Capítulo 9: Se eu fosse um trouxa, o que faria?

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_ Hermione, estamos andando há mais de uma hora. - Rony reclamou pela sétima vez em menos de dez minutos.
_ Eu sei, Rony. - A menina respondeu sem parar de olhar para os lados. - Precisamos continuar procurando.
_ Você tem razão! - Rony afirmou cabisbaixo. - A culpa foi minha de qualquer maneira.
Assim que Rony e Hermione pousaram na Bélgica após utilizarem uma das chaves de portais, Hermione jurava que ainda estavam sendo perseguidos. Normalmente ela acertava sobre intuições, porém, desta vez estava enganada.
A pessoa pela qual esbarraram bruscamente enquanto atravessavam a enorme rua que estava a sua frente era apenas um trouxa. Um simples trouxa atrasado para sua rotina de trabalho.
_ Perdão, eu estou com um pouco de pressa. - O homem disse nervoso em francês.
Sua maleta havia caído no chão junto com ambas as chaves de portal que Rony carregava. Era quase que impossível que o trouxa não percebesse que estava levando consigo dois objetos no mínimo estranhos para se levar nas mãos. Rony preocupado com o quanto o homem parecia agitado, não notou que ele levara seus portais para longe, muito longe dali. Hermione olhava ao redor preocupada no exato momento em que o homem apanhava suas coisas e retirava-se com pressa.
_ O que foi que ele disse, Hermione?
_ Eu não entendo francês tão bem, mas ele disse "pressa" com certeza. A julgar pelo modo como sumiu de vista rapidamente, provavelmente está atrasado para o trabalho. - Hermione parecia confusa, não acreditando que realmente haviam parado na Bélgica. - Como viemos parar tão perto? Achei que talvez pudéssemos ter ido para Bulgária. Passe-me o chapéu, Ron.
_ Por que Bulgária? - O ruivo fez uma careta amarga. - Eu não quero cruzar com aquele seu amiguinho Krum.
Hermione revirou os olhos impaciente.
_ Pensei que já houvesse superado esse seu ciúmes insano! Agora, passe-me o chapéu. Eu quero dar uma olhada nele para ver se descubro alguma coisa.
Foi nesse instante que repararam que já não estavam com as chaves de portal.
_ Mas... mas... um minuto atrás eu estava com os portais na mão. - Rony explicou sem entender.
_ O trouxa! - Disseram ambos juntos menos de dez segundos depois.
_ Você viu para onde ele foi?
_ Acho que por ali. - Rony apontou para o norte. - Não deve ter ido muito longe, vamos!
Por uma hora, Rony e Hermione andaram o perímetro em que estavam. Entraram em prédios e perguntaram por um homem magrelo de cabelos negros bagunçados, meia altura, com uma maleta e correndo. Contudo, onde quer que fossem a resposta era sempre similar. 'Desculpe, mas ninguém assim passou por aqui.'
_ Tudo bem não encontrá-lo, mas como apenas um homem pode estar com pressa para o trabalho? - Rony perguntou.
_ Eu não acredito que isso está acontecendo. - Hermione encostou-se na coluna de um prédio e fechou os olhos.
Rony encarava a menina sem saber o que dizer ou fazer. Ele estava com fome, não conseguia pensar direito quando estava com fome. Vamos, Rony! Se concentre. Se eu fosse um trouxa, o que faria?
Era uma pergunta boba, mas qualquer pergunta era válida para que tirasse os olhos da lanchonete do outro lado da rua. Estava na hora do almoço, talvez por isso a lanchonete estava tão cheia. O estômago de Rony roncou alto o que o fez por a mão sobre o estômago. Voltando o olhar para a lanchonete identificou por acidente o homem que haviam esbarrado e levado suas coisas.
O ruivo ficou boquiaberto.
_ Hermione, olhe! - A menina abriu os olhos e os direcionou para onde Rony apontava.
_ É ele mesmo, Ron! - A menina disse em um pulo. - Vamos!
Hermione saiu correndo determinada com sua varinha nas mãos por entre os carros que passavam em alta velocidade.
_ Hermione, espere! - Rony berrou assustado ao ver a reação da menina. - Cuidado!
Uma moto que cortava os carros rapidamente a acertaria, se ela não pensasse rápido o suficiente para lançar o feitiço imobilus sobre o motoqueiro.
_ Hermione, você está bem?
_ Estou sim, Rony. - A menina respondeu nervosa. _ Agora corra atrás daquele homem antes que ele suma de novo. Enquanto isso eu conserto essa loucura.
Eles estavam paradas no meio da estrada com um motoqueiro congelado e vários carros parados sem entender o que havia acontecido. Sem contar também com os trouxas curiosos que observavam a cena de longe na calçada.
Rony observou inseguro toda a situação, mas achou melhor não discutir e correu em direção a lanchonete.
Lá estava o trouxa que procuravam. Comia um sanduíche com um suco e tentava ao máximo esticar o pescoço para ver o que acontecia enquanto abocanhava o seu sanduíche.
_ Hann... oi. - Rony aproximou-se. _ Eu espero que você possa me entender. Rony estava com medo de que não soubesse inglês.
_ Claro. - Ele disse sincero. - Aposto que também está tentando ver o que acaba de acontecer ali no meio da estrada.
Rony desviou os olhos rapidamente para onde Hermione se encontrava conversando com um monte de motoristas.
_ Éhhh.... quero dizer, aposto que não foi nada demais. Ahn... ahn... então, você...
_ Espere! A gente não se conhece? Eu tenho quase certeza de que...
_ Sim! - Rony respondeu. _ Você nos esbarrou mais cedo. Acho que estava com pressa, e acidentalmente levou dois objetos que nos pertence.
O homem franziu a testa.
_ Você diz" nos", mas eu só vejo você aqui.
Não era essa a resposta que Rony procurava.
_ Eu e a minha... minha amiga.
O homem abafou uma risadinha de Rony.
_ Ei! - O ruivo se ofendeu. - Do que está rindo?
_ É que você não parece muito convicto sobre sua amiga. Mas tudo bem! - O homem se recompôs. - Não cabe a mim julgar, não é mesmo? Afinal, o que quer comigo?
_ Como eu disse antes, você levou dois objetos na qual eu preciso muito no momento. - Rony o encarava sem piscar tentando detalhar o mínimo possível.
_ Um chapéu e uma bota velha? - O homem gargalhou.
_ Tem um grande valor sentimental, ok?!
_ Se eram coisas tão valiosas assim, por que estava andando com elas pelo o meio da rua?
_ Escuta aqui - o ruivo estava começando a ficar impaciente -, o que eu estou fazendo é apenas da minha conta e eu só quero minhas coisas de volta, por favor.
_ Bem, eu não tenho mais suas coisas. - o homem disse nervoso. - Eu as dei para meu primo que adora coisas medievais e está ensaiando uma peça teatral.
_ O quê?! - O cérebro de Rony começou a doer. - Como você entregou a seu primo?
_ É que ele passou no meu trabalho para me entregar um cartão e foi aí que ele viu os objetos sobre a minha mesa. Ele só tem treze anos, não o culpe.
_ Treze?
As coisas não pareciam estar melhorando, e ao perceber isso o homem levantou-se desesperado puxando um celular de seu bolso.
_ Essa não! Eu preciso voltar para o trabalho.
O homem que era um palmo mais baixo do que Rony fez menção em dar seu primeiro passo para sair dali, contudo Rony prontificou-se a ficar em seu caminho.
_ Sinto muito, mas não posso deixá-lo ir embora. - Rony disse sério.
Talvez se Hermione não tivesse chamando tanta atenção do lado de fora do estabelecimento os dois já teriam um bom público os observando a essa altura.
_ Meu jovem, eu quase perdi o emprego hoje por me atrasar. Tenha bom senso!
Olhando para trás mais uma vez Rony não conseguiu avistar Hermione no meio da confusão.
_ Eu preciso muito daquelas coisas, por que você não me leva até seu primo?
O homem respirou fundo sabendo que não haveria outra escapatória.
_ Tudo bem! - Ele confirmou. - Mas somente depois que eu sair do trabalho. Encontre-me nesse endereço às oito da noite.
Rony apanhou um cartão que o homem retirou de seu terno e estando um pouco mais aliviado deixou que ele seguisse seu caminho.
Virou-se rapidamente para encontrar Hermione e tentar ajudá-la com algo, se possível.
Esbarrou em pelo menos sete pessoas que bloqueavam o caminho, e sem pedir desculpas finalmente avistou a menina. Para sua alegria e surpresa não havia mais um tumulto ao seu redor e nem mesmo um motoqueiro congelado em sua frente. Tudo parecia normal.
_ Vocês são pessoas estranhas! - O homem disse.
_ Que ótimo, você fala inglês! - Hermione comentou feliz. - Onde estão meus modos? Pode me chamar de Hermione.
_ E eu sou Rony, a propósito. - O ruivo lançou um sorriso amarelo.
_ Tudo bem, o que faremos Rony?
Era completamente fora de contexto ver uma Hermione perguntar o que fazer mas para sua sorte Rony sabia o que responder dessa vez.
_ Esse bom homem vai nos levar até o chapéu e a bota às oito da noite neste endereço.
Hermione apanhou o cartão que o menino esticava em sua direção e leu rapidamente. Contudo, ao levantar os olhos percebeu que o homem se fora rapidamente como da última vez.
_ Eu estou começando a achar que ele não gosta muito da gente. - Rony supôs.

Não havia muita coisa que pudessem fazer a não ser esperar pelo horário marcado. Andar pela cidade tentando não chamar mais atenção do que já haviam chamado era a opção mais válida.
Entraram em museus, parques abertos e até mesmo em um shopping center. Comportaram-se como verdadeiros turistas.
_ Hermione, como você desfez toda aquela confusão?
_ Parece que cada vez mais eu me torno melhor em feitiços de memória.
A menina tinha um tom amargo e triste e não se prolongou em dizer mais nada.
Aos poucos, as horas passavam e eles se encaminhavam ao endereço no cartão. Era um prédio alto e com janelas em toda parte que refletia praticamente tudo naquela parte da cidade.
O relógio do outro lado da rua indicava oito horas. Alguns trabalhadores saiam do prédio com feições exaustas e entre eles estava o homem que ainda não sabiam o nome.
_ Por um instante pensei que não viriam. - Ele disse desapontado. - Vocês realmente vão pegar de volta suas coisas?
_ Sim! - Disseram Rony e Hermione juntos.
_ Afinal, onde está? - Hermione estranhou por não ver os objetos em posse do homem.
_ Seu namorado não contou? Está com meu priminho de treze anos.
Não houve tempo para a menina corar. Ela estava furiosa o suficiente para isso. Só não sabia com qual dos dois.
_ Está com um menino de treze anos?
Pela primeira vez o trouxa parecia estar se divertindo com a situação.
_ Vamos lá, você também já teve treze anos!
_ Por que você não me mostra a casa do seu primo? - Hermione tentava manter a calma.
Andaram por aproximadamente vinte minutos até uma casa simples no fim de uma rua mal iluminada. O homem bateu na porta e um garoto cabeludo e com várias espinhas no rosto a abriu.
_ Finalmente, primo Lars! Eu tenho que te contar uma coisa sobre...
_ Calma aí, Hugo! Eu quero que conheça algumas pessoas primeiro. Seus pais ainda não chegaram, certo?
O menino arregalou os olhos ao perceber a presença de Rony e Hermione.
_ Ainda não.
_ Ótimo! Então, vamos todos entrar!
_ Mas Lars, eles são bruxos! - O menino disse com certo receio.
O coração de Rony pulou, Hermione ficou pálida e congelada.
_ Hugo, isso não é hora! Eu estou cansado, só quero resolver logo isso!
Como se o trouxa de repente aprendesse a fazer magia e acabasse de recitar um feitiço, houve um barulho de pessoas aparatando. Dois homens com capas escuras e varinha na mão.
_Sr. Weasley ... Stra. Granger... vocês devem explicações ao ministério da Bélgica. Precisam vir conosco.

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