A LIGAÇÃO: Corra

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8 semanas mais tarde

Ela entra no bar em penumbra. O público é formado basicamente de ferreiros e catadores que tomam Knockback por ser barata e mais embriagante. Está se preparando para aquele encontro por quase quase 2 anos. Precisa manter sua mente calma e seu coração no lugar. Não lembrar do passado, não trazer a dor, nem a angústia da separação. Senta no canto mais escuro e fecha os olhos, tenta pensar em outras coisas. Ela precisa ser forte. É forte. Inspira até sentir os pulmões doerem inchados, expira até sentir que tudo foi embora. Ela sabe que presença é aquela que senta ao seu lado, mas não abre os olhos.

"Seu cabelo está bom assim". Poe Dameron também veste negro agora. É mais fácil se disfarçar por aí quando você veste a moda da Primeira Ordem. Ela o encara. Cabelo cortado de qualquer forma, olhos grandes e brilhantes e uma barba cheia. "Sua barba não está boa assim". Ela se alegra por conseguir um pouco de humor. "Como ela está?" Tenta parecer despretensiosa. "Bem. Ela está indo muito bem." Ele olha o copo que tem na mão e ela aguarda pelo mais que não virá. "A general... Ela pediu a uma amiga, Evaan... Elas se conhecem de Alderaan. Evaan está cuidando de tudo... Cuidando para que tudo fique bem." Poe põe um pacote na mesa. "Um cobertor. Para os dias frios de Ilum. A general quer que você saia daqui. Tivemos um informante que diz que ele está muito próximo de acha-la. Sabe que você esteve novamente em Crait depois da batalha. Se ele for lá..."

Ela se recosta na parede e sente o sabre reconstruído à suas costas, debaixo da jaqueta. "Fugirei para sempre?" as palavras dele vêm em sua mente. "Lor Wy 'ngo a estará esperando. Ele conseguiu resgatar alguns sensitivos." Ela sente o pesar na voz dele. "Eles têm desaparecido... Os sensitivos à força... Eles têm morrido ou simplesmente desaparecido." Ela vê Poe se recostando. Eles compartilham o pesar. A primeira Ordem está caçando sensitivos. Kylo Ren está matando usuários da força, então ela precisa continuar fugindo.

"Partirei hoje?" Ela se levanta, apesar de saber que aquilo aconteceria não está com sua mochila. "Há uma transportadora levando Brokers para o Sistema Fial. Eles partem em duas horas. De lá, pegue a nave de Shat, Maz já acertou com ele, lá, Finn irá com você até Lor Wy 'ngo." Ela vacila ao nome do amigo. Poe segura a mão dela. "Todos nós sentimos por tudo." Ela o olha por entre as mechas do cabelo que teima em cair no seu rosto. "Eu sei. Eu também."

Seu peito retumba, o sangue parece correr acelerado. O speeder percorre as dunas azuladas pelo brilho das duas luas. Sua mente não está na direção ou velocidade. O passado parece persegui-la depois do encontro com Poe. Lágrimas quentes e abundantes caem do seu rosto e são levadas pelo vento. Ela sente seus ouvidos taparem e a respiração ficar pesada. "O que aconteceu?". A voz dele é genuinamente preocupada. "Saia da minha cabeça!". Ela grita para o deserto. "O que aconteceu?" Ele enfatiza cada palavra e ela sente o speeder desestabilizar. Por pouco não cai ao descer uma duna e ao parar para se recuperar sente a presença dele à suas costas. "Eu odeio você! Eu realmente odeio você." Ela se ajoelha. Uma dor excruciante pressiona o peito dela. "O que aconteceu?" Ele está ajoelhado com ela, tem olhos marejados e o pesado sentimento de angustia é a soma do que ambos carregam dentro de si. "Você está matando crianças!" Ela grita decepção. "Você está roubando crianças!" Ela chora desenfreadamente. "Eu não estou fazendo isso." A boca dele mal se move, seus dentes estão apertados. "Os sensitivos... Você está matando todos eles. Muitos são crianças! Como eu fui!". Ela levanta, não quer olha-lo, não quer proximidade com ele. Ela precisa correr para longe dele. Precisa cortar aquela ligação.

Ela sente suas botas afundarem na areia fofa enquanto corre o mais rápido possível. Se concentra para manter sua mente focada na areia e assim conseguir forças para expulsá-lo para longe de sua mente. Sente seus pulmões arderem com o esforço. Ele aparece à sua frente e ela para de forma abrupta. É difícil respirar. Suas pernas doem. Seu rosto tem lágrimas e cristais de areia. O rosto dele tem angustia, pavor, medo e dor.

SOBREVIVENTEOnde histórias criam vida. Descubra agora