dia comigo. Você não está sonhando querida, você está morta, estava cansada de viver e trabalhar, ter a mesma rotina de sempre, foi quando me mandaram buscar você, o impacto do carro contra seu corpo foi tão grande que acabou morrendo, para uma vida normal há uma morte normal. Sim, você está no mais belo jardim que existe, chamamos de jardim da morte, e eu? Eu sou a morte.

Eu não podia mais escapar, eu havia morrido e estava ao lado da responsável por isso. No fim não existe Deus ou o Diabo, apenas esse fim para todos, sejam eles pecadores ou não, sabe o motivo de ter avisado para aproveitar a vida de vocês? Minha vivência aqui já não era das melhores pois eu revivi o mesmo dia todos os dias, porém eu senti a dor e o impacto do acidente e a dor de morrer, sim isso dói. Mesmo que eu não vá para o céu ou inferno como diziam para mim, reviver isso para a eternidade é a verdadeira punição, minha alma sofre e eu também.