O Speeder dela corta as areias de Jakku com velocidade nunca testada. Longe de Niima, entre um posto ainda mais deteriorado e cheio de escusos conseguia se esconder bem debaixo do nariz da Ordem, no cemitério dos gigantes. Sua respiração vacila. Pensar no que fazia a impedia de respirar direito.
Uma pausa para combustível com os Teedos. Asquerosos. Mas, ela tinha outra caixa de registro de uma nave caída para além do extremo daquele planeta árido. Eles só se importavam com isso: peças, eletrônicos, fios e troca. Nenhuma humanidade. Nenhuma ajuda à causa. Ela segura a respiração de novo.
É preciso chegar à caída Executor antes da noite chegar. Era quando os Buzza caminhavam em busca de carcaças para se alimentar e seres vivos escondidos para deletar. Aos poucos ela levará seus pertences do AT-AT para lá. Não pensou por que precisava levar aqueles pertences puídos para a nova nave-casa-caída.
O calor é escaldante. Suas roupas não são feitas de algodão. O couro quente faz a barriga dela suar por baixo, sem nenhuma proteção. Suas novas botas emborrachadas também fervem seus pés. Ela tem areia no cabelo. De repente tudo aquilo a incomoda. A vida que antes levava porque tinha que levar, parece agora que não foi feita para ela.
O Speeder anda em zigue-zague pouco acima das areias movediças. É preciso despistar quem quer que a tenha notado passar. No pulso dela, a pulseira brilhante e azul mantém-se acesa e presente. Leia está com ela. Alguém está com ela. Não estar mais só apazigua seu coração. A solidão é seu maior inimigo, sempre fora, mas agora, havia ele. Que entrava sem permissão na sua solidão e a atingia com toques de crueldade não revidada.
"Fugirá para sempre?". A voz grave do Supremo Líder reverberava em sua mente antes de dormir. A escuridão que antes apenas enviava engodo à sua garganta, agora lhe rouba a paz. A escuridão tem trazido ele para sua mente. Aumenta a velocidade do Speeder, mesmo que achasse não ser possível. O vento pressiona as coxas dela no tecido grosso de suas calças.
Ela chega em casa, mesmo que não seja uma casa. Faz sua incursão rotineira. Primeiro entra entre as fendas dos motores deteriorados. Passa pelo que agora é um corredor de tubulações enferrujadas. A ponte fantasmagórica está adormecida como sempre. Ela guia o Speeder até a ala Norte, onde um antigo cruzador funcionava na época do expurgo Jedi. Ela conheceu o conceito de ironia há pouco tempo.
Após desligar a máquina e sair carregando alguns pertences ela se dirige para uma porta onde um letreiro velho diz commander's room da nave imperial. Ironia. Ela entra no ambiente e descarrega sua carga. Ração. Uma garrafa de água. Pedaços de aço. O capacete da capitã Ræh e uma planta. Ela olha para a pequena vegetação, não mais que duas folhas teimosas, na lata de graxa. Vai até a pequena e redonda bacia onde uma água amarelada está parada e lava o rosto com uma fina camada de uma pasta feita com óleo vegetal e cinzas. Ela costumava chamar aquilo de sabão, mas agora sabia que era apenas uma forma rudimentar de tirar a poeira do rosto.
Deita-se sobre o catre que um dia foi uma cadeira de comando. Seus olhos querem fechar. Está acordada desde que o sol despontou, mas se adormecer a escuridão virá. Ele virá. Ela reluta, mas se entrega como sempre com mãos fechadas em punho e caia adormecida para imediatamente dar de cara com seu pesadelo particular.
Seu rosto ardia nas faíscas do sabre vermelho que foçava seus braços para se defender e não deixar que o feixe lhe atravessasse. Seus braços tremem com o esforço de manter o sabre azul em riste e na defensiva. Os olhos negros produziam luz arroxeada de onde ambas as armas se encontravam. Suas pernas também tremem, mas ela não pode dar um passo ou seu ponto de equilíbrio se perde e a arma violenta lhe partirá ao meio. Ele lhe partirá ao meio. A fúria que carrega ressoa ao redor dos dois e ela já não sabe se aquele poderoso sentimento é dele ou dela. Mas, ele, com certeza, emana ódio e rancor. No canto de sua visão, ela vê sangue respingar no chão branco. Faz frio, mas ela sua calor e sente as gotas de suor escorrer pela testa. Ela não vai resistir por muito tempo. Seu pescoço está tenso e parece que agulhas entram em seu trapézio ao passo que ela continua mantendo-se forte para não sucumbir.
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SOBREVIVENTE
FanfictionEsta história foi originalmente publicada em Maio de 2018 no Spirit! É preciso juntar o que restou e continuar a resistir. Rey precisa lidar com a solidão, o medo e a vontade de pertencer à algo e à alguém enquanto ela se esconde e vive uma vida de...