10, take me home

1.1K 70 12
                                    

Ainda era bem cedo quando Jessica e Tom chegaram na pousada, teriam o dia inteiro só pra eles e isso era algo que deixavam os dois tranquilos, mesmo com todas as tentativas dela de tentar negar com tudo que tinha dentro de si e lutar contra aquilo, e mesmo com as tentativas de Tom de se aproximar, mesmo quando tudo parecia difícil e confuso demais.
Jessica era temperamental, instável e orgulhosa, pra ela dar braço a torcer era o mesmo que cortá-lo fora. Em um dia ela o provoca, diz coisas absurdas que fazem a cabeça do garoto pirar, chama ele pra dar colo e apoio num dia difícil porque ela estava com medo, pede pra passar a noite com ela enquanto ela esta bêbada, desabafa sobre sua família, e num instante depois ela cospe as palavras de que aquilo é só diversão pra ela, que nada mais sério poderia acontecer. Eles não podiam negar que sentiam algo um pelo outro, mas parece que só Tom estava disposto a lidar com isso.
Jessica estava deitada na cama esperando Tom sair do banho porque seria a próxima, ele tinha pedido café no quarto para evitarem sair dali, mas ainda não havia chegado, um funcionário ligou avisando que ainda demoraria certa de vinte minutos, como teriam o dia ali, não viram problema. Ouviu o chuveiro desligar e porta abrir, ele saiu com o corpo ainda um pouco molhado, uma toalha amarrada na cintura, e outra secando o cabelo. Ela não conseguiu conter sua reação surpresa, boquiaberta, de ver ele ali daquela forma, o corpo dele era lindo, tinha conseguido ver através das poucas luzes noites antes no seu trailer, mas ali, com a luz do dia, tinha ficado muito mais interessante pra ela.
— Que foi, princesa? Nunca viu um homem de toalha antes? — ouviu a voz do Tom e um sorriso satisfeito em seu rosto, percebeu que não tinha disfarçado nem um pouco.
— Já vi, vários, mas nenhum deles era você, mi amor. — se lembrou das palavras que ele tinha dito quando viu ela de robe e lingerie noites antes, e usou elas contra ele. Passou por ele, deu um beijo em seu rosto, pegou a toalha que ele secava o cabelo, e entrou pro banho.
— Você fica sexy falando em espanhol, continua, só não sei por quanto tempo vou aguentar. — Ela ouviu sua voz distante através da porta e não conteve um sorriso. Quando saiu, já vestida para evitar qualquer deslize, ele estava de shorts e sem camisa, confortável, na cama. Não sabia o porquê mas ele transparecia uma sensação de calma, leveza, que Jessica de certa forma precisava.

— Vai ser difícil não querer transar com você deitado sem camisa na mesma que eu. — Jessica disse, entrando no quarto.
— E você por outro lado, esta vestida demais.
— Quero evitar acidentes, não vamos transar ainda. Vai perder a graça.
Tom balançou a cabeça, em negação, sorrindo.
— Você é maluca.
— Porque acha isso? — se sentou ao lado dele na cama.
— Diz uma coisa e minutos depois já diz outra completamente diferente.
— As melhores pessoas são assim, acredite.
— Acredito.

Esperaram em um silêncio confortável até que o café chegasse.

— Não, fica na cama, quero levar pra você ai! — Tom disse, puxando o carrinho do café pra dentro do quarto e fechando a porta.
— Você é tão besta, Tom. — Jessica sorriu.
— Já te falei sobre seus problemas de ingratidão, né? Ah, vai marrenta, tenta não me odiar só por hoje. — ela revirou os olhos.
— Não sou marrenta!
— É sim, mas você abaixa a guarda quando tá comigo, eu gosto. — ela revirou os olhos e bufou, Tom foi em direção onde ela estava, colocando o café na cama, ficando um de frente pro outro, e deu um beijo no rosto dela. — de nada, né?
— Obrigada, Thomas. — respondeu Jessica com um sorrisinho no rosto. Ele sabia ser muito gentil e cuidadoso, isso ela tinha que admitir.
Conversaram enquanto comiam a maioria das coisas que estavam dispostas ali, falaram sobre diversos assuntos, se davam bem e pareciam que eles se conheciam muito mais do que poucas semanas, de fato. Terminaram, arrumaram tudo pra se deitarem de novo, um do lado do outro, com seus ombros quase se tocando.

— Aquele dia, porque você me levou pra sua casa mas não quis me dizer sua profissão e seu nome? — perguntou Tom, deitando de bruços pra olhar para ela. 
— É um pouco complicado pra mim, eu não sou nenhuma celebridade, nem nada, mas sempre que alguém tinha total consciência de quem eu era, era por algum interesse, seja conseguir um emprego na RB, seja pra conseguir de alguma forma, meu dinheiro. — ela respirou fundo — sabe, eu não ligo pra nada disso, não ligo de ajudar, eu sempre tento dar o meu máximo como uma boa pessoa, mas as pessoas confundem um pouco as coisas, ai quando tudo ficou frequente demais, desisti de tentar me relacionar, ou ter novos amigos mais próximos. Entende?
— Eu te entendo, sinto que vou viver algo bem parecido com sua experiência agora com o homem-aranha, perder a privacidade, dificuldade em se relacionar por não saber quem é de verdade e quem não é...
— É muito isso, é mais complicado do que você consegue imaginar, ainda mais quando se tem dinheiro envolvido, as pessoas ficam cegas. Eu gostaria de deixar um pouco dessa postura toda de lado, igual foi noite passada, é bom pra mim, mas a gente tem que escolher.
— E você teve que escolher entre o que?
— Entre continuar com algo que era do meu pai, ou desistir. Decidi continuar porque ele se dedicou por anos e anos pra empresa ser o sucesso que é hoje, a nossa família é muito patriarcal e complicada de se lidar, meus tios e primos tentam a todo custo me derrubar sempre que veem uma brecha porque não acham que uma mulher é capaz de lidar com tudo isso.
— Desculpe, princesa, mas eles são uns idiotas, você da de dez a zero em qualquer empresário por ali. — ela deixou escapar um sorriso — sabe, quando eu consegui o papel, quando tudo isso começou, meu pai me disse que as pessoas iriam me tratar diferente, que muitas coisas iriam mudar, mas que eu precisava sempre buscar aquilo que me fazia lembrar de onde eu vim. Eu chego em casa e ainda tenho que lavar a louça, dormir quando meus pais mandam, esse tipo de coisa que faz com que você sinta em casa, você deve ter alguma coisa parecida, se agarre nisso.
— Tenho, uma amiga, a Marianne, somos amigas desde criança, ela trabalha comigo e foi quem acompanhou vocês até a minha sala aquele dia, lembra?
— Ah sim, lembro sim, ela é muito simpática. E sua mãe, irmãos? — Tom perguntou.
— Filha única. E minha mãe nunca foi muito próxima a mim, muito temperamental e eu também, a gente brigava bastante, sempre foi grudada com o meu pai, e ela depois da morte dele não soube lidar muito bem com isso, virou alcoólatra, e a gente continua sem se falar muito, ela mora com a minha tia, no México, já tentei ajudar e trazer ela pra morar comigo, mas ela é bem orgulhosa e bem difícil.
— Que pena, Jess, queria poder ajudar de alguma forma. — ele chegou mais perto, colocou a mão em sua cintura na tentativa de acalmá-la, de alguma forma.
— Eu mal te conheço e você já sabe de toda a minha vida praticamente, acho que isso já me ajuda.
— Você pode confiar em mim, eu jamais faria nada pra te magoar, princesa.
— Obrigada.
— No final das contas você é só uma garota assustada que precisa de um colo, né? Sabia, aquela segurança e mistério todo não é de um ser normal, não! — eles sorriram e ela deu um soco leve nele, empurrando ele pra mais longe, brincando.
— Cala a boca! Se você contar alguma coisa de hoje, eu juro que mato você!
— Princesa, relaxa! Já disse que pode confiar em mim.
— Temos que conversar sobre esse apelido.
— Não vou parar de te chamar assim, desencana! — Jessica bufou.
— Mas porque princesa? É tão brega.
— Não é brega nada, ingrata! — eles riram — princesas são lindas, corajosas, iguais a você.
— Nossa, não acredito que disse isso, é a coisa mais besta que eu já ouvi! — ela gargalhou alto.
— Cara, você tem sérios problemas de ingratidão, já disse, né? Tento ser fofo mas você me quebra, cara.
— Tô brincando,  idiota!
— Acho que abaixa a sua guarda quando te chamo assim, da pra ver que você se derrete inteira.
— Meu deus! Claro que não, idiota! — Jessica exclamou, indignada, dando um empurrão mais forte que o esperado, fazendo ele cair da cama de costas direto no chão.
— Ai! — ela ouviu o barulho de dor vindo dele — e você é forte também.
— Me desculpa, Thomas, de verdade, não era pra você se machucar. — respondeu, saindo rápido da cama e abaixando na frente dele, caído no chão.
— Aceito um beijo de desculpas. — Tom respondeu, se levantando e ficando sentado próximo dela.
— Ah, não! Não vou beijar você!
— O que aconteceu com aquele desejo todo por mim?
— Passou. Somos amigos. — disse, se levantando.
— Não sabia que a ideia de me beijar era tão ruim assim pra você.
— Não... não é que, quer dizer, — ela sentiu seu rosto ficando vermelho — droga, esquece!
— Você tá com vergonha de me beijar? NÃO ACREDITO! Jessica Roberts esta com vergonha de me beijar?
— Meu deus, Thomas, cala essa boca, fala mais baixo! — respondeu, tapando o rosto com as duas mãos, sentando na cama.
— Por essa eu não esperava, princesa. — Tom se levantou, sentando ao lado dela e tirando as mãos dela de seu rosto.
— Alguém pode te ouvir, idiota!
— Foi mal, Jess, não faço mais, mas o pedido do beijo ainda esta de pé.
— Eu não vou beijar você, é diferente.
— Diferente como?
— Agora você sabe da minha vida, que tenho medo de tempestade, essas coisas, é estranho.
— Você nunca namorou antes? É assim que funciona.
— Eu já namorei antes, sei como funciona, mas ela não era você, né.
— Ela? Ah, é esqueci.
— Vamos ver um filme, 10 coisas que eu odeio em você, é fofo.
— Vou ver filme de romance com você? Ok, você é mais inevitável do que eu imaginava.
— E qual o problema?
— Nenhum, princesa. Coloca o filme.

Ele encostou na cabeceira da cama, observando ela procurar o filme pra colocar na TV, estar ali, conversando sobre coisas normais, com uma mulher real, era uma das coisas que ele poderia repetir diversas vezes ao longo da vida se ela aceitasse também.
Eles ficaram ali durante um tempo, pairava algumas vezes uma sensação estranha de não saber o que deveriam fazer agora que estavam a sós. Já se tinha se passado uns vinte minutos de filme, quando Tom esticou um dos seus braços, puxando Jessica pra deitar sobre ele, pra ficar mais próximo, conseguiu ver um sorriso escondido em seu rosto e ficou aliviado por ela não ter achado ruim aquele gesto. Sem jeito, ela apoiou a cabeça em seu ombro, e abraçou ele pela barriga, ficando de vez aninhados ali. Ele conseguia sentir o coração dela batendo forte por estar tão próxima de seu corpo, e não conseguia mentir pra si mesmo que não estava nervoso também.
Jessica ergueu a cabeça, olhando nos olhos de Tom, que eram calmos, serenos, sorriram juntos depois de se encararem. Ela levantou um pouco, ficando um pouco mais alta, mas ainda deitados, segurando o rosto dele, ela se aproximou, deixando seus lábios quase se tocarem, ao perceber que Jessica tinha aberto um pouco a boca e fechado os olhos, ele sabia que ela também queria, e por fim, acabou com os centímetros que ainda afastavam os dois, com um beijo lento, calmo, com curiosidade. Ela não sentia o nervosismo de dar só um beijo em alguém há muito tempo,  mas com ele tudo parecia ser completamente.


Naquele dia não teve desejo inexplicável, nem as loucuras, nem jogos, foi um dia calmo, feliz. Jessica, ainda deitada em seu peito, sentindo suas mãos em suas costas, pensou no que Tom tinha dito naquele dia mais cedo, sobre encontrar algo que a fizesse sentir em casa, ela tinha encontrado, era ali, com ele, em seus braços, era isso que fazia ela se sentir com o coração em paz, depois de tanto tempo. Mesmo que tinha achado as respostas pra todas as suas perguntas conturbadas, ela sabia que não poderia ter mais dias como aquele, era uma ilusão pensar que ganharia, de certa forma, esse jogo. Queria ser otimista e acreditar que teria sorte no amor e no jogo, mesmo tendo a certeza de que aquilo não era possível, não pra eles.





N/A: oi oi, aqui é a jas de novo pra saber o que vocês estão achando da fanfic? gosto de saber a opinião, teorias, expectativas de cada um! podem falar comigo por aqui e pelo twitter, lá é @avgerpls.

beijos,
jas

love is a losing gameOnde histórias criam vida. Descubra agora