Enquanto assiste ao baque feroz daquela verdade nos olhos arregalados dele, ela tenta manter sua mente fechada e em fuga ao escrutínio dele, mas é impossível. Seu sêmen ainda escorre dela, seus corpos ainda estão colados, as mãos dele ainda a prendem à parede e aquele rosto que antes era distante e passou a ser apaixonado e ofegante, agora está impaciente, chocado e obcecado para retirar dela todas as imagens que vieram à sua mente momentos antes.
- Rey, isso será doloroso. Mas, você é forte o suficiente para fazermos como nos velhos tempos. – A voz de Leia é reconfortante e macia, sua mão limpa a testa suada de Rey, que está deitada num catre simples, de volta à Crait, logo após a base ser descartada pela Primeira Ordem.
- Estou com medo. – Rey externa o que sente. O bebê dentro dela está quieto, mas grandes contrações vão e vêm e esmagam seu ventre, cintura e lombar.
- No minuto seguinte que você segurar seu bebê nas mãos, nenhum medo sentirá! – A mulher sorri amável. Rey quer sentir através da Força o que ela verdadeiramente sente, mas precisa se concentrar ao que passou nove meses ouvindo: Na hora do parto, quando o distúrbio na força puder ser sentido, ela terá que se concentrar para não entregar sua localização.
- Estamos aqui, Rey. – Finn segura a mão dela em suas mãos geladas, sem usar a Força, Rey sabia que ele estava apavorado.
Ela olha para a barricada montada na sala onde se encontra. Poe e os outros seguram armas atrás de alguns caixotes. Um nada frente ao tudo que a Ordem pode usar contra eles se aparecer ali. Uma contração maior corta seus pensamentos. Ela se concentra em respirar, seus pulmões parecem comprimidos e não conseguem se expandir, deitada daquela forma; perna abertas, dorço semi erguido, mãos amparadas.
Após a contração ir, ela se libera de todos que a seguram e põe-se a andar. A dor é lancinante. Suas costelas parecem que vão quebrar e ela sente uma pressão nunca sentida na pélvis. Ela nunca vira uma mulher grávida, nunca vira um nascimento, nunca vira um bebê em Jakku, apenas crianças desgarradas. Outra contração, essa como um estalo, parece que vai parti-la ao meio. É difícil não chorar. O saiote que veste fica ensopado quando ela não consegue se segurar. Ela quer pedir desculpas por não conseguir se segurar e molhar as calças, mas Leia a tranquiliza.
- Sua bolsa estourou. É hora de começar a empurrar. – A mulher a guia de volta ao catre.
Ela vê todos olharem para Leia que apenas recita "Como nos velhos tempos!" o tempo todo. Rey a olha ainda mais assustada. A sensação de perigo e morte não a deixa e é difícil respirar, como foi ensinada por meses. Ela pensa em Ben, ou Kylo, as lembranças do seu rosto doloroso e depois, do seu rosto apaixonado. Tenta afastar os pensamentos para não soar como um chamado, mas é impossível. Ela está parindo a criança deles. Ela quer chorar copiosamente, mas ouve as ordens de Leia como se ela estivesse longe. "Empurre, empurre, empurre.", "Pare, descanse, respire.", "Empurre, empurre, empurre."
A criança chora em plenos pulmões. É barulhento e emocionante. No coração de Rey algo retumba ao segurar a pequena forma humana vermelha e envolta em sangue e placenta. Nada mais dói, nada mais preocupa, nenhum dos movimentos de Rosie ou Leia são percebidos por ela. É fascinante olhar para ela mesma em outro corpo.
Institivamente, ou ensinada como foi por meses, Rey a coloca ao peito. A sensação é esquisita e quase dolorosa. A criança mama sem ter sido ensinada a isso. Com vigor, com força, com vontade. Se Rey era uma sobrevivente, aquela vida em seus braços era uma vencedora.
Rey sente algo ser expelido de dentro dela, Leia vibra que a placenta está inteira. Rose utiliza tecidos de algodão em retângulos grossos para colocar entre as pernas de Rey. Não há medicina. Não há aparatos. As poucas testemunhas estão em transe. Ninguém guarda a porta, apenas assistem à cena da criança que se alimenta e da mãe que chora silenciosa, se esforçando para manter a mente focada, afastando qualquer ameaça que possa vir.
VOCÊ ESTÁ LENDO
SOBREVIVENTE
FanficEsta história foi originalmente publicada em Maio de 2018 no Spirit! É preciso juntar o que restou e continuar a resistir. Rey precisa lidar com a solidão, o medo e a vontade de pertencer à algo e à alguém enquanto ela se esconde e vive uma vida de...