A NÚMERO 11

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Eu bati na porta da sala em que o Professor e ele respondeu.

- Entra.

Eu entrei e fui até ele.

- E aí, eles aceitaram?

- Sim, eles aceitaram. Assim que você estiver pronta pode dar início ao plano.

- Certo. - eu me virei e fui em direção a porta para sair, mas ele falou.

- Você tem certeza que quer fazer isso? Você não precisa, a gente poderia... - eu não deixei ele terminar de falar e disse.

- Está tudo bem, eu vou. Não precisa se preocupar, eu não vou fazer nenhuma besteira.

- Não é isso. - ele falou de um jeito sério, mas parecia ter alguma coisa o incomodando por dentro. - Eu não quero perder a irmã que eu acabei de descobrir que tenho sem ter a chance de conhecê-la melhor.

- E você não vai me perder. Eu vou sair e voltar bem, e ainda com a Lisboa de brinde. Eu vou ficar bem, prometo. - eu falei saindo da sala com um sorriso, ele o retribuiu.

Eu saí da sala e enquanto eu a fechava, Nairóbi veio até mim.

- Eu não tinha parado para pensar em uma coisa.

- O quê?

- Se quando a gente for embora e não vermos mais um ao outro, o Helsinki vai achar que eu não lembrei dele e ele vai achar isso para o resto da vida porque eu não vou poder dizer que lembrei.

- Seria muito mais fácil se você nem tivesse inventado isso, para início de conversa.

- Mas eu não podia encará-lo depois de ter me declarado para ele. Ainda mais ele gostando do Palermo. - eu a olhei completamente surpresa.

- Ah não, mais um?

- O quê? - ela perguntou parecendo não fazer a menor ideia do que eu estava falando, e realmente não fazia.

- Nada, deixa pra lá.

- Mas com o seu irmão de volta talvez ele desista do Palermo.

- E o que isso tem a ver?

- Por que o Palermo sempre foi apaixonado pelo Berlin.

- Como você tem tanta certeza?

- Ele deixa isso bem claro. Em uma discussão eu descobri que realmente estava certa, ele gosta dele faz uns dez anos, talvez até mais.

Aquilo me atingiu como um tiro. Como ele podia ter gostar do Berlin há mais de dez anos se até dois anos atrás éramos casados? Então tudo que ele dizia sentir por mim era mentira? Eu servi só para tapar o buraco que meu irmão deixou?

- Entendi. - eu falei tentando disfarçar o impacto que aquilo me causou.

- Eu vou falar para o Helsinki que eu me lembrei dele.

- Se você realmente vai contar a verdade sugiro que conte toda a verdade.

- Inclusive que eu não tinha esquecido dele?

- Inclusive que você não tinha esquecido dele. - eu repeti confirmado o que ela deveria fazer.

- Tudo bem. Eu vou tentar.

Eu estava no andar de cima e fiquei lá olhando as estrelas, eu gostava de imaginar que duas delas eram minha mãe e minha filha. Eu ainda sentia falta delas, ainda doía lembrar que elas morreram por minha causa e o momento que eu estava vivendo também não estava me ajudando a me animar muito.

- Por que você está fazendo isso? - Palermo perguntou chegando por trás de mim sem eu perceber, o que me fez levar um susto.

- Tem como você parar de aparecer do nada igual uma assombração?

- Você não respondeu a minha pergunta.

- Se você me fizesse o favor de explicar do que você está falando, talvez eu responderia.

- Eu estou falando do plano. Por que você vai se arriscar tanto por causa de um plano? - ele falou gritando.

- Abaixa a voz, você não é merda nenhuma para gritar comigo. Você não manda mais em mim, nunca mandou na verdade.

- Você não pode ir! Manda outra pessoa, você não precisa ir. Deixa isso para alguém realmente preparado.

- Eu não preciso, mas eu vou. Não me subestime, lembre-se que eu comandava assaltos milionários importantíssimos sozinha por um bom tempo, até você chegar e acabar com a minha vida. - falei já estressada.

- Eu acabei com a sua vida? - ele falou dando uma gargalhada. - Você tem o dom de acabar com sua vida sozinha e ainda acabar com a dos outros. Por exemplo agora, participando de um plano que pode te matar.

- Por que você acha que o plano se chama "plano Amsterdã"?

- Talvez porque foi você quem o criou?

- Bom, até que faz sentido. Mas por que você se importa? Achei que você gostasse do Berlin, aliás, bem antes de me conhecer, não é?

- Quem te falou isso?

- Quem me falou é o que menos importa agora. - ficamos em silêncio por alguns segundos e eu falei. - Dessa vez você nem negou. Então todo o tempo que eu passei com você, foi tudo mentira? Você me beijava pensando em outra pessoa? Que aliás é meu irmão... Espera, você já sabia que o Berlin era meu irmão antes da gente te falar, você já sabia desde aquela época?

- Eu vou ser bem sincero com você. Eu sabia sim. O Berlin foi embora, me largou por uma ruiva, eu fui para o Brasil e lá foi que eu soube da existência do seu grupo. Eu conversei com a sua mãe para me juntar a vocês, me aproximei dela e me tornei amiga dela, ela me contou sobre seu pai e me mostrou uma foto dele, por coincidência era o pai do Berlin. Mas eu não imaginava que quando eu te conhecesse eu iria me apaixonar tanto por você. - Eu enxuguei as lágrimas com a manga do macacão e ele continuou. - Eu só pedir para voltar para a Espanha porque o roubo seria aqui, eu ainda tinha esperança que o Berlin voltasse atrás. Eu amo o Berlin, mas eu também amo você, eu não sei como, mas eu amo vocês dois.

Eu não conseguia ouvir uma só palavra do que ele dizia sem querer empurrá-lo lá de cima. Eu estava com raiva, estava triste, eu estava destruída por de todas as maneiras possíveis, a única coisa que me restava era chorar, como forma de colocar tudo o que eu sentia para fora.

- Mentira! Você não ama ninguém. Se você amasse o Berlin de verdade, não ficaria agindo como um adolescente apaixonado que tem vergonha de dizer o que sente. Se você me amasse, não teria voltado para a Espanha na esperança de que o Berlin largasse a esposa para ficar com você. A minha mãe morreu por sua culpa! A Paris também morreu, por sua culpa. Talvez é por isso que você sempre me culpa, porque no fundo você sabe que a culpa foi sua. Você me deixou no momento em que eu mais precisava de você, eu perdi as pessoas que eu mais amava e você foi embora, eu espero que você não fique com ninguém e morra sozinho porque é isso que você merece, você é uma pessoa horrível.

- Você pediu para eu ser sincero e eu fui. Me desculpa se não era isso que você queria ouvir, mas é a verdade.

- Vai embora. - eu falei quase surtando.

- Por favor, não faz isso, eu não quero brigar com você. Se alguma coisa acontecer no plano eu vou me sentir mal para o resto da vida.

- Vai embora, agora! - dessa vez eu falei gritando.

- Se você prefere assim, tudo bem.

Ele foi embora e eu continuei lá. Eu andei até a ponta do prédio para pular, se eu não morresse com a queda, eu seria fuzilada, ou na melhor das hipóteses apenas presa. Não havia mais motivos para eu continuar viva há muito tempo, eu não tinha minha mãe, não tinha minha filha e nem a pessoa que eu amava. Eu morreria de qualquer jeito, só estaria adiantado as coisas. Eu dei uma passo para frente e olhei para baixo, quando finalmente ia pular, senti apenas uma pessoa me puxando para trás me fazendo cair por cima dela.

- Você ficou doida?

Amsterdã- La casa de papel Onde histórias criam vida. Descubra agora