Em meio a escuridão, Pietra sentia que estava afundando lentamente. Não sentia seu corpo; na verdade, era como se não pesasse. Era calmo ali, silencioso, tranquilizante... frio, úmido e... sufocante.
Ela estava se sufocando. Abriu a boca e aspirou junto com o nariz em busca de ar, mas isto só piorou: sentiu as narinas e a garganta serem preenchidas por algo que não era oxigênio. Então, finalmente abriu os olhos e descobriu que estava se afogando em águas profundas.
Desesperadamente, Pietra se debateu, tentando ajeitar seu corpo para uma postura mais ereta o possível. Utilizando os braços, impulsionou-se para cima e, dada a sua força, não demorou para atingir o fim. Com a cabeça para fora da água, puxou o ar até se engasgar, colocando para fora parcialmente o que havia tomado. Rapidamente nadou até a margem e engatinhou sobre a areia vermelha, vomitando o restante da água. Seguidamente, deitou-se fitando o céu esverdeado.
— É... — dizia, ofegante —, era bom demais para ser verdade.
Após conseguir recuperar o restante de seu fôlego, Pietra se ergueu e desejou que nenhum dos idiotas estivessem afundando na água também. Enquanto torcia o cabelo para secá-lo, ela olhou ao redor, novamente reparando na areia vermelha, céu esverdeado, nas árvores de muitos galhos e densamente folheados e também em insetos cascudos que nunca vira antes.
— Definitivamente isso aqui não faz parte do Reino Humano. — Ajeitou o cabelo de uma forma que deixava a franja cobrir seu olho esquerdo antes de descer pelos ombros. — E é bonito e calmo demais para ser o Inferno. — Suspirou. — Estou com um pressentimento muito ruim. Tão ruim quanto as gírias do Aiken.
Com o pensamento de que até mesmo os seres que neste mundo habitavam tinham a água como uma fonte essencial para a vida, ela seguiu o trajeto do leito do rio. Enquanto isso, observava com curiosidade a beleza daquele novo lugar. Haviam árvores onde, até mesmo cinco, entrelaçavam seus trocos e subiam formando uma densa copa, ou desciam, ramificando seus galhos e folhas por entre outras árvores. Os animais que encontrava era de porte pequeno e peludos, com aparências exóticas: pernas a mais, mais que um par de olhos, pelagens coloridas, etc.
Muitos metros caminhados depois, Pietra conseguiu chegar até a foz. Ao pisar sobre o limite da extensão de terra antes da queda da água, ela sentiu-se sobre a borda de uma gigantesca bacia, e ficou completamente maravilhada com a visão que teve.
Ora, em seu lado direito, muitos outros rios ali desaguavam, juntando-se em um único afluente, que posteriormente se ramificaria em muitos outros novamente. Ali, a flora crescia rica, densa e bela por muitos quilômetros, e a fauna era muito presente. Era possível ver cadeias de montanhas com seu pico coberto pelo branco da neve, quase que tocando as nuvens. Em seu lado esquerdo, porém, cascatas de lava caiam densamente em um único afluente, que, assim como os rios, ramificaram-se em diversos outros caminhos. Haviam incontáveis grandes vulcões, sejam eles solitários ou em cadeia, com seus cumes rubros, cuspindo magma e fuligem. O que a mais deixou surpresa foi que ali a fauna e flora também eram presentes: árvores com troncos negros; folhas e flores rubras. Animais com carapaças, e eram tão resistentes ao calor que podiam mergulhar na lava sem problema algum. Entre estas duas extremidades, por uma larga faixa de terra, misturava-se um pouco destes dois ecossistemas, mas nada tão muito rico. Era como se ali delimitava-se o limite entre duas forças, que não aceitavam se misturar. Assomando isto com o céu esverdeado e nuvens cinzentas, fora uma das vistas mais lindas que o Selo já vira em sua longa vinda.
— Cacete — disse, quase em um suspiro. — Como Lúcifer fora capaz de criar isto tudo? É tão belo e o complexo como o Reino dos Humanos... — Em um arrepio, seus pelos se ouriçaram. — Isto me espanta um pouco.
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Os Cinco Selos 2
FantasyContinuação direta de Os Cinco Selos a partir do capítulo 195.